Crítica do filme A Noite da Virada
A festa mais louca do ano!
Por mais que eu tente recordar qual foi o lugar mais bizarro onde passei o réveillon ou quantas situações absurdas já me aconteceram durante a virada, nenhuma delas supera o verdadeiro caos protagonizado por Ana (Julia Rabello) e Duda (Paulo Tiefenthaler).
Está certo que nessa vida tem tudo quanto é maluquice e a ficção frequentemente aborda o descontrole, expondo histórias em que a situação se torna um buraco quase sem fundo. Mas o nível de surrealismo tem alguns limites que “A Noite da Virada” consegue ultrapassar e seria uma boa sugestão brasileira para a lista de descontroles que o Douglas listou aqui no Café.
Em pleno dia 31, Duda desabafa para a esposa: passará os primeiros dias de janeiro em Canoa Quebrada (praia maravilhosa, localizada no estado do Ceará) e só voltará para pegar seus pertences. Sendo ele um músico quarentão que nunca fez o menor sucesso com sua banda de rock e tão grosseiro no modo de agir, até que Ana superaria facilmente o término do relacionamento.
O problema é que ela convidou mais de cem pessoas para festejar a entrada de 2015 no apartamento e precisará preservar o alto astral da festa sem se abater com a notícia da separação.
Alê (Luana Martau) e o namorado (João Vicente de Castro), que fazem o casal de ninfomaníacos. Mais do que pular ondinhas, os dois “adaptam a mandinga” de modo oportuno aos supersticiosos que passarão a virada longe do litoral: transar sete vezes seguidas! Ué, por que não?!
O casal de vizinhos ricos Rosa (Luana Piovani) e Mario (Marcos Palmeira) também são convidados. Embora sejam donos da maior piscina do bairro, eles se divertem pouco e o marido engomadinho acentua o tédio de uma rotina sem graça, dando legitimidade para a infidelidade de sua esposa. Aliás, a questão conjugal é o tema principal da trama, com esteriótipos típicos de casais que todos nós conhecemos.
Para turbinar a festa, Paulão (Taumaturgo Ferreira) marca presença vendendo suas drogas e cobrando alguns devedores. O traficante tem seu charme e atrai os olhares de Sofia, a irmã da anfitriã interpretada pela atriz Martha Nowill.
O personagem secundário mais engraçado do filme é um traficante (Rodrigo Sant’anna) que fica preso por horas dentro de um banheiro químico suportando a claustrofobia. Só um milagre pode salvar o pobre ateu!
Há também uma dupla de maconheiros que fazem lembrar o clássico “Cheech and Chong” (Juliano Enrico e Daniel Furlan), numa atuação que demonstra pleno domínio dos efeitos causados pela Cannabis sativa. É nessa hora que você flagra quem são os maconheiros da sala de cinema, pois só quem entende a bad trip começa a rir antes de um dos patetas se aprofundar na ansiedade conspiracionista.
Com esse elenco gigantesco (até o Alexandre Frota faz participação especial!), em algum item o diretor Fabio Mendonça precisou economizar. Ajuda o fato do enredo ser baseado na peça "O banheiro” de Pedro Vicente, trazendo o lugar mais privado da casa para o cenário da maioria das cenas. É necessária uma boa história e jogo de câmeras para que as cenas aconteçam em espaços reduzidos.
Ademais, o filme consegue divertir, mas fica a impressão de que também as piadas foram economizadas. O que não vale como ponto negativo, pois talvez com a presença de atores do canal Porta dos Fundos a minha expectativa tenha sido outra. São humores diferentes, de ritmos diferentes para elaboração das situações cômicas.
Ruim mesmo é a trilha sonora, mas confesso que aí é implicância minha com o MC Guimê...