Persona
Curta com autenticidade no suspense tem mensagem impactante
Marque este nome: Dan Albuk. Eis aí um cineasta que esbanja talento no início de sua carreira e mostra empenho também enquanto roteirista. Albuk é o responsável por trás do argumento e da execução do curta-metragem “Persona”.
O título com pouco mais de 6 minutos de duração foi realizado em apenas três dias, mas ganha atenção especial por estar entre os selecionados do Festival 72 Horas do Rio de Janeiro. A primeira exibição para o público será realizada no dia 25 de junho de 2016, no Cine Odeon.
Ao acompanhar algumas imagens prévias do curta-metragem, divulgadas por alguns membros da equipe, fiquei um bocado intrigado com o mistério estampado nas fotografias. As capturas davam um tom bem sinistro, algo que chega a dar uma certa angústia e que, de certa forma, lembra um tanto títulos icônicos do gênero de suspense/terror que marcaram época.
Com um homem mascarado como centro das imagens de divulgação, o filme sugere a temática de assassinatos em série e dá certo desconforto sem precisar fazer esforço. Depois, ao conferir a sinopse, podemos ter uma ideia mais clara do ponto principal abordado no curta-metragem. Confira o resumo:
Um serial killer procura em sua última vítima a forma mais pura de enxergar a pele por baixo das máscaras de todos nós.
Obras sobre homens perigosos, que assombram a sociedade são um tanto comuns, mas não é bem o caso quando falamos de produções brasileiras, que preferem focar em mensagens impactantes, mas aproveitando gêneros com abordagens descomplicadas e um tanto descontraídas.
Dan Albuk, por outro lado, vai na contramão, se mostra empenhado em levar sua mensagem ao público de uma forma ousada, ao apostar numa construção mais sinistra e envolvente. Ele aposta seriamente no suspense e se diferencia com um projeto que, apesar de um tanto conceitual, poderia se alongar para um longa-metragem.
Antes do lançamento, o diretor liberou o vídeo para podermos conferir de perto suas ideias. Abaixo, vou relatar um pouco sobre a minha opinião, sem dar spoilers, claro, pois muitos ainda vão conferir a obra nas mostras que vêm por aí e futuramente na internet.
A narrativa do personagem vagueia entre falas em off e diálogos que ele faz consigo mesmo ao responder por outras pessoas. O tom de voz do ator Rollo (formado em Canto pela Escola de Música Villa-Lobos e cursando bacharelado em Artes Cênicas pela Faculdade da CAL) é propício, uma vez que deixa o público atento ao que ele tem a dizer. A serenidade com que fala também ajuda muito, já que muito da mensagem tem que ser passado somente pelo áudio, uma vez que ele usa máscara.
Uma coisa interessante é que a construção do personagem se dá também pela movimentação. Rollo (que já atuou em filmes como "Line Walker, de Jazz Bonn", e "Sigilo Eterno", de Noilton Nunes) articula muito as mãos e se locomove de forma premeditada, deixando o espectador irrequieto, já que não dá para saber o que ele está tramando. O mais curioso, no entanto, é perceber que algumas falas do serial killer acabam fazendo sentido.
É claro que a ambientação escolhida e projetada com cautela ajuda bastante. Em caminhadas noturnas, nas quais vemos o personagem a vagar pela cidade enquanto divaga, ou em seu quartinho fechado, quando observamos o homem mantendo sua vítima (a atriz Viviane Dias) em cárcere, podemos perceber o cuidado da equipe para estes detalhes.
A fotografia, de responsabilidade de Felipe Santiago Rocha, colabora pontualmente nesse sentido, já que há aqui um planejamento, tanto na disposição de cada elemento, quanto na penumbra, que dá conforto para o serial killer, mas que deixa o público apreensivo ao observar a vítima em desespero.
Tão importante quanto esses quesitos é a trilha sonora, composta originalmente por Danilo Machado Martins. As músicas com predominância nos sons agudos e notas repetitivas também encurralam o espectador nas divagações do personagem.
Com atenção aos pequenos detalhes, “Persona” se constrói de forma ímpar, usando o suspense como base, mas entregando uma mensagem que dá espaço para diferentes pontos de vista. É um ótimo trabalho de Dan Albuk e estamos ansiosos para ver sua próxima obra. Parabéns a todos da equipe e aos artistas que trabalham de forma independente por um cinema brasileiro mais ousado.
“Persona” será exibido ao público no dia 25 de junho de 2016, no Cine Odeon, às 20h.