Relatos do Cinéfilo

Antiguidades e Corujão em tempos de Quarentena

por
Fábio Jordan

01 de Julho de 2020
Fonte da imagem: Divulgação/Fábio Jordão
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Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 7 min

Não é preciso ter um calendário em mãos para se dar conta de que somos reféns de uma pandemia há um tempo que beira à eternidade. Ao menos, para quem está numa quarentena rigorosa desde o começo do surto do coronavírus — lá por meados de março — a percepção da duração das horas, dias e até mesmo dos meses se alterou completamente, de modo que os quase 115 dias parecem quase um ano.

É claro que isso varia de acordo com cada pessoa, mas essa é uma realidade para muitos amigos com quem falei (de forma virtual, é claro) recentemente. O trabalho tomou o espaço do lazer, que, às vezes, é até um tanto culposo, afinal é difícil separar um período exato para os afazeres e não sentir que poderíamos produzir mais. Queremos nos dar uma folga e sabemos que merecemos o tão almejado descanso.

Em meio a tais pensamentos, todas as manhãs, que por vezes, com o sono já desregulado, se misturam com as tardes, nos deparamos com inúmeras notícias calamitosas quanto à situação desenfreada do país, frente a um colapso que parece não ter saída. Mesmo em cidades como Curitiba, que parecia ter o controle da situação, a situação mudou de forma trágica. São os ventos da mudança contaminados por um vírus, desgovernado desde o princípio.

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A saúde mental se esgota, queremos uma pausa. A alternativa mais comum: tirar os olhos da tela do computador e pregar os olhos na tela da televisão. Para driblar o noticiário que parece estar numa repetição de fatos, em que só mudam os números da covid-19 e dos escândalos governamentais, navegamos por todo o catálogo da Netflix, da Amazon Prime Video, da Apple TV+, da HBO. Muitas vezes, não vemos nada, apenas gastamos horas vendo as opções.

Será que vamos ver todos os filmes dos streamings?

Após quase quatro meses de pandemia, os que podem ter esses privilégios já finalizaram dezenas de séries, assistiram o reprise de toda a saga Star Wars, fizeram a maratona de todos os filmes da Marvel e também já viram todos os títulos que viraram trending topics no Twitter. Os serviços de streaming esbanjam conteúdos de alta qualidade, de séries alternativas, passando por filmes conceituados até chegar aos documentários mais necessários.

Os mais antenados já deram conta até mesmo de zerar as opções mais cults. E, às vezes, não importa a quantidade, há casos em que queremos ver títulos específicos, os quais talvez nem existam ou simplesmente não estejam ao nosso alcance. Ao que me parece, a quebra de rotina, esse “novo normal” nos deixou perdidos. Um ponto interessante é que todo esse caos nos fez olhar para atividades alternativas e valorizar antigos hábitos.

Particularmente, o cinema me faz muita falta. Não só pelos lançamentos que eu estava empolgado e planejando ver (ainda me lembro que faltava apenas dois dias para estrear “Um Lugar Silencioso - Parte 2” quando começou a história do coronavírus e o evento foi cancelado), mas a experiência como um todo era uma constante no meu dia a dia — e digo isso, pois não era incomum ir três ou quatro vezes ao cinema na semana.

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É curioso que o fator “novidade” varia de acordo com a perspectiva do espectador e cinéfilos que viram tantos títulos no cinema no ano passado acabam buscando alternativas de consumo. Eu tenho mergulhado em séries (como “Além da Imaginação” e “Arquivo-X”) e filmes antigos (como “Vôo Noturno”, baseado na obra de Stephen King) que estavam na fila de espera, a qual virou prioridade. O problema é que muitas obras não estão nas plataformas, o que apenas faz a coleção de DVDs, Blu-rays e filmes no iTunes aumentar mensalmente.

Outra técnica de consumo que uso é a de temas variados, por exemplo: em junho, que era o mês do cinema nacional, eu resolvi pesquisar e dar vez a mais produções brasileiras. Assim, eu finalmente criei vergonha na cara para ver “Bacurau” e aproveitei para ver “O Animal Cordial”, que estava em promoção e tinha uma premissa do meu interesse. Nessa onda, eu fiquei curioso para ver “MOTORRAD - A Trilha da Morte”, mas acabei não comprando para a coleção.

Resgatando velhos hábitos em tempos de pandemia

Por obra do destino e também por fazer parte do Café com Filme, descobri que a Globo iria transmitir o título na Sessão Corujão do dia 29 de junho de 2020 (que, na verdade, já era dia 30 de junho, dado que o filme estava programado para às 2h35). Esse é um hábito que eu não tinha há anos: ver filmes durante a madrugada. Não que eu durma cedo, longe disso, na quarentena, 4 horas da manhã ainda é cedo, mas eu nem mesmo sintonizei a Globo no último ano.

Era uma noite fria em Curitiba. Após várias cuias de chimarrão, eu ainda preparei mais duas xícaras de chá de capim-cidreira para aquecer as mãos enquanto degustava minha Sessão Corujão. Curti o filme em volume bem baixo para não incomodar o sono dos vizinhos (e também por preguiça de sincronizar os fones de ouvido via Bluetooth). Eu já nem lembrava mais do plim plim da Globo e dos intervalos reduzidos na madrugada, que mal dão tempo de ir ao banheiro.

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Foi uma experiência excelente, não tanto pelo filme que ficou aquém do esperado, mas pela nostalgia. Ainda me lembro de situações em que eu e meu tio assistíamos vários filmes no Intercine e, numa delas, eu cheguei a ligar para votar no meu título favorito. A obra em que votei ganhou, talvez porque naquele dia alguém realmente ligou para eles e houve uma votação — nas demais, provavelmente alguém da Globo escolhia o filme da próxima noite.

Longe de ser uma época que vai deixar saudades, a quarentena ao menos tem servido para momentos de reflexão, como esse enorme texto, que eu finalizei às 3h15 do dia 1º de julho de 2020. Parabéns a você que leu todo o conteúdo, talvez você também esteja buscando conteúdos alternativos e esteja refletindo sobre alguns dos tópicos citados. Aliás, se você chegou até aqui, me conta o que você tem visto de filmes e séries.

Em tempo: este é um texto aleatório que surgiu na quarentena do coronavírus, o qual pode (ou não) fazer parte de uma série de relatos e divagações deste cinéfilo que está produzindo menos do que deveria para o Café com Filme, mas que promete tentar melhorar num futuro próximo. Obrigado a todos que acompanham o site!

Fonte das imagens: Divulgação/Fábio Jordão

Vôo Noturno

O mistério ganha novos ares

Diretor: Mark Pavia
Duração: 94 min
Estreia: 6 / fev / 1998

Bacurau

Faroeste, suspense ou ficção... Um filme brasileiro

Diretor: Juliano Dornelles, Kleber Mendonça Filho
Duração: 131 min
Estreia: 23 / ago / 2019

O Animal Cordial

Dos animais e dos homens

Diretor: Gabriela Amaral Almeida
Duração: 98 min
Estreia: 9 / ago / 2018

MOTORRAD - A Trilha da Morte

Corta giro e dá pipoco!

Diretor: Vicente Amorim
Duração: 92 min
Estreia: 1 / mar / 2018