Crítica A Mansão da Meia-Noite
As Lendas do Terror numa história clássica
“A Mansão da Meia-Noite” é dirigido por Pete Walker, cineasta talvez pouco conhecido para a maioria do público, mas que teve alguns títulos relevantes no gênero, como: “Casa do Pecado Mortal”, “Demência Sinistra” e “Loucura Sangrenta”. Já o roteiro aqui fica por conta de Michael Armstrong, que talvez tenha tido o ápice de sua carreira justamente nesta obra.
O ponto é que a ideia de “A Mansão da Meia-Noite” não surgiu de nenhum deles, mas dos produtores que queriam um filme com os maiores ícones de terror. Assim, Walker e Armstrong ficaram responsáveis em pensar na história, desde que o resultado fosse bom e atendesse esse quesito de ter um elenco expressivo do gênero.
Assim, é importante já alertar que o roteiro aqui não é algo original. Para poupar tempo, eles compraram os direitos da peça teatral “Seven Keys to Baldpate” (lá de 1913), podendo assim usar a história de base e adaptar da forma que achassem melhor. O roteiro então pega elementos-chave de um conto clássico, mas inova de diversas formas.
Em “A Mansão da Meia-Noite”, acompanhamos Kenneth Magee (Desi Arnaz Jr.) em uma aposta: escrever um livro em apenas 24 horas valendo o prêmio de 20 mil dólares. Para tanto, ele vai para a mansão Bllyddpaetwr, local abandonado há 40 anos e ideal para a inspiração. No entanto, a noite que era para ser tranquila pode ser turbulenta com visitas inesperadas.
A Mansão da Meia-Noite vale a pena?
Se você gosta de um bom filme de terror, com aquele ar de antiguidade, cenas que abusam dos jogos de luz e sombras, personagens mais caricatos, trilha sonora caprichada, história cheia de reviravoltas e uma pitada de comédia, devo dizer que “A Mansão da Meia-Noite” é um filme que você não pode perder a chance de adicionar à sua biblioteca de filmes já assistidos.
Importante ressaltar que cada geração é marcada por grandes ícones do cinema, alguns ficam conhecidos por suas performances extraordinárias em determinados gêneros. Este é o caso de Vincent Price, Christopher Lee, Peter Cushing e John Carradine, que, por sinal, compõem o mega elenco de “A Mansão da Meia-Noite”.
Curiosamente, nenhum dos astros deste quarteto lendário é o protagonista desta obra. Quer dizer, eles podem até não ter papéis de longa duração em cena, mas o personagem principal do filme simplesmente fica apagado cada vez que um deles se pronuncia. Não que o roteiro não dê voz para Arnaz, porém é fato que sua atuação é pífia perante os demais gênios. A simples aparição de Vincent Price com um tom sombrio já deixa qualquer um arrepiado.
Pode ser que um pouco dessa impressão que temos do quarteto seja justamente pela longa carreira e suas presenças reforçadas propositalmente no roteiro, mas é inegável que eles são marcantes e sabem muito bem contracenar. É até engraçado, porque eles realmente parecem estar num encontro de amigos (aliás, reunião essa única na história do cinema).
Vale pontuar que “A Mansão da Meia-Noite” é um filme que teve distribuição limitada no Brasil. Assim, é normal que ele seja desconhecido, já que apenas alguns poucos privilegiados que viveram os tempos de Intercine na Rede Globo — e ligavam no 0800 para votar nos filmes favoritos — ou que conseguiram uma cópia em DVD puderam apreciar esta pérola com as lendas do terror.
Por mais despretensioso que seja o roteiro de “A Mansão da Meia-Noite”, ele consegue dar reviravoltas e deixar espaço para à imaginação. São poucos personagens, cenários limitados e diálogos bem pontuais, mas nada disso limita o potencial da história. Mesmo com uma história já conhecida de base, é inegável que Armstrong traz novidades ao desenrolar dos fatos.
Curiosamente, mesmo sendo uma trama pautada no suspense constante e com boas cenas de terror montadas minuciosamente, o script flerta com um tom engraçadinho, algo que se dá tanto pelas conversas propostas quanto pela presença de Desi Arnaz Jr., que pode não ser um expoente do terror ou da comédia, mas que serve bem para o humor da película.
Dessa forma, “A Mansão da Meia-Noite” não é um filme pesado no terror, mas sim uma obra de mistério com um pouco de cada coisa. O horror está muito mais nas nuances das visitas e nas penumbras do casarão que dá nome à película. Contudo, mesmo sendo uma colcha de retalhos, o filme funciona muito bem, divertindo e deixando o público curioso.
Fato é: esse é um daqueles filmes no estilo detetive, em que tentamos descobrir quais são os mistérios, mas que pode acabar com questões em aberto. Aliás, vale apontar: o famoso “Os 7 Suspeitos” (obra inspirada no jogo Clue) saiu depois de “A Mansão da Meia-Noite”. De qualquer forma, no cinema, muita coisa é adaptada, então a inventividade está nos detalhes.
Um pesadelo em cada cômodo!