Crítica do filme 118 Dias
Pensa que é fácil ser jornalista?
Maziar Bahari é um famoso jornalista, dramaturgo, cineasta e ativista de direitos humanos. Nascido no Irã, aos 21 anos foi para o Canadá estudar cinema e ciência política. Ele já produziu importantes documentários para a rede de televisão inglesa Channel 4 e a BBC de Londres, que explicitam questões importantes da cultura e política no oriente médio.
Desde 1998 Bahari é correspondente da revista Newsweek no Irã e justamente por exercer seu ofício, acompanhando as eleições presidenciais em 2009, que ele foi preso a mando das autoridades iranianas. É sobre sua história que o filme 118 dias tenta narrar em mais uma valiosa interpretação do ator Gael Garcia Bernal.
Por conter um enredo que se baseia em fatos reais sobre um país que frequentemente é exposto de modo muito distorcido pela mídia ocidental, é de se desconfiar que o diretor seja o comediante e famoso apresentador Jon Stewart. Entretanto, o objetivo da obra parece presar pela desconstrução de tudo aquilo que se costuma pensar sobre a política no oriente médio.
Há quem diga que o fato de haver um posicionamento crítico bem claro diante da forma de governar adotada por Ahmadinejad faz 118 dias soar tendencioso. Trata-se de um elemento típico em tudo que aborda disputas políticas, confundindo pessoas ingênuas ainda habituadas com a crença em uma suposta imparcialidade artística.
Na verdade, o filme denuncia a violação da democracia num processo eleitoral que sofreu diversas sabotagens e que traz grandes reflexos na conjuntura política até os dias atuais. Nesse contexto, Bahari é representado por um personagem disposto a mostrar para o mundo a falta de legitimidade do ditador que, após eleito de modo claramente suspeito, provoca bastante revolta e insatisfação no povo iraniano.
O jornalista faz registros das opiniões dos militantes e eleitores de dois partidos que dividem o país durante a disputa eleitoral, chegando a conclusão de que um dos lados adota uma postura mais progressista e democrática enquanto que o outro se sustenta no obscurantismo fundamentalista. Todas essas informações são enviadas à mídia ocidental e trazem a ele consequências imediatas, fazendo-o conviver com a censura até ser preso pelas autoridades.
A trama fica empolgante a partir do momento em que Bahari vai para a cela e passa os dias sofrendo a tortura psicológica adotada como estratégia pelos investigadores. Claro que a situação é lamentável, mas chega ao cúmulo do caricato a quantidade de perguntas absurdas que ele é obrigado a responder, tendo que dar satisfação até sobre o mais ingênuo filme de sua coleção de DVDs considerado pornografia pelos policiais.
Os dias passam e a instabilidade emocional toma conta do personagem, que luta dia após dia para preservar a sanidade em meio às lembranças de seu pai perseguido também por razões políticas. A solução encontrada por ele é algo que determina uma mudança significativa no decorrer da narrativa, trazendo mais humor em relatos pecaminosos que colocam em contradição as crenças do policial que o acompanha cotidianamente.
O filme tem um desfecho muito bem humorado, embora deixe o espectador na dúvida se a história real teve de fato uma solução cômica. E talvez o único ponto negativo dessa produção nem esteja nela mesma: trata-se do nosso despreparo, do olhar descuidado e pouco solidário que temos com as notícias que chegam a nós sobre os graves acontecimentos que envolvem a realidade de determinadas regiões do mundo.