Crítica do filme A Colina Escarlate
Suspense inteligente com muita arte
Filmes de fantasmas sempre tendem para clichês, com cenas de sustos e histórias repetitivas. Geralmente, essas obras focam no terror, com abordagens assustadoras sobre algum local sombrio e casos bizarros de mortes.
“A Colina Escarlate” não é esse tipo de filme. O trailer tenta vender uma ideia, mas o próprio diretor e até mesmo a introdução do longa já tentam desvincular esse tipo de conceito, levando a plateia a ter as expectativas alteradas para uma trama mais complexa.
Edith Cushing (Mia Wasikowska) é uma jovem escritora que sonha em ter suas obras levadas aos quatro cantos do mundo, mas tudo muda quando ela se apaixona por um estranho sedutor que a leva para morar numa mansão rodeada de mistério.
A casa fica numa montanha isolada, onde o barro de cor vermelho-sangue jorra do chão. O lugar repleto de segredos vai assombrá-la para sempre, misturando seus sentimentos em trevas e loucura. É ali que ela encontrará a verdade por trás de Colina Escarlate.
“A Colina Escarlate” é um suspense muito acima da média, que entrega uma história com muitos meandros, deixando o espectador compenetrado no desenrolar dos fatos, sempre atento aos mistérios do local assombrado por muitas histórias — que até poderiam dar outros filmes.
No centro da trama, dois personagens roubam a cena: Thomas Sharpe (Tom Hiddleston) e Lucille Sharpe (Jessica Chainstain). Com atuações competentes, os dois são cruciais para adicionar o enigma necessário à obra narrada por Cushing.
Os residentes da mansão dividem espaço com os fantasmas, que são assustadores e conseguem deixar os desavisados mais atentos aos fatos. Os efeitos visuais de qualidade são de suma importância aqui, já que dão consistência à parte mais sinistra do filme. As criaturas lembram um pouco o que vimos em Mama, mas apenas leves referências são aproveitadas.
Apesar de bater repetidamente na tecla do mistério, o filme tem um viés muito dramático, que é tecido em uma colcha de retalhos com recortes de várias histórias relacionadas à colina escarlate. A forma de apresentação de alguns antecedentes pode parecer apressada, mas há aspectos mais importantes colocados em primeiro plano.
A atmosfera de suspense construída em “A Colina Escarlate” se deve principalmente à mente criativa do diretor e roteirista que já nos conquistou com outras tantas obras rodeadas de toques artísticas — o Labirinto do Fauno que o diga.
Neste filme, del Toro prova mais uma vez que é capaz de combinar fatos circunstanciais e visuais de forma atraente. Ambientes envoltos em mistério são o alicerce desta história, mas o visionário por trás deste longa-metragem consegue agregar ainda mais valor ao camarote tensão com uma minúcia de detalhes que deixam o filme mais sinistro.
Cenários dominados pela penumbra, figurinos que se sobressaem em meio a neve, criaturas amedrontadoras, muitos closes e diálogos de uma elegância sem igual ajudam nas pinceladas da obra que equilibram suspense e drama. Talvez, o filme só fica devendo realmente na parte sonora, já que temos aqui o uso de alguns conceitos já batidos.
A meu ver, o diretor também parte para um dinamismo mais chamativo, com cenas mais rápidas e agressivas. Isso se dá tanto no desenrolar de alguns acontecimentos quanto na conclusão, sendo quase impossível não relacionar a pegada mais enérgica com algumas visões similares que vemos em videogames.
“A Colina Escarlate” é um filme para ficar ligado em tudo que acontece. As chances de você sair satisfeito do cinema são grandes, já que o filme amarra bem as pontas e destoa do grande volume de títulos semelhantes que prometem muito e cumprem pouco. Enfim, mais do que recomendado!
Fantasmas são reais