Crítica do filme A Entrevista
이해하지 (Não entendir)
Quando a ameaça de uma guerra nuclear coloca os cidadãos do planeta terra em desespero por causa do lançamento de um filme, podemos deduzir que tem algo de errado com o mundo. Pra quem ficou congelado nos últimos meses aí vai uma pequena atualização dos acontecimentos.
James Franco e Seth Rogen vivem um apresentador e um produtor de um programa de TV, respectivamente. Ao descobrirem que o ditador Kim Jong-un, da Coreia do Norte, é um fã do programa, eles buscam um contato para uma possível entrevista. A dupla acaba conseguindo, mas o que seria a entrevista do século logo se transforma em um transtorno para eles, que são procurados pela CIA para assassinarem o ditador.
Esse filme, por algum motivo, deixou algumas pessoas irritadas ou, na minha opinião, sedentas por uma piada de humor negro, e um grupo de hackers que se autointitulam “Guardiões da Paz”(que segundo a imprensa norte americana, eles agiram em nome do governo da Coreia do Norte) ameaçaram os EUA com atentados terroristas caso o filme fosse lançado. Por isso, “A Entrevista” ganhou um destaque absurdo e a curiosidade mundana tornou esse filme em um dos mais esperados do ano.
Comédia, eles alegam que é a classificação do filme. De fato o é, mas apenas para os que gostam de piadas baixas. Dei sim boas risadas... em duas ou três cenas. Esse é o que me deixou com mais pulga atrás da orelha ainda a respeito de toda essa polêmica. Além do objetivo de matar o líder do país, não é apresentado muita coisa para zoar a Coréia. Assim, o foco das piadas e das “críticas” ficam em cima dos programas de TV, sobre os apresentadores, produtores e equipes televisivas e suas futilidades.
O crítico do jornal inglês “The Guardian”, Lanre Bakare fez um gráfico sobre o conteúdo do filme, e tudo se resume a isso: 5% de pontas com celebridades; 25% de piadas sobre pênis; 25% de piadas sobre ânus; 2% de referências a ‘O senhor dos anéis’, muito depois de isso ter perdido a validade; 20% de sexismo; 3% de Jonah, da série ‘Veep’; 5% de citações constrangedoras de hits do top 40; 10% de sotaques ‘engraçados’; 10% de Seth Rogen encarando com olhos tristes um helicóptero.
Foi muito barulho por nada, e é bem possível que você nem se lembre mais desse filme. Afinal de contas, os acontecimentos que renderam tanto debate, foram no ano passado e depois que ele saiu nos cinemas, pouco se falou e muito foi criticado.
Se filmes ironizando a Coréia do Norte desencadeassem guerras nucleares, isso já teria acontecido a muito tempo. “Team America – Detonando o Mundo” foi um dos primeiros que foram lançados, e esse especificamente é muito mais pesado e irônico do que “A Entrevista”. E se o quesito é ironizar ditadores, vale lembrar do clássico de Charles Chaplin, “O Grande Ditador”. Ou ainda, durante a guerra fria, o que não faltavam eram filmes que do lado americana tiravam sarro da União Soviética, ou do lado comunista zoavam o American Way of Life.
E isso nos faz refletir que filmes satíricos, inteligentes ou não, sempre existiram e sempre vão existir, e guerras não são consequências de piadas leves ou pesadas. Guerras são originadas por intolerância e por preconceito.
O lado bom é que o filme está disponível gratuitamente na internet, e de forma legal. Portanto, você não precisa gastar nenhum centavo, muito menos iniciar uma guerra nuclear pra matar sua curiosidade.
O filme que eles não queriam que você visse