Crítica do filme A Freira
Cê é loka, irmã! Sangue de Jesus tem poder!
E olha só se não é a temporada da profanação chegando aos cinemas. Depois de muita espera, os fãs do universo sobrenatural idealizado lá em 2013 pela Warner ganha um novo capítulo.
“A Freira” é o quinto título que integra o folclore obscuro de “Invocação do Mal”, sendo mais um spin-off (junto com Annabelle) das aventuras paranormais do casal Warren.
No centro desta nova história, temos a criatura demoníaca trajada de freira — apresentada ainda em “Invocação do Mal 2”. Todavia, o enredo aqui não dá continuidade aos fatos deste capítulo lá de 2016, tampouco tenta criar uma conexão direta com os investigadores.
Aproveitando a pegada que já tivemos da boneca amaldiçoada, os idealizadores de “A Freira” (incluindo o já renomado James Wan) optaram por desenvolver uma história do zero — até porque estamos falando de uma criatura que apareceu no filme e não tinha um background definido na época.
O hype foi grande desde a primeira imagem da produção e aumentou exponencialmente com a divulgação do trailer. E, também, é claro que os fãs do terror, tendo visto os episódios até aqui, já tinham a certeza de que o resultado seria excepcional. No entanto, um conselho de amigo já neste primeiro momento: não vá com muita sede ao poço amaldiçoado.
A verdade é que “A Freira” é assustador em sua essência — principalmente pela concepção da criatura e de todo o misticismo que a cerca —, mas que talvez fique levemente aquém do esperado no quesito convicção, por conta de uma história um tanto enevoada. É um filme imperdível para os aficionados pelo gênero, porém há algumas ressalvas nessa missa.
Não sei se vocês repararam nos filmes recentes de terror, mas muitos títulos têm usado táticas para conseguir driblar a tecnologia e facilitar o clima de tensão. Afinal, se você pode acender a luz, usar um celular pra chamar a polícia — que já vai chegar e mandar chumbo grosso nos demônios — ou mesmo pegar um carro e sair no pinote, o medo já cai por água benta abaixo.
Aí, para facilitar nesse sentido e ainda pra desenrolar melhor uma história de origem, os responsáveis pelo roteiro de “A Freira” voltaram algumas décadas no tempo e optaram por terras longínquas na Romênia. Nesse cenário, a gente acompanha o suicídio de uma freira que vive enclausurada numa abadia, situação que será investigada pelos protagonistas do filme.
No centro dessa história, a gente tem o padre Burke, que, seguindo as orientações do vaticano, leva a jovem e inocente Irmã Irene — que ainda está prestes a fazer seus votos finais — para investigar o caso. A dinâmica do filme é bem dividida entre os dois, mas é interessante como a garota tem um peso muito mais importante no decorrer dos eventos.
As atuações são convincentes, mas, novamente, o destaque fica para Taissa Farmiga (Irene), a qual se mostra muito mais expressiva e faz a ponte para o público sofrer um impacto muito maior. Demián Bichir não deixa a desejar, porém se mostra mais tímido, talvez também por conta do seu personagem. Agora, algo muito infeliz, é a presença de Jonas Bloquet, que está aqui sumariamente para fazer graça, destoando de tudo que a gente podia esperar no filme.
Integra o time, de forma muito importante, a própria Freira e suas irmãs. Falando especialmente da peça-chave do filme, temos aqui um misto de atuação em cena e fora de cena. Muitas das vezes, a Freira aparece sutilmente como uma sombra ou em meio a penumbra, sendo que suas aparições contribuem com o que mais gostamos neste tipo de filme: medo em sua pura forma.
É bom a gente comentar aqui como é interessante ver essa mudança de uma personalidade habitualmente abençoada para uma criatura diabólica. O contraste entre bem e mal numa mesma figura é impressionante, pois o simples fato de vermos qualquer uma das freiras já nos dá calafrios. E nesse sentido, todas as integrantes do convento são fundamentais na trama.
A concepção do personagem principal certamente foi o que mais demandou tempo (e dinheiro) nessa produção. E ainda bem que gastaram bons trocados nisso, pois toda a construção do personagem — o que inclui aí a maquiagem e os efeitos especiais — é o que mais chama atenção durante os noventa e poucos minutos da película.
A criatura maligna se esconde em qualquer canto e não perde uma chance de levar o nosso coração ao limite. Inclusive, eis aqui outro acerto do filme: fotografia. É notável que “A Freira” é muito dependente desse jogo de luz e sombra. Tanto é que as circunstâncias do roteiro apelam muito para cenas com velas e ocasiões de pouca luz.
Há também um apelo constante para a presença de névoa, algo que deixa um mistério no ar e nos faz questionar constantemente a sanidade dos personagens — e também a nossa. Tudo muito bem pensado e funcional para manter o suspense a todo instante.
Paralelamente, a gente tem um design de som coerente, que abusa dos cenários claustrofóbicos do castelo, mas que não perde a chance de usar um cemitério e algumas sinetas para ecoar o clima de tensão em nossa cabeça. A trilha sonora talvez seja um tanto simplista, mas não deixa de cumprir seu papel.
No fim do dia, apesar de um esforço colaborativo do elenco e da construção funcional do terror em muitas cenas, o maior tombo de “A Freira” está nos tropeços do roteiro, que fica dando voltas desnecessárias, focando em frivolidades e apelando demais para o famoso jump scare. O script parece meio perdido, sem saber para onde ir e optando por recursos bem relaxados.
Particularmente, eu esperava algo muito mais elaborado no roteiro e, sinceramente, a eliminação total e completa do clima de humor — não existe qualquer razão de ter esse lado num filme desse tipo. Além disso, eu tenho a certeza plena que um terror mais psicológico, com uma pegada mais ousada, deixaria o resultado muito mais assustador.
De qualquer forma, a gente tem aqui um longa-metragem razoável para os fãs, mas quem sabe um novo capítulo possa ser mais tenebroso. Boa sorte para quem for assistir ao filme nos cinemas. Levem seus crucifixos, bíblias e água benta.
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E vai quebrando senhor toda maldição e em nome de Jesus vai caindo por terra toda potestade e intercede deus de mistério quebra toda feitiçaria e todo poder e glória aleluia jesus e olha deus fazendo a obra recebaaa!