Critica do filme A Menina e o Leão
Coragem, o leão covarde
Apesar de ser uma prática comum na África do Sul, e totalmente legalizada, a controversa “caça enlatada” vem chamando a atenção de grupos defensores dos direitos dos animais e dos legisladores sul-africanos. Fazendas criam animais selvagem apenas para serem abatidos por caçadores no que é um dos negócios mais lucrativos da África do Sul.
Recentemente, o Congresso Mundial de Conservação — que reúne representantes de governos, ativistas, cientistas e empresários — pediu que atividade seja banida. Por outro lado, os donos das reservas afirmam que suas fazendas são uma alternativa à caça ilegal de animais selvagens e ainda auxiliam na manutenção da espécie com reproduções em cativeiro.
Em 2013 um documento apontava que restaram apenas 645 leões em estado selvagem na África Ocidental e Central. Afirmando ainda que a espécie já estava extinta em 25 nações africanas, correndo o risco de extinção em outras dez, os números não melhoraram muito desde então, e a ONU declara que os leões africanos tiveram uma redução de 40% em apenas 20 anos.
Nesse contexto, é fácil entender como A Menina e o Leão consegue comover sem fazer muito esforço. O diretor Gilles de Maistre tenta conscientizar e entreter, mas parece não se esforçar o suficiente para elevar a produção, entregando assim um filme mediano que apesar de abordar temas interessantes não faz muito barulho.
Mia Owen é uma garota de dez anos de idade que tem sua vida virada de cabeça para baixo quando sua família deixa Londres para administrar uma fazenda de leões na África do Sul. Sem amigos e isolada do mundo, Mia está cada vez mais rebelde, até que um lindo leão branco, Charlie, nasce na fazenda.
Mia reencontra a felicidade e desenvolve um vínculo especial com o filhote, no entanto, quando Charlie chega aos três anos, a vida de Mia é abalada mais uma vez quando ela descobre um segredo perturbador. Perturbada pelo pensamento de que Charlie poderia estar em perigo e sem saber em quem confiar, Mia decide guiar o animal até uma reserva, na qual ele poderá viver livre.
Menina e o Leão pode ter problemas (mais técnicos do que em termos do trabalho do elenco), mas aos poucos vai se tornando um filme completamente capaz de entregar emoção e reflexão através da jovem Mia (Daniah De Villiers) e do leão branco Charlie. Boa parte da execução crível desta amizade se dá por conta da produção ter sido realizada ao longo de três anos, tempo suficiente para um elo entre a atriz e o animal selvagem ser criado.
A trama não é nada inovadora e é executada de uma maneira ineficaz. O espectador é jogado no meio da história, que tem pressa em apresentar todos seus personagens, mas não se preocupa criar contexto para tudo e quem mais sofre com essa pressa é justamente o relacionamento de Charlie e Mia.
O ponto central da trama é justamente como os dois criam um vínculo que, supostamente, supera até os instintos mais selvagens do animal. No entanto, para o espectador é difícil aceitar que tal relação floresce tão espontaneamente como sugerido pela montagem do filme. Saltos temporais mostram o felino indo de filhote a jovem adulto minando todo o desenvolvimento de Mia e da própria família que desenvolve tramas paralelas importantes.
Sem muita explicação descobrimos que o irmão mais velho de Mia tem problemas psicológicos — lutando contra ansiedade —, enquanto a moral do pai passa a ser questionada por conta de seus parceiros comerciais. Como tudo é apressado, e o foco é quase que exclusivo em Mia e Charlie, nunca desenvolvemos a devida empatia pelos demais personagens.
Independentemente, há de se louvar o trabalho da jovem Daniah De Villiers (que interpreta Mia), O filme foi rodado ao longo de três anos para que a garota tivesse tempo suficiente para de fato desenvolver uma ligação com o animal. Supervisionada por Kevin Richardson — famoso e controverso sul-africano criador de leões e outros animais selvagens — as interações entre De Villiers e os animais são genuínas e o ponto alto do filme.
Mesmo com um palanque medíocre a mensagem permanece forte!
A Menina e o Leão não possui grandes qualidades técnicas, a fotografia não explora em nada os exuberantes cenários africanos, a trilha sonora é pouco inspirada e até mesmo o elenco — que conta com a excelente Mélanie Laurent (Bastardos Inglórios) — é subutilizado. Mesmo assim, sem qualquer esforço, ainda temos um filme para toda família que passa uma mensagem forte sobre a situação dos leões e outros animais selvagens em risco de extinção.
A amizade é uma aventura selvagem