Critica do filme A Noite do Jogo

Que comecem os jogos!

por
Carlos Augusto Ferraro

10 de Maio de 2018
Fonte da imagem: Divulgação/Warner Bros. Pictures
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 5 min

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Você pode até não saber, mas certamente já conhece o trabalho de Jonathan Goldstein e John Francis Daley. A dupla que assina a direção de A Noite do Jogo andou bem ocupada nos últimos anos e, ao que tudo indica, deve ganhar ainda mais fama no futuro próximo, haja vista que já estão escalados para “salvar” o filme do Flash para o universo cinematográfico da DC. Além de assinar o roteiro de produções bem sucedidas como os dois filmes da série Quero Matar Meu Chefe, a animação Tá Chovendo Hambúrguer 2, e Homem-Aranha: De Volta ao Lar, a dupla também comandou todo o “reboot” de Férias Frustradas, que apesar de não ter chamado tanta atenção deixou bem claro o estilo de direção, escrita e humor dos dois. 

Apostando no riso por meio da observação do absurdo, Goldstein e Daley — que também já deixou sua marca à frente das câmeras no excelente Aborrecentes (Freaks & Geeks) — entendem de comédia como poucos. Além de saberem os tempos de cada piada, oriundas do roteiro sagaz de Mark Perez, os diretores se esforçam na parte “cinematográfica”, entregando um produto final muito mais interessante do que um mero empilhamento de anedotas e referências pop forçadas.

Com um uso criativo da câmera e uma condução muito hábil do elenco, a dupla dinâmica acerta em cheio em A Noite do Jogo, apresentando um filme ágil, engraçado e envolvente. Mesmo com a roupagem de uma genuína comédia de ação, o filme também funciona como uma comédia romântica bem diferente do usual, além de temperar tudo com algumas boas pitadas de drama.

Peças do tabuleiro

Rachel McAdams e Jason Bateman estão em seu habitat natural. McAdams já provou repetidas vezes que não devemos engessá-la como Regina George. Seu desempenho em dramas como Gente de Sorte e Intrigas de Estado, mostram que a atriz não se resume a comédias e romances. No entanto, em A Noite do Jogo vemos sua comicidade em alto estilo, aproveitando deixas e utilizando seu carisma para explorar o absurdo das situações, a atriz consegue arrancar risadas mesmo em cenários grotescos.

Enquanto isso, Bateman comprova que, mesmo explorando suas habilidades dramáticas, é na comédia que ele brilha mais intensamente. Usando seu estilo característico, patenteado na série Arrested Development e nos filmes Quero Matar Meu Chefe, o ator aposta na entrega sóbria de comentários sarcásticos em momentos ridículos.

O resto do elenco de apoio também merece destaque, especialmente Jesse Plemons (o Todd do seriado Breaking Bad). Na pele de um policial sinistro ele entrega as cenas mais desconfortavelmente engraçadas do filme.

De quem é a vez?

O jogo da vida

O estilo suburbano estadunidense, de fachadas bem cuidadas e casais perfeitos, é um personagem tão importante quanto qualquer outro em A Noite do Jogo. Max e Annie são duas pessoas incrivelmente competitivas que se apaixonam no momento em que se reconhecem um no outro. Casados, os dois são o ponto focal do grupo de amigos que se reúne semanalmente para uma noite de jogos, comida, e outras traquinagens típicas da classe média-alta estadunidense.

No jogo da vida, parece que Max e Annie estão na liderança do placar. Entretanto, nem todas as peças estão no tabuleiro e logo descobrimos que Brooks (Kyle Chandler), o irmão mais velho de Max, é o queridinho de todos. Bem sucedido, bonito e totalmente alheio às regras, Brooks chega à cidade e desperta todos os sentimentos de rivalidade em seu irmãozinho Max. 

Os diretores movem os atores pelo roteiro, com a maestria de quem já conhece muito bem as regras do jogo

Sempre em disputa velada, a relação dos irmãos eleva o que poderia ser uma simples comédia para um filme inteligente que aposta em personagens multidimensionais e não apenas em fantoches que entregam suas piadas sem qualquer desenvolvimento emocional. Sem entregar muito da trama, basta dizer que o filme se transforma em uma espécie de versão cômica de Vidas em Jogo (David Fincher). Seguindo a mesma premissa do excelente suspense de Fincher, A Noite do Jogo apresenta reviravoltas e muita ação, ao mesmo tempo em que explora seus personagens.

A Noite do jogo é uma ótima pedida em um tabuleiro repleto de armadilhas. Entre tantas comédias desprovidas de essência, Jonathan Goldstein e John Francis Daley conseguem entregar um filme consistente, engraçado e estremamente ágil.

Fonte das imagens: Divulgação/Warner Bros. Pictures

A Noite do Jogo

Quem não sabe brincar, não desce pro play!

Diretor: John Francis Daley, Jonathan Goldstein
Duração: 93 min
Estreia: 10 / mai / 2018