Crítica do filme A Vida em Si

Um imprevisível caleidoscópio de emoções

por
Fábio Jordan

06 de Dezembro de 2018
Fonte da imagem: Divulgação/Paris Filmes
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 7 min

☕ Home 💬 Críticas 🎭 Drama

Os seres humanos são seres muito complicados, principalmente pelo fator humano envolvido. Faz tempo que livros, filmes, séries, jogos e outras tantas mídias tentam sintetizar o que é, de fato, ser humano, mas a gama infinita de indivíduos e as inúmeras abordagens possíveis fazem com que jamais tenhamos uma noção real do que somos — ainda que no fundo nos achemos incrivelmente bem resolvidos e donos de nossa razão.

Fato é que os humanos só existem dentro de relações, sejam com familiares, pares amorosos ou consigo mesmos. É por isso que tantos autores tentam decifrar e trazer mais um pouco de humanidade para o debate. Nesse sentido, um dos nomes mais importantes nas obras fictícias é Dan Fogelman, criador da série This is Us (que eu carinhosamente apelidei de “Nóis na fita”), obra que trata justamente das dificuldades que todos temos em nossas vidas.

Bom, mas o que a série tem a ver com o filme? Tudo, pois ainda que não declarada, “A Vida em Si” vem para ser uma versão longa-metragem da série. Então são os mesmos personagens? Não, porém a premissa de desenvolver histórias mais humanas e suas relações interpessoais é verdadeira no filme, o que faz desta obra uma zona de conforto para os fãs da série. E para quem não conhece? Nesse caso, o filme ainda tem muito a agregar e vou comentar a seguir.

avidaemsi01 acb4e

No centro da história, temos o relacionamento de Will (Oscar Isaac) e Abby (Olivia Wilde), que estão prestes a construir uma família. O enredo segue através de décadas e países, mostrando como eventos ordinários podem conectar as pessoas e como isso pode mudar completamente o rumo das coisas — mais ou menos numa espécie de Efeito Borboleta. Ainda que um tanto óbvio em alguns quesitos, “A Vida em Si” se apresenta como um pontapé para o debate.

Acontece na vida, acontece nos filmes

É importante ressaltar aos espectadores que esperam acontecimentos inusitados, que, apesar de algumas surpresas, os eventos aqui não são nada de outro mundo. Há vários personagens comuns, com suas respectivas conquistas, derrotas, alegrias e tristezas. Para uma obra até não tão delongada, “A Vida em Si” consegue se aprofundar em questões que vão além de amor, passando por educação, profissão e cotidiano.

O roteirista consegue desenrolar as particularidades de cada protagonista, o que faz de cada um indivíduo. Todavia, mesmo que as ocasiões sejam únicas, fica claro que os exemplos dados são claramente viáveis no mundo real, dando a entender que o idealizador da obra buscava não apenas levar uma ficção ao público, porém histórias que muitos da plateia já vivenciaram. Então, qualquer coincidência não é mera semelhança.

avidaemsi02 8558a

Todo o drama vivido pelo casal principal nos deixa muito ansiosos para descobrir a verdade por trás da história não-linear, que, por vezes, até conta com narradores como Samuel L. Jackson. E, apesar de assertivo em inúmeras passagens — assim como a vida, com seus altos e baixos —, o roteiro de “A Vida em Si” tem suas previsibilidades. Dan Fogelman é capaz de nos ludibriar por uns bons períodos, mas a história acaba ficando um tanto óbvia.

Inclusive, vale mencionar que, talvez, um quesito que pode incomodar os espectadores mais vorazes por um drama profundo seja o fato de o filme querer se explicar e dar voltas constantemente, como se o público precisasse de alguém segurando sua mão para mostrar algo incrivelmente surpreendente. Ok, de fato, “A Vida em Si” tem suas surpresas, mas também há um toque de ficção que grita: olha essa lição, se liga nesse debate.

Precisamos falar sobre a vida

Enfim, deixemos os detalhes sobre condução de história de lado e vamos falar do que importa: a mágica do cinema. Ainda que a direção mais intimista seja importante aqui com as cenas repletas de zooms, quem faz a história acontecer é o elenco muito bem selecionado. Apesar de alguns personagens serem negligenciados, eu vejo que o script consegue dar espaço para a maioria e os atores são excepcionais em suas representações.

É claro que Oscar Isaac, Olivia Wilde e ainda mais Antonio Banderas são figurinhas carimbadas que roubam as cenas, mas há uma gama de estrelas menos conhecidas, como Sergio Peris-Mencheta, Laia Costa, Mandy Patinkin e Àlex Monner que conseguem nos convencer do aspecto mais humano — talvez até por entregar mais simplicidade em seus personagens.

avidaemsi03 0dc0b

Importante pontuar aqui que, apesar de ter essa “simplicidade” na interpretação, isso não deve ser considerado como algo raso ou vazio. Aliás, simples não é uma palavra que cabe neste filme, já que todos os relacionamentos são pautados no amor, que, obviamente, tem inúmeras facetas e gera situações bastante dramáticas, que se desdobram por várias gerações. A emoção rola solta, ainda mais com a trilha original de Federico Jusid, que força as lágrimas em momentos cruciais.

Eis, inclusive, um aspecto um tanto curioso de “A Vida em Si”: debate. Fica claro que o autor da película quis propor esse diálogo entre os personagens e levá-lo também para o público já nos primeiros instantes de filme, algo que deixa a experiência ainda mais interessante. É quase inevitável não comentar algo após os créditos, pois nós ficamos nos questionando sobre as relações da ficção, bem como de outras tantas (como as nossas próprias) que apresentam similaridades.

No fim do dia, Dan Fogelman constrói uma história um tanto forçada, mas a gente vai para o cinema já esperando isso, né? Por isso, aproveite a sessão, a pipoca e as reflexões. O agora é passageiro. O amanhã pode não chegar. Viva intensamente!

Fonte das imagens: Divulgação/Paris Filmes

A Vida em Si

A vida é a energia que trazemos a ela

Diretor: Dan Fogelman
Duração: 117 min
Estreia: 6 / Dez / 2018