Crítica do filme Alfa
Um menino e seu cachorro
Keda (Kodi Smit-McPhee) é o filho do líder de uma tribo de homens (pelo recorte de 20.000 anos atrás, muito provavelmente um grupo Cro-Magnon do Paleolítico Superior). Em um mundo duro no qual “somente os fortes sobrevivem” o rapaz atravessa os ritos de passagem da maturidade que devem formar o herdeiro da liderança do bando.
No entanto, diferente de seus companheiros, Keda não apresenta a mesma aspereza dos outros, tirando sua força do “coração” e não dá brutalidade. Durante sua iniciação em uma caçada em grupo, o rapaz acaba sendo jogado de um penhasco por uma manada de bisões e é dado como morto por seus companheiros.
Agora, ferido e longe de sua família, o jovem deve empreender uma “incrível jornada” de volta para casa, mas ele não estará sozinho ao longo do seu caminho. Ao cruzar com um lobo, igualmente machucado e isolado de sua alcatéia, os dois formam uma aliança que transformará para sempre as suas vidas e a história da humanidade.
Todos os problemas de Alfa, e são vários, não impedem Albert Hughes de entregar um filme leve que evoca toda a diversão pueril típica dos filmes “família” das matinês. O roteiro, previsível e arrastado, é compensado por visuais belos e empolgantes.
Se visualmente Albert Hughes se esforça para trazer uma linguagem arrojada, o diretor simplesmente abdica de qualquer “inovação” na hora de amarrar o roteiro (assinado por Daniele Sebastian Wiedenhaup) com os visuais exuberantes.
Talvez Hughes deveria ter tirado algumas lições de Jean-Jacques Annaud e seu maravilhoso épico pré-histórico “A Guerra do Fogo”, e ter buscado outras formas de comunicação para passar sua mensagem - mesmo que as “ferramentas linguísticas” do Paleolítico Superior serem mais desenvolvidas -, fugindo assim de diálogos desnecessários, e piegas.
Os poucos diálogos, compostos quase que exclusivamente de frases de efeito que parecem saídas diretamente dos pôsteres de divulgação, revelam a superficialidade da narrativa. Hughes mostra algum talento na direção. Apoiado na fotografia de Martin Gschlacht, o diretor trabalha bem os planos e os ângulos para mostrar toda a beleza do mundo e a fragilidade do protagonista. O uso inteligente da câmera lenta também entrega cenas estilizadas e cinematograficamente empolgantes.
A trama, com uma pegada realista/naturalista à lá Jack London - traçando paralelos entre homem e fera, natureza e civilização - tem elementos interessantes. Infelizmente as falhas narrativas acabam entregando uma história superficial que nunca alcança seu potencial.
Parafraseando o jovem Morty (da animação Rick e Morty) as histórias deveriam começar do início e não no momento em que elas ficam interessantes. O primeiro ato se estende demais, com um flashback que rouba tempo do que realmente importa, a jornada de Keda e Alfa, seja ela literal (retornando para casa) ou figurativa (de crescimento).
Longe de se equiparar a clássicos como “Caninos Brancos”, ou até mesmo o recente “O Regresso”, Alfa faz um trabalho decente em tentar contar uma história batida em um cenário diferente. A jornada de volta para a casa está recheada de clichês, que não elevam o gênero, mas se encaixam no formato juvenil, próprio dos contos de fada, com a evolução física e emocional do herói.
No final, Alfa é uma boa desculpa para quem quer comer um balde de pipoca
No melhor estilo “um garoto e seu cachorro” de tantos outros filmes “família”, Alfa faz a lição de casa, mesmo que erre algumas tarefas. A história é pobre e a direção não compensa essa superficialidade da trama, mesmo assim, Albert Hughes apresenta um filme “fechado” que agrada sem impressionar.