Crítica do filme Assassin's Creed
É preciso dar um salto de fé!
Adaptações cinematográficas de games sempre geram desconfiança, dado o grande histórico de filmes que deram muito errado. E com “Assassin's Creed” não foi diferente, já que as notas no Rotten Tomatoes deixaram muita gente com um pé atrás.
Felizmente, nem tudo é tão trágico quanto parece. Aliás, não vá muito na onda dos críticos mais xaropes. A adaptação para as telonas do jogo da Ubisoft tem sim alguns tropeços, mas, no geral, o filme entrega muitas cenas de ação, bons efeitos e um roteiro até empolgante.
Na história de “Assassin's Creed”, que por sinal difere de todas aquelas já apresentadas nos games, acompanhamos um pouco da vida corrida de Callum Lynch (Michael Fassbender), que, obrigado pela companhia Abstergo, embarca numa viagem através do tempo.
Graças a uma tecnologia revolucionária capaz de explorar o DNA e “destravar memórias”, Lynch é levado ao passado, quando ele consegue explorar as memórias de Aguilar, seu ancestral que viveu na Espanha do século XV.
Seu objetivo? Descobrir a localização de uma relíquia que esteve em posse de uma sociedade secreta, um objeto que contém mistérios capazes de mudar completamente o futuro da humanidade. Rodeado de ambição, tentado por seus instintos, Lynch é o único capaz de enxergar a verdade e tentar desvendar os planos desta misteriosa organização.
A sinopse de “Assassin's Creed” é clara no que diz respeito à construção da trama, com dicas sobre uma viagem pontuada em dois tempos: presente e passado. Nesse quesito, o filme se desenvolve de forma similar aos jogos, já que apresenta toda a trama da grande corporação no presente e um tanto do contexto histórico.
Apesar de não ser muito convincente, a história do filme até consegue ser coerente. O presente é um tanto tedioso, mas a pauta é vaga em sua maior parte. Todavia, o que há de enfadonho numa parte é compensado pela fantástica viagem ao passado, que é executada de forma instigante.
O roteiro é de responsabilidade de Michael Lesslie, Adam Cooper e Bill Collage. O trio é especialista em filmes épicos, então nada mais óbvio do que ter grandes acertos nas viagens ao passado. O contexto histórico da Inquisição Espanhola é bem apresentado e deixa a plateia empolgada com os carrascos da época.
Um recurso que ajuda bastante na decolagem do roteiro é a forma como a história é contada de forma paralela. Várias cenas são executadas com muita teatralidade no passado e movimentos sincronizados nas máquinas do presente. Ok, há um repeteco considerável de ideias, porém é preciso pensar que o filme foi pensado num público além dos gamers.
Aliás, toda a adrenalina nos cenários da Madrid de 1492 deixa o filme muito mais intenso. O ritmo, por sinal, é frenético do começo até o final, com muitas cenas de combate, perseguição e poucos diálogos — até porque Fassbender não é um grande falante do espanhol. De qualquer forma, a trama é satisfatória no todo, apesar de não ter muitas surpresas.
Pois bem, apesar de não ser extremamente fiel aos games, o longa dirigido por Justin Kurzel (que já trabalhou com Fassbender em “Macbeth: Ambição e Guerra”) tem boas ideias, que funcionam legal na telona e passam uma boa sensação de viagem através do Animus — a famigerada máquina de reconstrução de memórias.
Ainda que as sequências no passado sejam reduzidas, elas são de suma importância para dar o ritmo do filme. Com manobras de parkour insanas, piruletas para todos os lados, acrobacias em equipe e outros truques baratos, o filme ganha a plateia com facilidade. Não há como não ficar empolgado com a correria que lembra muito a jogabilidade do game.
Nesse ponto, toda a construção da Espanha antiga, com direito a uma fotografia caprichada e incrivelmente coerente com os games, acaba funcionando perfeitamente. Os lances de câmera que se movimentam livremente junto com a águia e dão grandes passeios aéreos em 360 graus também ajudam a levar o espírito da franquia para o cinema.
Todavia, é bom alertar: isto é um filme, não um jogo. Por se tratar de uma obra inédita, o primeiro “Assassin's Creed” tem a missão de apresentar personagens, tecnologias, tramas e outros aspectos que servirão de base para que mesmo aqueles que jamais ouviram falar do título possam entender os mínimos detalhes.
Essa pegada diferente pode ser um pouco esquisita para alguns fãs, mas deve funcionar muito bem para o grande público que espera um filmão de ação com bons efeitos e muita tecnologia, tanto na frente das câmeras quanto nos bastidores. Aliás, é na parte técnica que “Assassin's Creed” ganha pontos extras.
Fato é que não há como reclamar da parte da produção. Com muita atenção aos cenários, ao figurino e à maquiagem, a obra convence facilmente na parte mais futurista, com direito a máquinas showcantes, e também na confecção das cenas antigas. Há de ressaltar também que um grande acerto é a trilha sonora, empolgante e belíssima do começo ao fim.
O elenco também se mostra bastante competente, principalmente Michael Fassbender e Marion Cotillard, que já são atores gabaritados e conseguem incorporar a ideia principal do Credo dos Assassinos. E, no fim, “Assassin's Creed” acaba sendo bem melhor do que a gente espera. Uma boa pedida para fãs e pessoas que não conhecem a série. Basta dar um salto de fé!