Crítica do filme Beatriz
A fantasia da submissão
por
Nicole Lopes
Do livro para a vida real, o romance brasileiro e português “Beatriz” de Alberto Graça ultrapassa as fronteiras da ficção e embarca em uma aventura dramática pela sedução e as fragilidades do amor. Com um ritmo confuso e atuações intensas, o diretor provoca o espectador ao levantar o questionamento: o que você faria por amor?
Para a protagonista Beatriz (Marjorie Estiano), musa inspiradora do escritor e seu atual namorado Marcelo (Sérgio Guizé), ela chegaria à beira de um abismo emocional e ficcional para viver a sua história de amor.
Após receber a visita de Luis Ibarra (Xavier Estévez), renomado editor de livros, Marcelo começa a desenvolver o seus segundo romance inspirado em seu namoro. Instigada pela história, Beatriz divide a sua vida de advogada com a personagem literária criada por seu namorado. Nesta duplicidade, a protagonista começa a vivenciar os mais diferentes desejos carnais e comprometedores.
Porém, à medida que Beatriz busca alimentar a criatividade de seu namorado a relação entre os dois são colocados a prova e tornado-se cada vez mais perigosa e abusiva.
Em busca de trazer uma linguagem poética ao longa, o diretor Alberto Graça (O Dia da Caça) conta a história de Beatriz em duas perspectiva diferentes: a visão da própria protagonista e a visão de Marcelo, que é representada de forma teatral no filme. Nessa mistura de linguagens, Graça trabalha os principais elementos que vivem em torno da temática da paixão e sofrimento: possessão, ciúmes, sedução e desejos.
O uso de poemas escritos em diferentes momentos, a inserção de cenas teatrais e discursos vívidos faz com que o filme transite do drama para suspense psicológico. Com um roteiro belíssimo sobre as fragilidades que existem em torno do ato de amar, Graça invoca uma reflexão sobre relacionamentos e o que podemos fazer para manter ele vivo.
Contudo, a preocupação por mostrar a submissão feminina reforça a ideia de fantasia sexual e apaga a principal tese em volta do romance: a masculinidade tóxica presente na relação de Beatriz e Marcelo. Além de que para ambientar a vida dupla de Beatriz, o longa se perde na subjetividade e torna confusa a construção narrativa, o que dificulta na fundamentação das ações que ocorrem com a protagonista, que sempre está no papel de docilidade.
Um filme que questiona a moralidade dos relacionamentos e coloca em cheque o que definimos e realizamos pela paixão. Com um roteiro elegante, mas sem querer pautar assuntos relevantes, o espectador é levado ao abismo que existe entre a paixão e a dor.