Crítica do filme Caçadores de Emoção
Tão pretensioso quanto o protagonista
Nos últimos anos, parece que a indústria cinematográfica – ênfase na norte-americana – mergulhou em uma maré de nostalgia e falta de criatividade. É olhar a programação do cinema e constatar a falta de roteiros originais e a grande quantidade de remakes ou novos episódios de sagas antigas. "Caçadores de Emoção: Além do Limite" é mais um que chega para engrossar esse caldo.
O filme é uma releitura do Caçadores de Emoção (de 1991), que trazia Patrick Swayze, Keanu Reeves e Gary Busey no elenco, e que se consagrou como o filme em que os surfistas roubavam usando máscaras com os rostos dos ex-presidentes dos Estados Unidos. Um verdadeiro – e muito querido – clássico dos anos 90! Já a nova produção é dirigida por Ericson Core e traz alguns nomes ainda não muito proeminentes – Edgar Ramírez, Luke Bracey, Ray Winstone.
Em comum com o primeiro filme, no entanto, apenas o plot e os nomes dos protagonistas. As mudanças já começam na trajetória dos personagens. Na nova produção, Johnny Utah é um jovem radical que vira agente do FBI depois de perder um amigo durante uma de suas incursões de moto pelas montanhas.
Em seus primeiros dias como agente em treinamento, ele percebe um padrão entre crimes cometidos em diferentes lugares do mundo – menino prodígio, não? Ele então convence um dos diretores do FBI de que o único jeito de descobrir quem são esses caras e impedi-los de saírem por aí bancando o Robin Hood da modernidade é ele mesmo trabalhar infiltrado no meio dessa galera.
É muito difícil avaliar um remake sem comparar o original. Para se diferenciar do primeiro, Caçadores de Emoção: Além do Limite aposta em recursos que não estavam disponíveis na década de 90. A qualidade da imagem ao captar os cenários estonteantes é um dos méritos neste sentido. São incluídas outras locações além das praias e isso dá um visual lindo para o filme. Outra investida é a inserção de mais cenas radicais de muita adrenalina. E, nesse sentido, o 3D dá uma ajudinha.
Mesmo assim, nem a bela fotografia, nem as locações maravilhosas – e caríssimas – salvam o novo Point Break. Diálogos cheios de frases de efeito, mas sem muito sentido, ampliação da ambientação que faz com que algumas coisas não tenham lógica dentro do roteiro e atuação fraca dos atores vão afastando o filme da qualidade do primeiro.
Deu até um pouco de pena do venezuelano Édgar Ramírez, que teve a responsa de calçar os sapatos do Patrick Swayze e interpretar o Bodhi, um personagem complexo e conflituoso. Luke Bracey também não se destaca no papel de Utah, que na refilmagem é um moleque traumatizado que usa o FBI como escape, mas que não consegue tirar o pé do acelerador.
Como era de se esperar em uma produção do gênero, o filme traz até um breve romancezinho entre o protagonista e a jovem Samsara, tão sem graça que a atriz Teresa Palmer deve ter sentido saudades do namorado zumbi. O papel dela é insignificante dentro da trama, poderia facilmente ser retirado sem perda nenhuma para a história. Outro personagem bastante central na produção original e que é quase apagado na nova película é o do agente Angelo Pappas, que dá as caras em uma ou outra cena – embora o Ray Winstone tenha mandado bem nas poucas ocasiões em que aparece.
O principal problema de "Caçadores de Emoção: Além do Limite", é que ele realmente passa dos limites. É muito pretensioso das mudanças que faz no roteiro original – que é simples, mas funciona bem e conduz o público a um conflito entre o sistema opressor e os caras que querem ser donos do próprio destino. Ele tira os modestos surfistas de sua realidade centrada em apenas uma praia e faz os personagens rodarem o mundo atrás de um projeto megalomaníaco de completar oito desafios sobre-humanos, os Oito de Ozaki, que fazem o Iron Man parecer brincadeira de criança.
O problema de tentar elevar o patamar dessa forma é que algumas coisas param de fazer sentido. O próprio engajamento idealista dos tais caçadores de emoção são exemplo disso. Os mesmos jovens que querem devolver à Mãe Terra o que a gente vem sugando dela sem dó nem piedade nos últimos anos, acham está tudo bem curtir umas festas riquíssimas em um iate, custeados por um empresário multimilionário. E isso não é apresentado de maneira conflituosa nem é questionado, apenas está ali, posto na história.
Se você busca um filme que une um bom roteiro, personagens complexos e coerentes, porém divertidos, e cenas de emoção mais verossímeis, recomendo correr atrás do Caçadores de Emoção de 1991, mesmo. Agora, se a sua vibe são as sequências de manobras radicais, saltos mortais, quedas assustadoras e aquele medinho de que todo mundo vai morrer a qualquer momento, ou ainda, se você curte um filme acelerado em 3D e um visual digno de wallpaper do Windows, vá em frente em Além do Limite.
A única lei que importa é a da gravidade