Crítica do filme Cinquenta Tons Mais Escuros
Uma comédia acidental
No ano passado, os branquelas Wayans lançaram uma semgracíssima paródia da franquia 50 Tons, chamada "Cinquenta Tons de Preto" - um péssimo trocadilho com a cor da pele dos protagonistas, inclusive. Se eles soubessem que o segundo filme oficial desse universo penderia tanto para o humorístico, talvez nem tivessem se arriscado.
Pois bem, agora em fevereiro estreou nos cinemas brasileiros o segundo longa-metragem, "Cinquenta Tons Mais Escuros", que chega com a intenção de se enquadrar no gênero de Romance Erótico meio drama meio suspense, mas que, ao invés de excitação, só consegue arrancar algumas risadas da plateia. Vem comigo que eu explico os motivos!
Anastasia Steele (Dakota Johnson) está decidida a não mais abrir brechas na sua vida para Christian Grey (Jamie Dornan), o milionário que conquistou seu coração, mas que tem ~gostos estranhos. Quanto tempo ela conseguiria resistir aos seus encantos? Pois bem, não muito mais do que o intervalo entre um filme e outro.
E é assim, com uma nova abordagem, que ele promete reconquistar o coração e a confiança da moçoila, logo no começo do longa-metragem. Mas, dessa vez, ela não vai mais aceitar assinar um contrato e ceder a tantas regras que ele impõe ao relacionamento.
"Cinquenta Tons Mais Escuros" nos mostra uma Anastasia muito menos tímida e muito menos inocente do que a que conhecemos no começo da história anterior, já inserida no mercado de trabalho e atuando como assistende um importante editor, Jack Hyde (Eric Johnson).
Dessa vez, Dakota Johnson e Jamie Dornan parecem estar muito mais confortáveis em seus papeis. Não sei se se acostumaram com o estigma dos personagens ou se era essa a intenção, mas toda aquela sensação de estranheza que ambos pareciam ter está bem menos evidente neste filme.
A sintonia entre os dois melhora bastante de um filme para o outro, o que é um dos poucos pontos positivos desse longa. Aliás, o elenco é um dos aspectos que contribuem para que a franquia vá bem junto ao público. Menção especial para a participação de Kim Basinger e Marcia Gay Harden, duas atrizes veteranas que mostram uma atuação de qualidade e experiência.
Outros nomes "embelezam" a produção, como é o caso de Rita Ora, Bella Heathcote, Luke Grimes e Victor Rasuk, jovens e promissores talentos que podem muito bem estar sendo revelados pela franquia.
Que Christian Grey nada no dinheiro não é segredo pra ninguém, e fazer uma produção que retrate um estilo de vida milionário não é lá muito fácil se você tiver um baixo orçamento. É claro que isso não é um problema pra essa galera que faturou mais de 166 milhões de dólares no ano passado com o primeiro filme.
Com um budget inicial de 55 milhões de dólares, foi moleza para a produção de "Cinquenta Tons Mais Escuros" manter um grande cuidado com a riqueza de detalhes na construção dos ambientes e nos figurinos, em um verdadeiro desfile de carros de luxo e mansões de altíssimo padrão que não deixam nada a desejar.
A trilha sonora também não fica devendo em nada com relação ao primeiro, que também tinha a musicalidade como um grande ponto positivo - quem não lembra daquela incrível versão de Crazy in Love, da Beyoncé, preparada especialmente para o filme?
Mas, se em diversos aspectos o longa está bem bacana, o roteiro, coitado, segue sofrendo com os mesmos problemas de antes: cheio de falhas e conveniências.
Vá até uma livraria, pegue o livro "Cinquenta Tons de Cinza", abra aleatoriamente e leia uma passagem qualquer. É bem possível e provável que o trecho que você ler já vai ter mais safadezas, relatadas de um jeito muito mais vulgar, do que tudo o que já foi dito na versão cinematográfica.
O que me parece desses dois longas é que Hollywood não deu o aval pra que o filme fosse feito do jeito que se queria, então eles até colocam uma ou outra putaria ali nomeio, mas é muito mais um relacionamento abusivo romanceado do que "dirty".
Sabe quando sua mãe bate do dedinho no canto da parede, dói pra caralho, mas ela solta um "droga" ao invés de um "puta que pariu"? Então, "Cinquenta Tons Mais Escuros" - ou, eu diria, toda a franquia 50 tons - é a mãe falando "droga" achando que está falando um mega palavrão.
Isso sem falar nas tantas conveniências e coincidências que fazem com que você se pergunte diversas vezes "é possível, senhor?". A gente já sabe que a família Grey vive na ilha da fantasia dos marajás e que algumas coisas que acontecem no maravilhoso mundo dos endinheirados estão além da nossa compreensão, mas sabem quando força a barra?
Além disso, mas não menos importante, tem a questão do abuso. Os roteiristas até que tentam empoderar um pouco a protagonista inserindo uma ou outra cena em que ela consegue se impor frente ao homem que a diminui. Mas essas cenas parecem agir muito mais como um "cala a boca" para quem criticou isso num primeiro momento, do que como uma forma de repensar a história de fato.
Além disso, corre-se o risco de passar uma mensagem muito equivocada para o público - especialmente o feminino. Uma que diz às mulheres que está tudo bem manter-se e insistir em um relacionamento abusivo que a anula, porque esse cara um dia vai mudar por você. E essa mensagem, senhoras e senhores, pode ser muito mais perigosa do que os jogos sensuais que se ensaia em "Cinquenta Tons Mais Escuros".
Eles têm um novo acordo, mas nem todos querem os dois juntos