Crítica do filme Decisão de Risco
Dilemas na guerra ao terror
Todos os dias, inocentes em várias regiões do mundo sofrem – e muitas vezes pagam com suas vidas – nas mãos de extremistas que praticam o terrorismo. As motivações são as mais absurdas possíveis, as consequências de ações brutais são irreparáveis.
Neste mesmo cenário, do outro lado da história, temos a presença dos governantes e militares que, geralmente, de forma cruel tentam pagar na mesma moeda e evitar que os atos inconsequentes dos terroristas acabem com ainda mais vidas.
Casos como a história do filme “Decisão de Risco” já são bem comuns, quando vemos os bonzinhos encurralados por armadilhas cruéis. Neste longa-metragem, acompanhamos a história da Coronel Powell (Helen Mirren, de “A 100 passos de um Sonho”), que se vê em um beco em saída.
Após anos perseguindo alguns dos terroristas mais perigosos, ela finalmente tem a oportunidade de capturá-los. Acontece que a história muda completamente quando ela percebe que os criminosos podem estar se preparando para um atentado. A cada segundo, a situação fica mais tensa, o que piora quando a vida de uma garotinha está em jogo.
Em tempos que filmes com Gerard Butler dominam as telonas com corridas desenfreadas, tiroteios insanos e tramas mirabolantes, a chegada de um longa-metragem como “Decisão de Risco” acaba, com o perdão do trocadilho, caindo como uma bomba na cara do espectador.
A perspectiva aqui não é a do herói salvador da pátria, que enfrenta uma multidão e sai ileso do combate, mas da guerra à distância, se aproveitando de inúmeras tecnologias recentes para conferir os movimentos do inimigo sem precisar colocar soldados em risco.
O nome original do filme (“Eyes in the Sky” ou “Olhos no Céu”), inclusive, denota essa questão diferenciada na abordagem. Usando um veículo pilotado remotamente (que sobrevoa a região de uma altura considerável) com câmeras da mais alta qualidade, o exército americano consegue monitorar as atividades dos terroristas e, claro, ainda possui armas para tomar providências em casos de ameaças.
Só que a guerra não é protagonizada apenas a distância. O cenário principal desta história é uma pequena cidade na África, onde vemos outra perspectiva da guerra ao terror. O local habitado por um povo que passa por muitas necessidades e oprimido por milícias é o palco para mostrar como o povo se sente em meio a tal conflito. São duas formas diferentes e válidas de abordar o tema.
O filme ainda ressalta a questão dos soldados em campo que dedicam suas vidas para um serviço arriscado. Aqui temos apenas personagens (como Jama Farah, interpretado por Barkhad Abdi), mas na vida real teríamos pessoas de verdade, que, apesar de apresentarem valor imensurável no cumprimento da missão, são apenas peças num jogo de tabuleiro para grandes nações.
Apesar de o roteiro andar sob o comando de Helen Mirren, o filme é bem cadenciado, alternando cada pauta entre vários personagens. Ainda entre os chefes do exército norte-americano, temos a presença do General Frank Benson (o saudoso Alan Rickman em uma de suas últimas performances).
Rickman é peça-chave no desenrolar da história e mostra que nem tudo está nas mãos do exército. Na verdade, “Decisão de Risco” vem para mostrar que, muitas vezes, a resolução das guerras está nas mãos de políticos, que apenas dão a autorização para executar as missões. O resultado é um joguinho de vai e vem com opiniões de pessoas que não fazem ideia do que se passa em campo.
Há sim aqui alguns especialistas que se importam com a questão dos direitos humanos, dos danos às nações mais fracas, das questões de não deixar transparecer a fraqueza frente ao terror, mas o filme esclarece que nem tudo é tão simples quanto parece e ressalta que a politicagem apenas brinca com a vida de inocentes.
“Decisão de Risco” é um filme tenso em vários momentos, com uma trilha sonora competente, elenco de ponta (incluindo Aaron Paul, de “Need for Speed”), direção competente e um roteiro que acaba sendo bem dramático, tanto pela história fictícia quanto pela representação de cenários reais. É uma visão diferente, mas que vale ser conferida para averiguar outras perspectivas desse assunto delicado.
Uma guerra cada vez mais próxima...