Crítica do filme Extinção
Melhor “Jair” acostumando!
Como toda boa ficção científica, Extinção é uma daquelas histórias que faz você pensar sobre o futuro e contemplar o presente. A história simple que mostra um pai protegendo a sua família em meio a uma invasão alienígena, esconde algo muito mais assustador, muito mais próximo da realidade do que o termo ficção sugere.
A nova adição ao catálogo da Netflix, produzido originalmente pela Universal Pictures para um lançamento nos cinemas em janeiro de 2019, é um acerto calculado da gigante do streaming. Com uma produção mediana, o filme nunca passaria pelo crivo ácido do espectador de cinema acostumado com arrasa quarteirões do gênero.
Com um elenco interessante e um roteiro excepcional, Extinção consegue superar muitas das falhas de produção e direção que limitam o potencial da película. Assim, no melhor estilo “meia, pijama e Netflix”, Extinção agrada muito mais como um programa modesto do que como uma mega produção.
É difícil falar sobre a história de Extinção sem tocar na grande reviravolta da trama que se dá no meio do segundo ato. O roteiro é sem sombra de dúvida do ponto mais forte do filme. Assinado pelo trio, Spenser Cohen, Brad Kane e Eric Heisserer — este último também responsável pelo ótimo, A Chegada — o filme acompanha a história de Peter (Michael Peña), um homem simples que tem pesadelos recorrentes com uma invasão alienígena.
A simples navegação da ansiedade do protagonista, que vê o perigo e não se sente apto para proteger sua família, já renderia uma produção interessante, haja vista filmes como O Abrigo, ou até mesmo a refilmagem de A Guerra dos Mundos. Todavia, é a reviravolta do segundo ato que realmente entrega o ouro da história. Sem entrar em detalhes para não estragar nenhuma surpresa, basta dizer que a ameaça é muito mais real e próxima do que imaginamos.
A escolha de Michael Pena como um protagonista de ação pode parecer estranho, mas se torna exponencialmente brilhante conforme a história se desenrola. Além disso, o ator também quebra o estereótipo de alívio cômico mostrando a amplitude do seu talento com uma atuação contida e inteligênte.
Por sinal, ao seu lado está Lizzy Caplan, que encarna Alice, a esposa de Peter. A atriz, que já conhece bem o gênero tendo estrelado Cloverfiled: Monstro, entrega uma atuação sólida e comovente, sendo que o mesmo vale para Amelia Crouch, que dá vida a Hanna, a filha mais velha do casal.
Extinção poderia ter chamado mais atenção nos cinemas, mas no formato final apresentado isso seria viável. A falta de ousadia, ou melhor, a falta de posicionamento estilístico do diretor Ben Young compromete muito da apreciação completa do filme.
Ao não ser arrojado nas cenas de ação e não se aprofundar suficiente nos momentos dramáticos, o diretor não dá o espaço necessário para o filme crescer. Assim, Extinção se perde nos momentos de transição e não oferece todo seu potencial em nenhum dos “pólos”, seja nos momentos de ação – pouco elaborados — ou nas cenas de drama, pouco trabalhadas.
Esse é apenas o segundo longa de Young, que mesmo contando com a fotografia de Pedro Luque (de O Homem nas Trevas e a refilmagem de A Morte do Demônio), não consegue se definir dentro da película. Aliado essa falta de identidade cinematográfica, a produção ainda tem que lidar efeitos especiais de qualidade inconsistente.
Apesar da direção pouco inspirada de Ben Young, o elenco principal entrega atuações emotivas e consistentes que conferem um grau ainda maior de relevância para a história. Como dito anteriormente, a surpresa do segundo ato muda o tom do filme, imbuindo a narrativa de uma crítica social indigesta. Em um formato próprio da ficção científica, a realidade azeda é transformada em parábola para apontar seus absurdos.
Em tempos de Trump e Bolsonaro, Extinção é um sutilíssimo tapa na cara dos intolerantes.
Extinção é um filme mediano, com uma história acima da média. Se não fosse pelo roteiro bem amarrado, com uma reviravolta inteligente, seria apenas mais uma produção “esquecível” do extenso catálogo da Netflix. Fazendo o que a ficção científica faz de melhor, esbofetear a cara do espectador, o filme deve agradar aos fãs do gênero, entregando o que promete sem muito alarde.