Crítica do filme Fantasmas
Mistérios sem muitos critérios
Eu adoro um bom suspense com pitadas de terror, o que me motiva a embarcar em sugestões de filmes — sejam novos ou velhos — com algum tom de mistério.
Foi numa dessas conversas sobre títulos marcantes do gênero que minha querida namorada sugeriu de darmos uma chance pra uma obra cheia de mistérios, lá de 1998, chamada “Fantasmas”.
Com Ben Affleck, Liev Schreiber e Peter O’Toole no elenco e uma história sobre toda uma população que desapareceu da noite para o dia, este longa já tinha motivos de sobra para me prender a atenção, mas as maiores surpresas vieram mesmo no desenrolar da coisa.
O roteiro conta a história de duas irmãs, Lisa (Rose McGowan) e Jennifer (Joanna Going), que resolvem passar uns dias na cidade de Snowfield. Ao chegar lá, elas se deparam com uma cidade vazia, onde sobrou apenas alguns cadáveres — que morreram de formas inusitadas — e três policiais, que não são necessariamente os melhores detetives do mundo.
Com uma abordagem no melhor estilo video game, “Fantasmas” avança de um “mistério um tanto simples” para uma grande ameaça. Os protagonistas não são os mais gabaritados para resolução do caso, o que aumenta a sensação de impotência e deixa a trama apropriada para mais momentos assustadores. Embarque no trem da curiosidade e vamos falar mais do filme.
Não há dúvidas de que “Fantasmas” é um filme deveras curioso para a época em que foi lançado, ainda mais para espectadores que têm uma grande bagagem de experiências com jogos. É inevitável ver o filme e não ligar algumas cenas com a construção de sequências similares com as de games como “Resident Evil” ou “Silent Hill”.
A história de Dean Koontz não necessariamente toma como base os roteiros dos jogos (até porque alguns saíram depois do filme), mas a direção de Joe Chappelle tem alguma semelhança com os video games. Isso não é bom ou ruim do ponto de vista de filmagem, mas é um fator que contribui positivamente para o desenrolar da história de suspense e terror.
O estopim que dá fogo para todo o mistério que vem na sequência é importante, mas certamente é a fotografia caprichada — com direito a muita névoa, ambientes com iluminação precária e cenários antigos — que dá o tom para o roteiro impressionar a plateia. Isso somado, é claro, à trilha cheia de nuances, a qual deixa o espectador bastante apreensivo.
Apesar de ser um filme datado, a maquiagem e os efeitos da época não são de todo ruim. Com direito a criaturas bizarras e cenas fortes que chocam pelo nível de nojeira, o longa faz questão de estampar os perigos que residem em Snowfield. Há referências óbvias a filmes como “Enigma de Outro Mundo”, mas isso não é de forma alguma prejudicial.
Entra em cena também os personagens (com atuações razoáveis) que dão consistência à investigação. Ben Affleck em toda sua jovialidade é o maior destaque, sendo um policial destemido e xereta. As irmãs que estão de passagem pela cidade também trabalham legal, ainda mais por transmitirem o medo de quem jamais imaginaria enfrentar tamanhas ameaças.
Se por um lado, o roteiro de “Fantasmas” acerta no ponto do suspense, com toda essa atmosfera bem construída, por outro, ele acaba tropeçando nas próprias características que apresenta como base. Isso não desmoraliza a construção geral da trama, mas certamente deixa o espectador um tanto espantado com a mudança repentina no tom de abordagem.
O filme começa como um grande mistério, cheio de cenas assustadoras e um clima de enigma constante. Todavia, após avançar um tanto e ter uma lógica a ser seguida, a pegada do script tende muito mais para ação e nojeira, do que para o terror genuíno que poderia ser desenvolvido aqui.
Ok, nem toda história tem os requisitos básicos para ser um grande terror, mas aqui havia o potencial para tal desenvolvimento do horror pautado no suspense. Dá a impressão de que o roteirista não sabia continuar o mistério e amarrou as pontas como deu para chegar ao clímax.
A história de “Fantasmas” pode funcionar e ser compreendida, porém é válido ressaltar que o filme demora em dar explicações, sendo que os mais atentos podem questionar várias coisas antes de elas serem devidamente resolvidas pelo roteiro. Um bom filme de suspense no geral, ainda mais pelo vilão que é surpreendente (e rende debate), mas não espere nada genial ou de outro mundo, já que algumas ideias são recicladas.
Por séculos pensamos que a ameaça viria de cima