Crítica do filme First They Killed My Father

Genocídio não é coisa de criança

por
Lu Belin

20 de Setembro de 2017
Fonte da imagem: Divulgação/Netflix
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 5 min

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Quem é a primeira pessoa que vem na cabeça quando a gente fala de filme com viés humanitário? Ela mesma, Angelina Jolie. Então não é surpresa quando um filme sobre uma menina que vive em plena guerra civil no Cambodja seja não apenas dirigido, mas também co-roteirizado e co-produzido por ela.

Já selecionado como representante do Cambodja na corrida pelo Oscar 2018, o longa-metragem biográfico de Loung Ung chegou ao Brasil diretamente à Netflix, por quem foi produzida, no maior estilo "Beasts of no Nation".

Com o olhar sensível e já bem conhecido da Angelina, não será surpresa se o filme realmente levar embora a estatueta, pois contém os elementos favoritos da Academia. Vem comigo que eu te conto quais.

Pobreza e sofrimento

Mostrar um conflito longo e sangrento por meio do olhar de uma criança inocente é o grande trunfo de "First They Killed My Father: A Daughter of Cambodia Remembers".

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Se já é difícil para um adulto se situar no meio de uma guerra e lidar com a total desconstrução daquilo tudo que lhe era familiar e que ela considerava como parte da sua vida, imagine então para uma menina de sete anos.
E é justamente essa confusão, as dúvidas e os medos que vemos refletidos nos olhos negros da atriz mirim Sareum Srey Moch.

Com roteiro adaptado da biografia da própria Loung Ung, o longa-metragem é bastante fiel às recordações da protagonista, e se passa em meados da década de 70, quando o exército vermelho Angkar, numa tentativa de implantação de um governo comunista, invade a cidade de Phnom Penh, em que Loung mora com os pais e mais seis irmãos, após a retirada dos soldados norte-americanos.

Todos são então obrigados a deixar suas casas e migrar para campos de trabalho forçado.

Fidelidade

Além de contar uma história de não-ficção, "First They Killed My Father" tem também um outro mérito que sempre agrada a Academia: nem uma única palavra do filme é dita em inglês, e umas poucas são trocadas em francês.

Em um belo trabalho de casting e direção, Angelina Jolie trabalhou unicamente com atores nascidos no Cambodja e que falam o idioma original do país, o Khmer.

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Além disso, ela contou também com a colaboração e com os relatos de outras pessoas que vivenciaram o genocídio e a guerra, na busca por tornar o retrato do período mais fiel e cheio de detalhes, que estão todos na película a partir da visão de Lung. O que se comia nessa fase, como se tomava banho, como eram as casas, onde se escondiam seus pertences mais preciosos e como eram as estratégias de recrutamento dos guerrilheiros... tudo está ali, de um jeito ingênuo e curioso, como uma criança o veria.

O uso de cores, silêncios e músicas que remetem às memórias da primeira infância da protagonista é feito com maestria pela diretora para reforçar essa perspectiva. As lembranças e a imaginação são quase mais vívidos do que a própria realidade e às vezes até parecem ser de verdade.

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Nesse sentido, a narrativa em câmera lenta, os closes, os jogos de luz e sombra e a ausência quase completa de trilha sonora são recursos muito bem utilizados para contar a história.

Incoerências ou genialidade?

Apesar de toda a sensibilidade e relevância com que repassa a sua mensagem, no entanto, "First They Killed My Father" sofre do mesmo mal que "À Beira Mar", também dirigido pela Angelina: na tentativa de ser profundo e conceitual, fica cansativo e sem clímax.

Com um ritmo constante e lento, a história demora um pouco até engatar, mas na verdade nunca engata exatamente da forma como você estava esperando. É um daqueles casos em que você não sabe se o filme inteiro é um clímax ou se ele simplesmente não existe.

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O mesmo ocorre com alguns pontos da história, em que você fica se perguntando se perdeu alguma coisa, se ficou mesmo faltando alguma coisa ou se você simplesmente não entendeu. E, claro, Hollywood adora filmes com esse tipo de pegada.

Talvez esses pontos sejam apenas marcas do estilo da diretora, mas convenhamos que isso faz com que o filme se torne quase sempre inacessível para o grande público e prejudica a receptividade de maneira geral, o que é uma pena, pois são histórias que merecem ser vistas por muito mais gente do que o júri do Oscar.

Fonte das imagens: Divulgação/Netflix

First They Killed My Father

Os horrores do comunismo

Diretor: Angelina Jolie
Duração: 136 min
Estreia: 15 / set / 2017
Lu Belin

Eu queria ser a Julianne Moore.