Crítica do filme Han Solo
Sozinho nas estrelas
A indústria do cinema é muito gananciosa. Basta uma oportunidade de fazer milhões para que os produtores logo assinem contratos para inúmeras sequências — muitas vezes até sem se importar com a reputação de uma franquia ou com o público-alvo.
Isto é mais ou menos o que está acontecendo com Star Wars desde que a Disney teve a “brilhante” ideia de adquirir a Lucas Arts e fazer ainda mais dinheiros. O universo que havia conquistado uma legião de fãs nos seis primeiros filmes logo ganhou mais uma trilogia e novos filmes derivados.
Particularmente, eu acho válido expandir um universo que pode ter tanto a levar aos espectadores, mas é inevitável criticar a tomada de ideias um tanto duvidosa dos roteiristas. Primeiro, a gente teve um repeteco de ideias em “O Despertar da Força”. E, mais recentemente, um buraco negro de furos e decepções em “Os Últimos Jedi”.
Agora, além dos tropeços na saga clássica, a galera da Disney resolveu adicionar várias novidades em histórias paralelas e pouco relevantes para a trama principal. O objetivo principal parece ser um fan service, mas não dá para negar que isso nem sempre funciona — eu mesmo achei “Rogue One” uma verdadeira pisada na bola.
Com pouco tempo entre os últimos títulos, e também com o tombo do oitavo episódio, a Disney acabou não se atentando às datas de outros lançamentos (como o engraçadíssimo Deadpool 2) e só jogou Han Solo nas telonas. Os números das bilheterias deixam claro o desinteresse dos fãs, mas fica a dúvida: o filme presta? Ele realmente tem uma razão de existir?
A resposta direta é: o filme é legal, mas ele não agrega nada de extraordinário para a trama principal — o que é óbvio, dado que a saga original se sustentava sozinha. O ponto é que “Han Solo” tem um roteiro fraco, principalmente pelo protagonista, que não tem a força que a Disney acreditava, então o resultado é um filme de ação, não uma história Star Wars.
O universo de Guerra nas Estrelas já teve várias histórias importantes desenvolvidas ao longo dos tantos filmes, mas é curioso a Disney dar importância para o Han Solo, que apesar de seus feitos e o carinho do público, não é exatamente um personagem-chave. Quem se importa como ele ganhou esse nome? O que muda saber como ele conseguiu a Millenium Falcon?
Talvez é justamente por não se questionar coisas simples como esta que a companhia acabou dando de cara com um descrédito do público. Como você deve imaginar pelo título, a história de “Han Solo: Uma História de Star Wars” é focada num único personagem, algo inédito para uma série que sempre teve vários protagonistas e múltiplas frentes nos enredos.
A sensação é de um filme alheio ao universo, como um título de um herói que se comporta como um cowboy com mais sorte do que juízo ao enfrentar toda a galáxia. E, dada a semelhança entre Alden Ehrenreich e Harrison Ford, é fácil se confundir num primeiro momento e pensar que este é mais um Blade Runner — sério, há muitos elementos de cenário e enredo que enganam.
Nada disso é um demérito ao filme, sendo que a ação e a história até que combinam legal. Não, eu não estou dizendo que “Han Solo: Uma História Star Wars” tem um roteiro perfeito, aliás, muito longe disso, tá cheio de clichês e decisões fracas no script. Só que o problema mesmo é a desconexão com a pegada habitual de Star Wars, então quem vai esperando grandes novidades pode acabar se decepcionando.
Assim como “Rogue One”, o spin-off “Han Solo” mostra um monte de personagens desconhecidos ou pouco importantes, assim a salvação reside em nomes como Chewbacca e Lando Calrissian, que eventualmente reaparecerem na saga. O surgimento dos demais indivíduos seria legal se eles voltassem em algum momento, já que num único filme não dá tempo de se importar com eles.
Ah sim, há aparições chocantes (que não dá para falar aqui) e inexplicadas, que só funcionam para quem lê os livros e vê séries como “Guerras Clônicas”. Eis aqui uma mancada cósmica dos novos roteiristas, que pensam que todo mundo acompanha tudo de Star Wars. É complicado quando uma cena contradiz algo de outro filme, principalmente para quem só acompanha os longa-metragens. Vacilo nas estrelas!
É nítida a discrepância entre roteiro e produção nesses novos filmes Star Wars. Enquanto a história vacila em vários pontos, a parte técnica dá a cobertura para que o público fique abismado com cada cena de ação, diálogo ou exploração espacial. Há de fato uma verdadeira expansão do universo de Guerra nas Estrelas, principalmente pela exibição e construção de cenários nunca antes vistos.
Sim, por ser um filme muito mais pé no chão (até pelas limitações do momento da história), a gente tem uma ambientação muito mais em solo, porém bem-feita pra ninguém botar defeito. Fotografia, figurino, efeitos especiais, direção, sonorização e outros pormenores conversam constantemente para criar uma mentira convincente que nos deixam extasiados com esse novo mapa revelado.
A aparição da Millenium Falcon é uma das coisas que dá ânimo para o filme e há algumas cenas realmente excitantes com as tantas manobras e criaturas inusitadas que os confins da galáxia reservam para os fãs. O balanço entre cenas em solo e voos espaciais funciona bem, ainda mais por se tratar de um filme de origem, que precisa dar atenção aos diálogos.
Falando nisso, apesar de algumas conversas superficiais e sem muito direcionamento, a presença de grandes nomes no elenco, incluindo Woody Harrelson, Emilia Clarke, Donald Glover e Thandie Newton acabam deixando o filme mais interessante, afinal, se a história nem sempre convence, o carisma e as boas atuações acabam ajudando.
Se você ainda não gastou seu dinheiro com “Han Solo”, fica a dica: vale esperar a chegada do filme no Telecine ou na Tela Quente. Este não é um filme ruim, mas apenas mais um título desnecessário, que pouco agrega ao universo de Star Wars. Um bom entretenimento pela ação, mas pouca genialidade que justifique mais de duas horas de blá-blá-blá na telona. Mas fique tranquilo, a Disney vai continuar tentando...
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