Crítica do filme Inferno
Um símbolo despretensioso para a sua época
Quando foi lançado há 13 anos, o romance policial do escritor norte-americano Dan Brown, O Código Da Vinci, se tornou um marco na literatura mundial, e virou um best-seller em poucos meses.
A temática ficcional que mistura suspense com religião chocou a comunidade cristã por propor uma história diferente de Jesus Cristo e de segmentos do cristianismo presentes na bíblia sagrada. Além disso, a linguagem fácil e estrutura de capítulos pequenos, divididos em duas ou três páginas, colaborou para propagar a fama do trabalho, tanto para bom, quanto para ruim.
Após três anos, em 2006, tivemos a adaptação cinematográfica da obra, pelo diretor Ron Howard e grande elenco. A grande bilheteria, embalada pelo sucesso (e polêmica) do livro garantiu logo em 2009 a primeira sequência nas telonas, Anjos e Demônios – segundo livro sobre as aventuras do professor Robert Langdon – e também mais continuações literárias da franquia pela mão de Dan Brown.
Após esse salto de sete anos, Ron Howard e sua equipe de produção retornam para a terceira adaptação, dessa vez de Inferno, que é na verdade o quarto livro da saga, pulando o capítulo O Símbolo Perdido. De acordo com o próprio diretor, a escolha foi pela facilidade de adaptar o roteiro de Inferno, ao contrário de seu antecessor.
Se você não está familiarizado com o tema de Inferno, aqui vai uma breve sinopse. Ele é basicamente o mesmo dos outros filmes, focando na caça por segredos e antiguidades raras, porém com leves mudanças nos enigmas e obras de arte.
Dessa vez sai o retrato da Mona Lisa e a andança no Vaticano pela correria por Florença e Istanbul. Os vilões também mudam: saem Opus Dei, Cavaleiros Templários e os illuminati para a entrada de... milionários ultrarradicais terroristas?!
O suspense integra a obra literária Inferno, do il sommo poeta da língua italiana, Dante Alighieri. Robert Langdon acorda num quarto de hospital em Florença, sem memória do que aconteceu nos últimos dias. A partir daí o professor se envolve em uma séria de confusões e planos mirabolantes para exterminar a raça humana com um vírus mortal, o qual só ele pode parar com seus conhecimentos sobre a obra magistral de Dante e sobre as entradas secretas nos museus italianos.
Mesmo sem ter grandes nomes do circuito comercial, o filme tem uma boa equipe de atores. Tom Hanks retorna para o papel principal, ao lado de sua fiel companheira feminina, que dessa vez é interpretada por Felicity Jones. Os atores Omar Sy, Ben Foster e Irrfan Khan completam o rol de atuação principal.
É interessante notar que o começo do filme empolga mais que o final. Ele busca se distanciar dos outros capítulos da franquia adicionando um ritmo frenético com cenas de ação sem explicação nenhuma, com a ideia de te puxar para o inferno próprio, sem fôlego e com muito suor. A mescla de cenas no presente com flashbacks aterrorizantes e obscuros do passado intensificam a proposta. E consegue o seu resultado, mas por pouco tempo. O início ‘quente’ dá lugar a um desenrolar e conclusão frios ao longo de 2 horas.
O inicial impactante vai se perdendo ao passar dos minutos, e logo se encontra na estrutura original das histórias de Dan Brown. Assim, a descoberta dos segredos do mapa do Inferno pintado por Sandro Botticelli acaba se tornando banal pelo desinteresse do próprio filme em si.
Salvo uma ou duas cenas de aula de história do prof. Langdon, na qual ele explica que o conceito atual de inferno vem diretamente da obra artística de Botticelli ou que o significado de quarentena remete à peste negra em Veneza, o longa não se encontra como suspense baseado em fatos históricos, ficando se balançando entre um blockbuster de ação e aventura de sessão da tarde.
Se você é fã das aventuras do prof. Robert Langdon e de Dan Brown, Inferno é uma boa sugestão de entretenimento. Porém, para uma franquia que começou com a polêmica de questionar a divindade de Cristo e misturar religião com ciência, trazendo vários debates interessantes à tona, o terceiro filme da trilogia passa longe de se tornar qualquer ponto de discussão. Essa é uma história rumo ao ostracismo ideológico.