Crítica do filme Invencível

Quando viver é sinônimo de resistência!

por
André Luiz Cavanha

14 de Janeiro de 2015
Fonte da imagem: Divulgação/
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 5 min

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Se nós, meros apreciadores, concordamos com a complexidade do processo de criação cinematográfica e ainda assim somos rigorosos com o produto que nos é apresentado, o que passa pela cabeça de alguém com a trajetória tão significativa como a de Angelina Jolie? Dela esperamos o extraordinário dentro e fora das telonas. 

Por tudo que sabemos sobre ela, além do profissionalismo, é que criamos imensa expectativa em torno de seu trabalho como diretora. Na Terra de Amor e Ódio (2011) foi sua primeira experiência, denunciando violações praticadas pelos sérvios na Guerra da Iugoslávia no início da década de 90, tornando ainda mais evidente o seu interesse pela causa dos direitos humanos.

Nem todo mundo gostou do que viu, afinal, o conflito ainda é recente e custam a cicatrizar as feridas de um confronto tão sangrento e desproporcional. E é bem por isso que sua estreia tem valor, com a ousadia de quem tem a acrescentar dando visibilidade aos povos que são tratados como invisíveis.

No próximo dia 15 estreia o segundo filme sob sua direção. Mantendo o olhar sobre a guerra, mas com o objetivo de contar a vida inspiradora do atleta olímpico que se tornou soldado e sobreviveu como prisioneiro nos campos de concentração japoneses. 

Foi um privilégio poder conferir e deixo a seguir as minhas impressões sobre esta que, sem dúvidas, será uma das mais premiadas produções de 2015.

O atleta

Escolher Jack O'Connell como protagonista de Invencível foi uma missão criteriosa, levando em consideração as características marcantes do veterano Louis Zamperini descritas no livro de Laura Hillenbrand, sobre o qual a película se baseia. 

Segundo Jolie, era importante que o ator selecionado tivesse o apoio da plateia. De fato, identificar-se com ele é fácil, por se tratar de um soldado que lutou com os Aliados no contexto da Segunda Guerra Mundial. Entretanto, o típico patriotismo estadunidense é deixado de lado quando acompanhamos a infância de Louis.

As primeiras cenas mostram a origem do homem que investiu toda sua dedicação para se tornar um atleta olímpico, num esforço acima do normal e enfrentando a discriminação por pertencer a uma família italiana. Desde criança tendo que conviver com os insultos e levando surras frequentes, conseguiu resistir à angústia graças ao incentivo de seu irmão mais velho.

Chegando ao pódio, aquele que era considerado estrangeiro se converte no símbolo da nação. É seguindo essa lógica de superação que Louis observa o afro-americano Jesse Owens desafiando a ideologia nazista na abertura dos Jogos Olímpicos de Berlim em 1936. Ambos no estádio onde  foram vitoriosos fazendo o racismo comer poeira na pista de atletismo, num primeiro contato com o conflito que teria início anos mais tarde e que transformaria adversários em inimigos.

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O soldado

A noção de pertencimento para Louis supera o sentimento proposto pela farda que lhe deram: sua presença é fundamental para a sobrevivência do grupo em combate aéreo e mesmo após a queda do avião.

Saindo um pouco da observação do personagem, chamo a atenção para as cenas de combate. São fantásticas as simulações das estratégias de bombardeios, os contra-ataques dos aviões japoneses e as explosões geradas por sistemas antiaéreos. A experiência na telona somada à qualidade de som da sala de cinema trará satisfação para os amantes de filmes de ação.

São sequências longas, mas muito gostosas de acompanhar. E se até então a plateia não se identifica com Louis, é a partir do instante da queda no oceano que inevitavelmente torcemos para que ele e seus companheiros sobrevivam.

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Três soldados dividem o pequeno espaço no bote por mais de um mês e tais cenas conseguem nos fazer imaginar a situação com todo sofrimento enfrentado por Louis. Contudo sem nos castigar na poltrona do cinema: a transição entre as cenas é bem caprichada, assim como o detalhado trabalho de maquiagem que simula com perfeição os sintomas de desidratação dos sobreviventes.

Um instante de dor vale uma vida de glória...

E que baita instante de dor Louis suportou nas mãos dos soldados japoneses, em especial do seu maior algoz em toda a trama: o oficial Mutsuhiro Watanabe. O ator escolhido para vilão foi Miyavi, que, segundo Jolie, é alguém que representaria o aspecto paradoxalmente humano de um torturador. 

De fato, os detalhes na sua forma de se expressar  dão uma dinâmica confusa para o personagem. Quando seus olhos se perdem durante alguns diálogos, o oficial transparece o medo por trás de uma postura tão hostil.

Tão duradouro é o sofrimento de Louis, estendendo também o tempo do filme para um pouco mais de duas horas, mas a sensação é prazerosa com o efeito catártico ao perceber no horizonte a chegada das tropas resgate. Um milagre ao qua devemos acreditar, conforme sugere a ótima trilha sonora da banda Coldplay.

Finais felizes são quase sempre imbuídos de uma superficialidade típica, mas esta é uma rara exceção.

Fonte das imagens: Divulgação/

Invencível (2014)

Sobrevivência. Persistência. Redenção.

Diretor: Angelina Jolie
Duração: 137 min
Estreia: 15 / jan / 2015
André Luiz Cavanha

Todo coração é uma célula revolucionária.