Crítica do filme Irmã Dulce

Uma história bonita, mas mal contada

por
Douglas Ciriaco

27 de Novembro de 2014
Fonte da imagem: Divulgação/
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Tempo 🕐 3 min

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O Brasil está cheio de personalidades marcantes em vários âmbitos, inclusive no religioso. Nomes que fazem parte do imaginário popular como Padre Cícero e Chico Xavier, por exemplo, têm em comum o grande apelo popular, apesar de trajetórias sociais bem distintas um do outro. Outro exemplo desse grupo é irmã Dulce, a freira católica nascida em Salvador, Bahia, em 1914, famosa por seu trabalho de caridade com os mais necessitados e indicada ao Nobel da Paz em 1988.

Beatificada pelo Vaticano em 2011, a mulher conhecida como “anjo bom da Bahia” ganhou sua cinebiografia “Irma Dulce” pelas mãos do diretor Vicente Amorim (“Corações Sujos”). Dividiram a atuação no papel principal as atrizes Bianca Comparato (“Somos Tão Jovens“), que interpretou a jovem Dulce, e a estreante Regina Braga (conhecida por papéis em novelas como “Ti Ti Ti” e “Selva de Pedra”), dando vida a Dulce depois dos 45 anos.

A conta a vida de Dulce a partir de sua tenra juventude, quando ela inicia sua vida no Convento de Santo Antônio, na capital baiana, e vai até o ápice de sua vida religiosa, quando ela é recebida pelo Papa João Paulo II em visita ao Brasil após grande apelo popular para que isso acontecesse.

Boas histórias nem sempre são bem contadas

A trajetória da Irmã Dulce é incrível, repleta de momentos marcantes e de grande devoção aos mais necessitados, levando ao pé da letra ao mandamento de Jesus Cristo que diz “amai ao próximo como a ti mesmo”, frase que talvez sirva como título para a obra deixada por Dulce. Porém, ter material para se trabalhar sobre nem sempre significa que o resultado será positivo, como é o caso de “Irmã Dulce”.

A interpretação das duas atrizesque dão vida a Dulce é um tanto desequilibrada: enquanto Comparato faz um excelente trabalho de “incorporação” da personagem, criado inclusive com detalhes como entonação e seu sotaque característicos da freira católica, Braga não tem tanto sucesso e apenas “cumpre tabela” em sua parte do filme.

Isso não serve para sustentar a cinebiografia, que peca por ter um roteiro confuso e que falha na hora de trabalhar o drama e a emoção de diversos fatos da vida de Dulce. Bom exemplo disso é a relação da irmã com João, um dos meninos cuidados por ela durante a infância e que, depois de grande, acaba desempenho papel importante dentro da película.

Não ficam muito claros quais os motivos levaram ele a se afastar de Dulce, algo crucial para a história (pelo menos a história do filme, pois não tenho conhecimento suficiente da vida da freira para determinar o quanto a representação foi, ou não, fiel à realidade), deixando tudo um pouco desconexo por ali.

Irmã Dulce

Uma história assim pode estar repleta de pontos dramáticos, algo que “Irmã Dulce” também não consegue trabalhar bem. O apelo emocional do filme não vinga, ficando superficial demais e sem causar qualquer empatia do público com aquilo que se passa na tela. Enfim, tudo acaba sendo simples demais, ingênuo até, algo que prejudica a contação da história e retira bastante de sua profundidade.

Isso tudo acaba gerando outro problema para “Irmã Dulce”: o filme se arrasta ao longo de 90 minutos. Um tempo mais do que aceitável para um longa metragem, mas, mesmo assim, com o que se vê diante da tela, a obra é excessivamente comprida, tornando um tanto enjoativa a experiência de assistir ao filme. É uma pena, pois uma história tão marcante merecia mais cuidado ao ser transposta para o cinema.

Fonte das imagens: Divulgação/
Douglas Ciriaco

Cê tá pensando que eu sou lóki, bicho?