Crítica do filme Jersey Boys: Em Busca da Música
Uma boa história musicada
Musical não é o meu estilo de filme favorito, pois vi poucos e gostei de um número menor ainda. “Jersey Boys: Em Busca da Música” não é um musical de fato, apesar de tratar de música, aí sim um tema sobre o qual eu me interesso bastante, e consegue dar embalo à história de uma das bandas mais famosas das décadas de 60 e 70 em todo o mundo.
Inspirado no musical da Broadway de mesmo nome, a película é dirigida e produzida por ninguém menos do que Clint Eastwood e conta a história do grupo The Four Seasons, focando especialmente em seu vocalista, Frankie Valli (John Lloyd Young). O filme começa destacando as origens de Valli e Tommy DeVito (Vincent Piazza), seu amigo e futuro parceiro de banda, em meados dos anos 1950.
DeVito é um vigarista envolvido com a máfia e praticante de inúmeros delitos, o que acaba tendo influência direta no futuro do grupo. A dupla se junta a Nick Massi (Michael Lomenda) em um trio que, diante da decadência desse formato de banda, se vê obrigada a ir atrás de um quarto membro, é quando aparece Bob Gaudio (Erich Bergen) e a sorte dos quatro rapazes de Nova Jersey começa a mudar.
A música, obviamente, é tema constante da película, e o filme está repleto de boas apresentações, o que ajuda a dar um bom ritmo à história. O roteiro, a cargo de Marshall Brickman e Rick Elice (também autores do livro no qual o musical é baseado), falha ao tratar de forma superficial da vida particular de seus dois principais personagens (Valli e Gaudio), deixando algumas lacunas que acabam “forçando” a emoção em certos momentos — por exemplo, quando Gaudio apresenta a Valli composição de “Can’t take my eyes off you”.
As atuações são muito competentes e ver o quarteto sobre o palco ou diante das câmeras convence o espectador de que ali estão mesmo os The Four Season, especialmente pela reprodução das dancinhas típicas do grupo. Nesse ponto, destaque para a ponta de Christopher Walken em Jersey Boys, no papel do padrino mafioso Gyp DeCarlo. Suas aparições são raras, mas marcantes, dando um toque de comédia séria à produção de Eastwood.
Aliás, o trabalho de Clint Eastwood por trás das câmeras na direção é também um dos destaques do filme. Isso porque ele consegue transpor um musical sem deixá-lo cansativo, criando um filme interessante, leve e gostoso de se assistir, equilibrando bem os momentos de comédia, drama e tensão. Jersey Boys mistura bem os atos musicais, as sacadas de composição de Bob Gaudio e capta também as tensões envolvendo o dia a dia de uma banda, com problemas de ego, ganância, inveja e, é claro, a convivência de um grupo em turnê. Eis aqui o ponto alto do roteiro.
O figurino do filme é outro destaque, especialmente porque os trajes utilizados pelo grupo mudam bastante conforme a sua ascensão, indo do paletó e calça social típicos da máfia ítalo-americana aos blazers clássicos dos quartetos que povoaram a cena pop-rock dos anos 60 e 70. Para se ter uma ideia da variedade, John Lloyd Young teria trocado de roupa 60 vezes durante as gravações de Jersey Boys.
Enfim, uma excelente direção e boas apresentações musicais acabam compensando a pobreza de detalhes do roteiro na hora de construir uma vida no plano de fundo da banda para cada um dos personagens ali descritos. Sem dúvida, o filme é uma boa opção para aquele dia em que o ingresso do cinema está mais barato, mas nada além disso.