Crítica do filme Jigsaw - Jogos Mortais
O Legado de Saw?
Com sete filmes e uma trama prá lá de embolada, a franquia Jogo Mortais retorna às telonas sem muito estardalhaço e com pouquíssima inspiração. Jogos Mortais - Jigsaw perde a chance de revigorar a série e se resigna a explorar seus próprios clichês.
Não existe forma de florear as coisas, o filme é ruim. No entanto, ele entrega exatamente o que os fãs mais masoquistas da série queriam: sangue, atores canastrões e um enredo cheio de curvas.
Todo o saudosismo da franquia bate já nos primeiros minutos de filme quando o icônico tema Hello Zepp começa a tocar e o cronômetro do jogo marca o início das torturas. Os fãs mais ardorosos, aqueles que sabem aproveitar todo o ridículo dos filmes, não vão se decepcionar, especialmente por estarem a tanto tempo sem uma edição nova.
O maior pecado de Jigsaw, não é o seu roteiro fraco, ou até mesmo as atuações pouco inspiradas, mas sim a sua falta de inspiração, de coragem de trazer algo verdadeiramente novo à série. O filme tem uma “cara de preguiça” e parece que ninguém realmente se importou com a produção, com armadilhas reutilizadas e um desfecho bem familiar.
Isso pode ser explicado pela própria economia da coisa, afinal, com um custo de apenas 10 milhões, o filme deve se pagar já nas primeiras semanas e certamente trará um bom lucro para a Lionsgste, estúdio que já vem faturando alto com títulos como Truque de Mestre 2: O Segundo Ato, John Wick: Um novo dia para matar e, os oscarizados, La La Land - Cantando Estações e Até o Último Homem. Parece que ninguem realmente se importou em dar mais atenção ao filme, haja vista que mesmo que não se torne um sucesso, o filme dificilmente trará prejuízos a empresa.
Assim, com um roteiro desinteressado e uma direção monótona, o filme vai somando clichês até o último crédito subir a tela. O que é uma pena, não apenas para a franquia, mas para a carreira dos irmãos Spierig que já mostraram muita habilidade por trás da camera com o excelente O Predestinado, mas que aqui parece estar no piloto automático. Na verdade, o filme até começa de maneira diferente, para os padrões da franquia, temos uma perseguição em plena luz do dia culminando com um impasse entre “tiras” e um suspeito, mas em pouco tempo somos levados aos velhos hábitos.
Como de costume, as histórias se dividem em dois núcleos, um investigativo e outro no melhor torture porn que consagrou a série. Do lado mais sangrento, seguimos as provações de quatro vítimas presas nos testes moralmente subjetivos de John Kramer, o assassino Jigsaw, o problema é que ele está morto há uma década. Do outro lado, os tiras - deliciosamente estereotipados — são outra prova de que os roteiristas simplesmente não estavam muito empenhados na hora de escrever a história.
A investigação é apressada e se resume aos achismos do detetive Halloran (Callum Keith Rennie). Longe de contar com o charme canastrão de Mark Hoffman (Costas Mandylor), Halloran se apresenta como um homem tenso e moralmente ambíguo, que formula todo seu caso em poucos minutos por meio de um extenuante processo lógico dedutivo de apontar o dedo para as duas primeiras pessoas que ele vê, no caso, os patologistas encarregados das vítimas do novo assassino Jigsaw, Logan e Eleanor, coincidentemente os dois médicos mais atraentes da perícia criminal.
Segundo a mente lógica de Halloran, uma mulher sexy como Eleanor não teria tanto prazer trabalhando em um necrotério, portanto ela deve ser uma fã psicótica do Jigsaw que resolveu dar continuidade ao seu trabalho. Enquanto Logan entra na lista por ser "o cara legal".
Como de costume, ainda temos algumas reviravoltas ridículas, algum sangue, escolhas morais e o já tradicional monólogo antes do fim; para resumir as reviravoltas aos espectadores que tiraram uma soneca e acordaram bem a tempo de ver a última morte do filme.
Até mesmo as armadilhas, sempre engenhosas e calibradas para causar o máximo de dor nas vítimas e tensão na audiência, são pouco criativas e derivadas de edições anteriores. Jogos Mortais - Jigsaw sofre com a falta de vontade dos realizadores, que poderiam ter ousado um pouco e no mínimo ter contado uma história nova.
Jigsaw Jogos Mortais e mais uma edição genérica da franquia. Seu grande mérito é justamente o de compilar os principais elementos da franquia em um único filme, ao mesmo tempo em que é uma história encapsulada, facilitando a vida dos espectadores não iniciados e realmente entregando um “reinício" à série.
Apesar de "mecânico", Jogos Mortais - Jigsaw entrega toda a galhofa que os fãs esperam da franquia
A figura de John Kramer e, especialmente, de seu marionete de papel machê, já estão gravadas na história do cinema de terror e é sempre interessante rever grandes ícones de volta a ação. É uma pena que o filme não consiga entregar a mesma experiência de seus sucessores, mas talvez isso também seja um sinal dos tempos, em que a nossa sensibilidade (moral e física) já está tão anestesiada que os desafios engendrados por Jigsaw não nos impressionam tanto.
Em suma, Jogos Mortais - Jigsaw é uma pedida interessante para os fãs que acompanham a franquia por tantos altos e baixos, o que dizer do horrível Jogos Mortais 3 e do curiosamente bom Jogos Mortais 6, mas não se trata de nenhuma produção imperdível.mesmo para os aficionados do terror e torture porn.
Aqueles que não apreciam a vida, não merecem viver!