Crítica de John Morre no Final

O mundo é muito mais estranho do que você pensa

por
Carlos Augusto Ferraro

06 de Janeiro de 2017
Fonte da imagem: Divulgação/Netflix
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 4 min

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"John Morre no Final", mas isso não é nenhum spoiler… Mesmo porque, a morte não é necessariamente o fim na bizarra aventura do diretor Don Coscarelli.

Muito bem, me deixem tentar resumir a maluquice que se passa no filme. Basicamente, seguimos as insólitas desventuras de uma dupla de “detetives sobrenaturais” que deve impedir uma invasão extra dimensional. O melhor de tudo é que, para conseguir nos proteger dessas ameaças, os dois precisam consumir uma droga batizada de “shoyo” (ou molho de soja), capaz de alterar a percepção do espaço, tempo e da própria realidade, abrindo assim portas interdimensionais.

"Viajandão"

O diretor, Don Coscarelli, não é nenhum novato no submundo da lisergia cinematográfica, haja vista sua filmografia que inclui o excelente "Bubba Ho-Tep" (2002) e o proto-slender man, "Fantasma" (1979). Seria o “sal de prata” algum tipo de alcalóide psicoativo? Se assim o for, o roteiro de "John Morre no Final" começa a ganhar contornos um pouco mais discerníveis.

Essa parada vicia mais que leite condensado

Pois bem, se você possui alguma “maleabilidade mental”, seguir parte das divagações alucinadas que Coscarelli empilha nas diferentes camadas de "John Morre no Final" é um exercício de pensamento um tanto interessante. A multifacetada jornada de ficção científica com cara de policial e pitadas de terror pode parecer boba, mas vai acabar prendendo a sua atenção de um jeito ou de outro.

Expandindo os sentidos

Eu poderia contar detalhadamente toda a história do filme que você ainda teria dificuldades para acompanhar a trama e entender o que exatamente está acontecendo. Na verdade, o espectador tem que experimentar John Morre no Final da mesma forma que os personagens experimentam o “shoyo” (a droga interdimensional do filme), ou seja, como algo capaz de expandir os seus sentidos.

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Assim, quem sabe fique mais fácil receber a ideia de que a realidade é maleável, usando  tempo e espaço como ingredientes voláteis em um alquimia na qual não existem medidas precisas. Se tudo o que você está lendo parece estranho é desconexo é porque (modéstia à parte) estou fazendo um ótimo trabalho em descrever o que é "John Morre no Final"

A estrutura caótica da narrativa, aliada ao ritmo acelerado e a não linearidade dos eventos transformam a película em um esforço de concentração.  O desavisado pode desmerecer o filme como prática trash de um diretor B. Entretanto, um olhar mais atento revela um projeto realmente interessante, um representante digno do cinema surreal em moldes contemporâneos.

John Morre no Final parece um romance Lovecraftiano adaptado por Buñuel

O filme flui como um sonho, ou seria um pesadelo, encaixando partes da trama na ordem que convém sem uma guia mestre rígida. Além disso, o filme ainda conta com um elenco inspirado. Mesmo que os protagonistas não sejam grandes nomes hollywoodianos, o título traz presenças ilustres, como a do sempre interessante Paul Giamatti (O Congresso Futurista) e a do imponente Clancy Brown (Highlander: O Guerreiro Imortal).

O senhor é meu bastão e nada me atingirá

De qualquer forma, "John Morre no Final" é um filme “despretensiosamente complicado”. Obviamente não estamos falando de uma obra prima da cinematografia mundial. O longa-metragem possui várias limitações, mas nada que comprometa o produto final.

O importante é não se importar, como já disse anteriormente, você deve “experimentar” "John Morre no Final". Qualquer análise cínica do filme, ou do romance que deu origem à película, vai passar por cima das muitas experiências narrativas presentes na obra. "John Morre no Final" é uma boa pedida para quem quer um filme diferente, com uma estética peculiar e uma narrativa extremamente original.

Fonte das imagens: Divulgação/Netflix

John Morre no Final

Será que John realmente morre no final?

Diretor: Don Coscarelli
Duração: 100 min
Estreia: 25 / jan / 2013