Crítica do filme Kingsman: Serviço Secreto
Um novo perfil de agente secreto
O exagero das cenas de ação e o figurino estiloso, desde os tempos que Sean Connery atuava como James Bond, fizeram os filmes de 007 serem tão apreciados por mais de cinquenta anos. Entretanto, por mais avançadas que sejam as tecnologias utilizadas pelo protagonista da série, a reprodução de um tradicionalismo inerte perante as transformações culturais parece cada vez mais inadequada.
O herói precisaria ser um gentleman, com elegância e gostos refinados. Ele deveria ser viril e amado por uma musa, sabendo estar na hora certa para salvar a vida dela e do resto do mundo. Desse modo clichê se enquadram quase todos os títulos de espionagem.
Mas com o objetivo de trazer algo realmente novo e sabendo brincar com os chavões do gênero é que surge a proposta de Kingsman: Serviço Secreto. O filme é baseado nos quadrinhos de Mark Millar, já conhecido por grandes sucessos como Kick-Ass e adaptado para as telonas por Matthew Vaughn (X-Men: Primeira Classe).
Um garoto totalmente avesso ao perfil padrão dos espiões é convocado para o programa de treinamento de uma organização supersecreta. Gary 'Eggsy' Unwin (Taron Egerton) é um jovem que perdeu o pai quando era mais novo e mora no subúrbio onde sempre está envolvido em encrencas, mas o olhar do experiente agente Harry (Colin Firth) é capaz de perceber quão promissor é seu futuro.
Kingsman é conhecida por ser a mais importante fabricante de ternos do mundo, mas por trás dessa marca se esconde o serviço secreto onde Eggsy disputa uma vaga com outros jovens. Aliás, entre tantos concorrentes, a única garota é Roxy (Sophie Cookson) e desde o início do processo seletivo ela se mostra habilidosa, companheira e compreensiva.
O aspecto interessante dessa história é que o melhor agente secreto é uma mulher e ela se mostra totalmente independente durante a trama, embora ainda seja um personagem secundário. Dessa forma, fica bem clara a tentativa de mudar o rumo da agência, por conta dos mais novos membros não serem necessariamente homens aristocratas oriundos das escolas e faculdades mais caras.
O vilão que surge com planos mirabolantes de exterminar grande parte da população por meio de chips distribuídos gratuitamente, é Richmond Valentine, representado por ninguém menos que Samuel L. Jackson. Seu personagem é caricato, fala com língua presa e é colocado de modo inteligente na trama ao problematizar o crescimento populacional descontrolado. A solução encontrada por ele é aquela que todos já conhecem: higienismo, eliminando os seres humanos menos privilegiados.
Embora o tempo do filme seja de 129 minutos, o ritmo com que o enredo se desenvolve é bem agradável graças às maravilhosas cenas de combate intercaladas por diálogos recheados de bom humor. As sequências das lutas são verdadeiras coreografias, com câmeras bem posicionadas e que acontecem em ambientes muito variados.
Talvez a parte mais divertida do filme seja uma luta que ocorre dentro de uma igreja, num cenário bem diferente do que de costume. A ousadia dessa sequência tem gerado grande repercussão no exterior, justamente por ser precedida de sermões fundamentalistas e discriminatórios que Harry é obrigado a ouvir.
Algo que também determina um ritmo perfeito da história é trilha sonora: logo no início toca Dire Straits e na briga que ocorre dentro da igreja rola aquele solo cheio de pegada na música Free Bird da banda Lynyrd Skynyrd. É profanação que não acaba mais!
Kingsman: Serviço Secreto é ideal para os ansiosos que aguardam a estreia de Vingadores: Era de Ultron, mas é capaz de agradar os que não são assim tão entusiastas dos filmes de herói. O sucesso da produção é garantido, com grandes chances de ter continuidade nos próximos anos.
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