Crítica do filme Lady Bird

Sensibilidade e uma boa dose de esquisitice

por
Lu Belin

07 de Fevereiro de 2018
Fonte da imagem: Divulgação/Universal Pictures
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 6 min

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Christine é uma adolescente diferente, cuja diversidade está presente em cada pedacinho da própria identidade - a começar pelo nome. Ela não quer ser chamada pelo nome escolhido por seus pais e decide que agora seu nome é Lady Bird.

E é aí que começa a história do longa-metragem que rendeu a Greta Gerwig indicações ao Oscar, nas categorias de Melhor Filme, Melhor Roteiro e Melhor Direção, bem como o Globo de Ouro de Melhor Filme, que venceu.

"Lady Bird - A Hora de Voar" traz Saoirse Ronan (Brooklyn) e sua cara de adolescente para interpretar a protagonista que, enquanto encara um colégio católico, vai se mostrando cada vez mais deslocada da realidade em que vive e em conflito com boa parte da família.

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Os alvos de sua fúria teen são principalmente a mãe, Marion (Laurie Metcalf) e o irmão Miguel (Jordan Rodrigues). O único com quem ela se relaciona melhor é o pai, Larry (Tracy Letts), além, é claro, da melhor amiga inseparável, Jules (Beanie Feldstein).

Tão quente quanto a Califórnia

Repleto de ironia e sacadas cheias de um humor ácido, "Lady Bird - A Hora de Voar" é basicamente a história de uma família normal, em que ninguém é perfeito, mas todo mundo faz o que acha que é o melhor que consegue.

Porém, o recorte da história dessa família que foi escolhido pela roteirista e diretora foi justamente aquele que pode ser ao mesmo tempo o mais significativo e o mais insignificante período das nossas vidas: a adolescência.

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Digam aí, algumas das memórias mais importantes que você tem não são justamente da adolescência? Não foi nessa fase que você descobriu coisas importantes sobre você, que moldaram quem você é hoje? E, ao mesmo tempo, não teve algum ponto da sua vida adulta em que você percebeu que o que considerava uma questão enorme, de peso, já parece ser do tamanho de uma formiga? Pois é, é um tempo cinzeno das nossas vidas, amigos, e ao mesmo tempo, pode ser extremamente vívido.

Orgulho e Preconceito

Se você estiver disposto, consegue facilmente enxergar "Lady Bird - A Hora de Voar" puramente como um filme sobre uma adolescente mimada. Nesse caso, vai ser difícil conseguir entender o que fez esse filme ser considerado tão bom quanto dizem. Mas, quando se cria uma conexão com alguns pontos da história, o mesmo é de uma sensibilidade impressionante.

Muito mais do que retratar uma jovem rebeldinha que tem vergonha de quem é e de onde vem, ele é capaz de escancarar a dificuldade que tantas vezes temos de nos comunicar com quem nos é mais caro, sobre o quão difícil pode ser expressar o amor que sentimos. Aquela resistência e preconceito que temos com nossas próprias origens - sejam elas a família ou nossa cidade natal.

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Para as tantas e tantas pessoas que já deixaram [ou quiseram deixar] o lugar onde nasceram em busca algo a mais, é muito fácil entender o cerne da profundidade de "Lady Bird - A Hora de Voar". Aquela espécie de consciência pesada que acompanha a rejeição a quem nos trouxe a vida, o quanto isso mexe com a cabeça e, ao mesmo tempo, o quanto algumas coisas se apequenam quando colocadas em perspectiva.

Como alguém que tem uma série de dificuldades de comunicação com parte da família e que viveu esse processo de distanciamento de casa de um jeito bem intenso, criei uma identificação muito grande como filme, e acho que entendo os motivos pelos quais Greta Gerwig quis contar essa história.

Lady Bird tem um começo e tem um fim, é a história da menina-adolescente-jovem-quase adulta e seu caminho, de uma até a outra.

A barroca, a diferentona

Greta é mestra em dar vida na frente das câmeras a jovens meio esquisitas, e parece que ela conseguiu ao longo dos anos absorver toda a estranheza e originalidade de Lola, de Frances, de Maggie e de tantas mulheres que interpretou e adicionar à sua própria peculiaridade para construir Christine "Lady Bird - A Hora de Voar".

E é possível enxergar que, ao roteirizar o filme, Greta inspirou boa parte da história em sua própria trajetória. Assim como ela, a protagonista cresce em Sacramento, cidade que supostamente detesta e da qual não vê a hora de sair. Assim como Greta, ela também encontra o mundo da interpretação e da encenação.

Uma coisa muito legal é que ter esse olhar de quem viveu na cidade ajudou a diretora a colocar mais vída na película, trabalhando com iluminação natural que realça as cores e os ambientes locais, bem como reproduzindo de um jeito lelgal a época na qual a história se passa.

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E a trilha sonora escolhida tabém contribui pra carama nesse sentido, criando uma atmosfera da época e remetendo ao interior norte-americano.

Mas é claro que nada disso seria possível sem Saoirse Ronan, que dá vida a uma Lady Bird digna das premiações recebidas.
Apesar de seus quase 25 anos, ela realmente tem jeitinho de 17 e carinha de quem está com dificuldades de entender como funciona o mundo. A atriz está super bem no filme e entra com força no páreo pela estatueta do Oscar.

O elenco todo na verdade se supera. São atores em sua maioria menos conhecidos, fora do mainstream - assim com a própria Greta até bem pouco tempo atrás, o que dá todo um gostinho diferente aos personagens.

Recomendadíssimo e altamente chorável!

 

Fonte das imagens: Divulgação/Universal Pictures

Lady Bird - A Hora de Voar

Ela só quer ser a melhor versão dela mesma

Diretor: Greta Gerwig
Duração: 94 min
Estreia: 15 / fev / 2018
Lu Belin

Eu queria ser a Julianne Moore.