Crítica do filme Liga da Justiça
Uma busca pela esperança perdida
A tão aguardada reunião dos Superamigos finalmente aconteceu. Após o controverso “Batman vs Superman” e o filme solo da “Mulher Maravilha”, que conseguiu dar uma direção mais agradável aos filmes da DC/Warner com algumas novidades como cor e humor, em "Liga da Justiça" chegamos a um meio termo prazeroso entre ambos.
Se em “Batman vs Superman” temos a queda dos heróis idolatrados como deuses e em “Mulher Maravilha” vemos uma deusa conhecendo o mundo dos homens, “Liga da Justiça” é sobre a elevação desses seres superiores a um patamar de deuses em um panteão, uma visão contemporânea sobre figuras que representam arquétipos mitológicos.
Após a morte de Superman (Henry Cavill), Bruce Wayne/Batman (Ben Affleck) está afundado em culpa e percebe que sozinho não será capaz de conter a ameaça que está por vir, iniciando uma busca por outros heróis para formar uma equipe que será responsável pela defesa da Terra para vencer o Lobo da Estepe (feito com captura de movimentos por Ciarán Hinds), um guerreiro com um machado gigante e segundo em comando do exército de Darkseid. Sua missão é recuperar as três Caixas Maternas escondidas na Terra. Ao lado da Mulher-Maravilha (Gal Gadot), Batman recruta Victor Stone (Ray Fisher), o Ciborgue, o velocista Flash (Ezra Miller), e Aquaman (Jason Momoa), o Rei de Atlântida.
Como em qualquer filme de equipe de heróis, a primeira parte é focada em introduzir os personagens, cada um com suas peculiaridades. A impressão é que estamos vendo pedaços de filmes diferentes que mais tarde serão um só. A cidade de Gotham, carregada com a visão de Zack Snyder (o que é bem positivo, acredite), um Aquaman relutante em aceitar suas origens, escondido em um vilarejo de pescadores em busca de autoconhecimento, enquanto o Flash, único nome realmente legal mas que nunca é mencionado, tem algumas cenas curtas e quase dramáticas com seu pai, que está preso após alegadamente ter assassinado a esposa.
Ciborgue, que também tem uma origem trágica e uma relutância em aceitar sua nova condição, é um dos pontos principais para a trama funcionar. Ele foi “criado” por uma das Caixas Maternas que o Lobo da Estepe procura, e essa relação é decisiva para os heróis conseguirem impedir o mundo de ser transformado em um inferno. Admito que eu estava insatisfeito com a escolha do Ciborgue para integrar a Liga, mas após assistir tudo ficou melhor. Ray Fisher fez um ótimo trabalho em esconder as emoções, visto que ele agora é 90% máquina, mas ainda consegue ter muita expressão e desempenha bem o papel.
É quase redundante falar sobre Diana, Princesa das Amazonas de Themyscira e rainha dos nossos corações, após seu filme solo Mulher Maravilha deixa a relutância e aceita finalmente ser um símbolo da esperança, assim como Superman foi um dia, e acaba servindo como mãe do grupo, o que infelizmente não é o papel mais apropriado para a deusa.
De qualquer forma, pausa para enaltecer essa divindade:
Visualmente, o filme busca um distanciamento da realidade, finalmente é possível distinguir outras cores além de preto e cinza, durante o desenrolar da história é possível perceber um aspecto cada vez mais fantástico durante as cenas. No entanto, acaba pesando muito no uso de recursos digitais, o que gera um estranhamento ao invés de um deslumbramento.
Outra novidade é o uso de piadas, algo estritamente proibido nos filmes DC até pouco tempo atrás, o que já pode ser notado em um dos 700 trailers lançados pela Warner. Para um personagem como Flash, que é o um piadista nato, fazer algumas palhaçadas faz todo sentido, mas quando Batman tenta ser engraçado é só um pouco constrangedor, sempre parecendo fora do lugar, o que talvez não seja um problema para a maioria dos fãs, mas pessoalmente acho que essa foi a pior representação do Batman até agora.
Lobo da Estepe, anunciado como uma grande ameaça, chega de repente e é derrotado da mesma forma, sempre em segundo plano e sem muita substância ou motivação. Outro ponto em que o filme peca é a conveniência de todas as situações apresentadas, cada desafio mostrado é facilmente superado de forma trivial, desde convencer um garoto Ciborgue a arriscar a vida enquanto descobre o que ele é, até reviver o maior herói do mundo.
E se você realmente achou que o Superman não ia voltar e salvar todo mundo, eu admiro e invejo muito sua inocência. Então só para garantir, o próximo parágrafo contém spoilers:
Sem revelar muitos detalhes, seu retorno é uma das partes mais interessantes do filme, mas ele não se torna maligno, como previsto pelos fãs dos quadrinhos em que essa situação é baseada. Ao contrário, ele assume exatamente o papel que o Superman deveria cumprir desde o começo. Ele é um campeão da justiça, se preocupa mais com os civis que estão em perigo do que com o invasor alienígena que tem um machado gigante e está batendo em seus aliados, ele é mais poderoso que toda a Liga e ainda assim auxilia ao invés de acabar com tudo usando seus poderes. Finalmente, ele é a própria esperança que retorna em um mundo prestes a ser exterminado. Se em “Liga da Justiça” eu vi o pior Batman, em compensação eu vi o melhor Superman.
Visando uma possível aceitação maior, “Liga da Justiça” se satisfaz em apenas manter um nível mediano, sem querer ousar em nenhum ponto. A quantia enorme de frases de efeito, diversas piadas e muitas referências a um possível futuro universo DC em toda a sua glória mostram um esforço enorme em agradar os fãs, mas deixa aquela sensação de que “faltou algo”. É repleto de cenas incríveis, mas a história em si é bastante trivial. Em especial, a cena das Amazonas, Atlantes e OUTROS heróis famosos enfrentando o Lobo da Estepe durante a Era dos Heróis dão um ânimo para as futuras produções da DC. A impressão é de que esse filme tenta reparar os erros passados e deixar tudo nivelado para finalmente criar histórias épicas.
Como manda a tradição, temos duas cenas pós-créditos: a primeira é praticamente um presente para os fãs, a segunda mostra um possível (ainda que preocupante) futuro para além dos filmes solos já programados, mas novamente nada que seja equivalente a grandiosidade desses heróis. As baixas expectativas deixam todos os filmes melhores, não usem drogas e continuem estudando, até a próxima!
A turma vai se unir e o pau vai comer solto!