Crítica do filme Little Boy
Água com açúcar que faz bem
Em meio a tantas animações e produções com aventuras impossíveis que levam as crianças para outras dimensões, são raros os trabalhos que tentam passar mensagens importantes para o cotidiano dos pequeninos.
Nesse sentido, "Little Boy", o novo filme vindo direto do México — mas que tem atores americanos —, acaba encontrando uma posição privilegiada nos cinemas do Brasil.
“Litte Boy – Além do Impossível” (o subtítulo em português é totalmente desnecessário) nos mostra a história de um garotinho, Pepper Busbee (interpretado pelo simpático Jakob Salvati), que fica devastado quando seu pai é convocado para a Segunda Guerra Mundial.
Ao perder seu melhor amigo, o jovenzinho tenta encontrar maneiras de ajudar seu pai e trazê-lo o mais rápido possível. Mas como fazer isso? Oras, simples, com poderes especiais. Acreditando em mágica e também nos milagres de Deus, o pequenino segue uma lista de tarefas especiais que ajudarão nessa missão.
Durante o desenrolar dessa história, você vai descobrir rapidamente porque o protagonista recebe o apelido “Little Boy”. Por algum acaso do destino, o garotinho Busbee não cresceu muito, ficando bem abaixo da estatura dos coleguinhas. Aí, já viu né, nessa fase da vida sempre aparecem os bocós pra inventar apelidos e tirar sarro dos outros.
Aproveitando essa deixa, o roteiro começa a tratar de forma bem direta os problemas do bullying, os traumas de uma criança e como um garotinho consegue forças para relevar isso e vencer esse mal que é muito debatido atualmente. O tema fica bem encaixado na história, apesar de algumas situações até bem forçadas e pouco convincentes.
Paralelamente, o roteiro de “Little Boy – Além do Impossível” resolve abordar um tema que tem muito mais a ver com os adultos: a xenofobia. Em época de guerra, isso era muito comum, então o filme consegue conciliar as duas coisas e mostrar até para os adultos o quão complicado e sem sentido é esse tipo de atitude (que ainda é recorrente, por isso a importância do debate aqui).
Logo na primeira meia hora de filme, o roteiro nos apresenta todos os personagens importantes. E tão importante quanto uma história com sujeitos que tenham algo para contar é um elenco que consiga passar essa informação ao público.
A escolha foi acertada e garante um filme bem legal, com Michael Rapaport (de “As Bem-Armadas” e “Hitch – Conselheiro Amoroso”) como o pai, Emily Watson (de “Evereste” e “Cavalo de Guerra”) no papel da mãe e Cary-Hiroyuki Tagawa (o eterno Shang Tsung de “Mortal Kombat”) interpretando Hashimoto, um japonês entre os americanos.
Se tem algo que realmente se destaca é a fotografia do filme. Apesar de ser uma produção de 2015 com cenários fictícios, a equipe de produção caprichou no visual para nos levar ao passado. O pequeno vilarejo que é o ambiente principal do filme é bem convincente, com paisagens belas de tirar o fôlego.
As viagens malucas no imaginativo de Pepper também ficam muito legais. Talvez as únicas cenas mais simples são as de guerra, mas elas são intercaladas em poucos momentos e ao menos dão substância para o filme não ficar apenas no “diz que foi que aconteceu”. A montagem ajuda bastante na hora de misturar sonhos, história real e a trama principal.
A trilha sonora de Little Boy é coerente com a proposta, mas se mostra até desnecessária em alguns momentos. Dá a impressão que a equipe de som tentou forçar as emoções e arrancar algumas lágrimas. Não funcionou muito nesse sentido, mas, pelo menos, não é algo exagerado e sem propósito. Os menos atentos não vão se incomodar, ainda mais porque a trilha é original.
“Little Boy” não tem nada de genial, mas ao menos tem um debate bem válido. É um filme bem produzido, com uma história simples, mensagem bonita para as crianças e, de quebra, nos lembra que até os adultos cometem idiotices. Legal pra ver em família, já que tem bonitas imagens e coloca os pequeninos pra repensar suas ações, tanto as positivas quanto as negativas.
O filme "Little Boy - Além do Impossível" estreou ontem, 10 de março, com exclusividade nas salas Cinépolis no Brasil.
Quão grandes os pequenos podem ser?