Crítica do filme Não Aceitamos Devoluções
Mexicano à la Adam Sandler
Nos últimos anos, o cinema mexicano tem ganhado destaque internacional especialmente por dois diretores que costumam arrebatar bons públicos, Alejandro Iñarritu (21 Gramas) e Alfonso Cuarón (Gravidade) são seus nomes, sendo este último o primeiro latino-americano a receber um Oscar.
Pelo menos no grande circuíto, outros filmes mexicanos nem sempre chegam por aqui, especialmente comédias mexicanas, como é o caso de "Não Aceitamos Devoluções", uma obra que se define como "comédia dramática". O grande nome da película é Eugênio Derbez, que, além de atuar e dirigir, também divide o roteiro com Guillermo Ríos e Leticia López Margalli.
Na tela, o espectador vê Valentin, um fanfarrão mulherengo que insiste em não "levar uma vida de adulto" e se diverte tendo inúmeros casos relâmpagos com as turistas que visitam a praia de Acapulco, México. Acontece que um desses affairs resulta em algo totalmente inesperado: um bebê. A mãe, uma estadunidense, volta ao país vizinho quase dois anos depois para deixar a pequena Maggie sob os cuidados do pai. Assustado e nada disposto a assumir a bronca, Valentin pega a estrada rumo à Los Angeles para devolver a criança para a Julie, sua mãe.
A história começa assim e Valentin acaba nunca retornando de sua viagem aos Estados Unidos, arrumando um emprego como dublê de ação para manter sua filha. Seis anos depois, Julie retorna e quer sua rebenta de volta, o que coloca a trama nos eixos, digamos assim, fazendo jus ao nome e à sinopse da película.
Acontece que até isso acontecer, "Não Aceitamos Devoluções" arrasta o espectador por muitas outras paranças. A impressão é que o roteiro perde tempo demais com miudezas, levando o filme para quase duas horas de duração e forçando algumas piadas sem graça nesse meio tempo. O humor mais escrachado, estilo filme do Adam Sandler — ele até é citado no filme, diga-se de passagem — consegue emplacar algumas boas piadas, tanto do protagonista quanto de outros personagens que não passam de figurantes de luxo.
Na parte acertada do humor, "Não Aceitamos Devoluções" não traz apenas Acapulco como semelhança com Chaves. Intencionalmente ou não, algumas situações presenciadas por Valentin lembra bastante o programa de humor mexicano mais famoso em todo o mundo — especialmente o personagem que conversa com o protagonista em um quiosque à beira-mar no final do filme.
A obra não é um primor, mas é descontraída, tendo como seu ponto alto a parte final, carregada de emoções e surpresas que vão deixar você pensativo. Visualmente, o destaque fica pelas animações que dão vida às histórias narradas pela pequena Maggie quando ela lê as cartas de sua mãe. Falando em termo de personagens, é recompensador ver o coração grande do protagonista, sempre disposto a perdoar e a fazer de tudo para manter sua filha perto de si, outro ponto da trama que torna a película um pouco mais agradável.
A conclusão: este é um filme água com açúcar que não fará você rolar de rir, pois força a amizade em alguns momentos, mas que pode ser capaz de arrancar algumas risadas — e quem sabe até algumas lágrimas. "Não Aceitamos Devoluções" chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (3).