Crítica de Não Pare na Pista
Nem magia salva a cinebiografia de Paulo Coelho
Confesso que descobri há pouco tempo que haveria uma cinebiografia sobre Paulo Coelho, o que, devido ao alto grau de controvérsia que gira em torno do escritor, compositor e mago carioca, torna a obra bastante suspeita.
Pessoalmente, não tenho nada contra Coelho, pois nunca li nenhum de seus livros e gosto muito de diversas das músicas que ele e o baiano Raul Seixas compuseram em parceria, então, ver "Não Pare na Pista" parecia uma boa pedida, mas não foi bem assim.
No geral, a obra peca pela superficialidade, pois tenta dar conta de um período de tempo muito grande da vida de Paulo Coelho (Ravel Andrade e Júlio Andrade intepretam o escritor quando adolescente e adulto, respectivamente).
Ele vai da adolescência conturbada, passa pela adultice criativa e regada a buscas, sexo, misticismo, drogas e rock’n’roll, e, por fim, chega ao tempo presente de sucesso mundial e único autor vivo mais traduzido do que Shakespeare, mas o passo acabou sendo maior do que as pernas e a empreitada não obteve sucesso. Falar de muita coisa acaba tornando o filme arrastado demais e deixa de se aprofundar em questões que poderiam agregar mais à película.
Um ponto que poderia ter sido muito mais explorado, por exemplo, foi a relação dele com Raul Seixas. Não sei se pela grandeza da personalidade de Raul ele se tornou um mero acessório temporário por ali, mas faltou esmiuçar mais o que levou ao rompimento dos dois, algo exibido de forma totalmente banalizada na tela. Dá para dizer, porém, que a aparição do Maluco Beleza (interpretado por Lucci Ferreira) é uma das coisas que salva a obra, pois é quando a música acontece para dar uma animada no filme.
O filme se passa em três épocas diferentes: os anos 60, de Paulo Coelho adolescente, os anos 70, com ele já adulto, e ainda o ano de 2013, quando ele repete o Caminho de Santiago e já é sucesso absoluto em uma porrada de países. As partes mais recentes, quando Coelho é representado por Júlio Andrade com uma maquiagem péssima, são completamente desnecessárias e acrescentam pouco ao filme, servindo apenas para prolongar a história sem qualquer motivo. Essa adição soma diversos minutos e deixa “Não Pare na Pista” longo demais para o pouco que ele conta.
Talvez o filme tivesse saído mais competente e divertido se tivesse se focado no período que vai da adolescência de Paulo Coelho, quando ele tem uma relação pesada e cheia de atritos com o pai, é antissocial e até mesmo tenta suicídio, até a publicação de “O Alquimista”, livro que alçou o autor ao sucesso. A parte técnica do filme não decepciona, como a montagem, a cargo de Leticia Giffoni e Daniel Augusto, e a produção musical, feita pelo excelente Berna Ceppas.
Se você é fã de Paulo Coelho, talvez seja uma experiência interessante ver um pouco mais de seu ídolo ali na tela. Apesar das falhas de roteiro e até mesmo da falta de ritmo do filme, as atuações de Júlio Andrade e Ravel Andrade como o protagonista também merecem destaque e ajudam a compensar os problemas. Mas pensando a obra como um todo, falta muito para “Não Pare na Pista” ser um bom filme.