Crítica do Filme O Duelo
"Se quiserem, eu conto a história..."
A príncípio o título "O Duelo" soará estranho por se tratar de um filme baseado na obra “Os Velhos Marinheiros”, de Jorge Amado. Mas enquanto a trama se desenrola, o duelo é travado. Não uma mera briga, um duelo intelectual entre a realidade e a fantasia. Mas já estou exagerando, deixe-me voltar a históra.
A história gira acerca de Joaquim de Almeida, o ator português de O Xangô de Baker Street, como o Comandande Vasco Moscoso de Aragão, o Capitão-de-Longo-Curso cheio de histórias para contar. Desde sua apresentação ao público ele se revela uma figura encantadora, com seus bons modos e contos fascinantes, cativando todos os moradores da pequena vila de Piripiri.
Mas o conflito começa quando o enciumado Chico Pacheco, interpretado pelo mítico José Wilker em um de seus últimos papéis, volta da capital para a pequena cidade e se depara com a figura do Comandante. Logo ele percebe que o encanto de seus companheiros é absurdo, assim como todos os feitos do marujo, e seu objetivo passa a ser desmascarar o pomposo capitão-de-longo-curso. Porém, não é exagero dizer que José Wilker é o melhor ator/personagem desse filme, apesar de ter uma participação reduzida em relação ao Comandante.
Marcos Jorge, o diretor do premiado Estômago, aposta nessa dualidade. O filme demorou mais de 10 anos para ser concluído, entre negociações e a finalização. A adaptação cinematográfica do romance exigia efeitos especiais complicados, e por isso a demora é justificada.
E esses efeitos são um excelente instrumento narrativo, mostrando a transição da realidade parada para a fantasia excitante de forma bem envolvente. As histórias são tão fascinantes que os personagens conseguem vislumbrar os contos em sua frente, como se fizessem parte dos feitos, e todo esse exagero teatral é colocado de forma proposital, uma brincadeira com o cinema e o expectador foi uma sacada bem interessante.
Mas onde a teatralidade das cenas acerta, os efeitos sonoros acabam tornando tudo muito inverossímil. Em diversos momentos teria sido melhor optar por algo menos exagerado e explícito, como tapas que soam como um estrondo. Destaque para a excelente cena do piano, onde absolutamente nenhuma nota é acertada com a música e em determinados momentos a "pianista" parece nem encostar nas teclas.
O elenco de apoio conta com nomes grandes como Claudia Raia e Márcio Garcia, que cumpre seu papel perfeitamente. Outros desapontam na atuação, como Michael Cera Munir Kanaan no papel de Zequinha Curvelo, maior defensor do Comandante.
A história é bem incrível, e em determinado momento você não vai ter tanta certeza do que é real e o que é inventado, e vai ter que decidir por conta própria, o que mostra que não existe uma verdade absoluta, é tudo uma questão de ponto de vista. O filme diverte, não com um humor escrachado, mas como algo para assistir sem pretensão na televisão com a família. A estreia acontece no dia 19 de março.