Crítica do filme O Guardião Invisível
Uma salada com sotaque espanhol
Quando uma jovem de apenas 13 anos é encontrada morta, nua e em uma posição que imita à da Virgem Maria, a detetive Amaia Salazar (Marta Etura) é designada para desvendar o crime - que ela relaciona com outros semelhantes e atribui a um serial killer.
A investigação acaba conduzindo a inspetora de volta ao seu vilarejo natal, onde mais crimes acontecem. No entanto, longe da cidade há anos, ela não se sente nem um pouco confortável em reencontrar a família - especialmente a irmã Flora (Elvira Mínguez), com quem tem uma relação bastante conturbada.
Aos poucos, o longa-metragem espanhol “O Guardião Invisível” vai entregando quais são esses problemas e como eles se relacionam e se entrelaçam com o caso que Amaia deve investigar.
Baseado no livro de mesmo nome escrito por Dolores Redondo, o filme, ao contrário, não tem nada de redondinho. Vem comigo que eu explico porque.
Na tentativa insistente de dar à história um tom de mistério, o diretor Fernando González Molina e o roteirista Luiso Berdejo acabam forçando um bom tanto a barra.
Cenas que usam o rio, o nevoeiro e o contraste do verde da floresta com um branco bem pouco natural no corpo das mulheres mortas criam um ambiente no mínimo esquisito. Na maior parte do tempo, a fotografia do filme beira entre um quase-artístico e um total brega, em que se tenta construir uma atmosfera poética sobre a morte das meninas.
O longa usa também muito pouca trilha sonora - e a que existe, na maior parte do tempo é composta por ritmos que visam criar tensão e estimular o mistério.
Não é de todo uma desgraça, mas fraquinho de um tudo do começo ao fim. Não me refiro apenas à construção visual. O roteiro também patina pra andar, embora tivesse vários elementos que pudessem torná-lo bem sucedido.
Ao mesmo tempo em que tem como plot principal a série de assassinatos e a busca pelo culpado, “O Guardião Invisível” vai desenrolando junto com o plot principal uma série de outros assuntos paralelos, alguns ligados a ele, outros não, mas você não sabe muito bem se e quando as coisas vão começar a fazer sentido - algumas realmente nem fazem.
Você começa achando que não vai ser um filme galhofa, mas aí as meninas encontradas nuas e mortas têm um biscoito escondendo as genitais. Você acha que é um filme sobre crimes, focado em argumentos científicos e racionais, mas daí entra a herança mística da família e a bruxaria no meio da coisa.
A tentativa de transformar o filme em um suspense é tão forçada que, believe me, tem até uma espécie de Pé Grande envolvida na história. E não, não funciona.
A linha do tempo da história consegue confundir a cabeça do público, mesmo sendo linear, com a inserção apenas de uma ou outra memória da protagonista. E fatos do passado que você acha que vão fazer diferença no andamento da película, no fim, não fazem diferença nenhuma e só contribuem para estender o sofrimento para além das duas horas de filme.
No fim, várias perguntas continuam sem resposta, várias respostas continuam sem perguntas e o tal do guardião segue, de fato, invisível.
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