Critica do filme O Predador (2018)

As definições de porradaria foram atualizas

por
Carlos Augusto Ferraro

13 de Setembro de 2018
Fonte da imagem: Divulgação/20th Century Studios
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 6 min

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Mesmo lá atrás, nos saudosos anos 80 — quando músculos, piadas e desejos homoeróticos camuflados dominavam as bilheterias com astros bombados e filmes explosivos — ninguém realmente esperava um impacto permanente quando “O Predador” chegou às telas em 1987. Com personagens marcantes e um roteiro ágil (incluindo aqui uma tonelada de frases de efeito) o filme estrelado pelo maioral, Arnold Schwarzenegger e uma trupe de machões (incluindo Carl Weathers, Jesse Ventura e Sonny Landham) — cuja metragem acumulada de bíceps deve guardar alguma menção no Livro Guinness dos Recordes — acertou em cheio na mistura de ficção científica, suspense e ação.

Duas continuações, outros dois filmes derivados e uma sorte de brinquedos, videogames e histórias em quadrinhos depois, a franquia O Predador parecia destinada a mediocridade. Sem nunca ter encontrado o mesmo tom que a produção original, a série não consegue deslanchar. Eis que Shane Black — uma verdadeira cria dos anos 80, tendo participado do filme original — promete recuperar a franquia adaptando seu peculiar estilo oitentista para uma nova geração de fãs.

Nesta nova edição da série, a criatura ressurge ainda mais perigosa e encontra adversários formidáveis que conseguem entregar todo o humor e ação que tanto definiram a geração de Black. Apesar do roteiro inconsistente, o filme se sustenta muito bem ao se basear no elenco carismático, ação alucinada e humor rápido. “O Predador" (2018) pode não ser o melhor da franquia, mas tira por completo o gosto ruim deixado pelas edições anteriores. 

A caçada evoluiu 

A história foca em Quinn McKenna (Boyd Holbrook de “Logan”), um atirador de elite do exército estadunidense em missão no México que tem um inesperado encontro com um Predador quando a nave da criatura cai na Terra. Mckenna sabe que ninguém acreditará na sua história e resolve enviar partes do equipamento alienígena para sua casa nos Estados Unidos, mantendo assim um trunfo contra as autoridades que pretendem simplesmente eliminar as testemunhas do evento. No entanto, o pacote acaba sendo interceptado por seu filho Rory McKenna (Jacob Tremblay) — um garoto com transtorno do espectro do autismo, cujo savantismo linguístico o torna essencial na luta contra os alienígenas.

Entre alienígenas, agências governamentais secretas, e alienígenas ainda maiores, os Mckenna terão que correr muito para sobreviver. Eis que entram em cena os “pirados”, uma unidade de ex-militares com distúrbios psicológicos, que assumem a briga de McKenna conforme tentam lidar com seus próprios demônios.

Shane Black assina o roteiro com outro ícone oitentista, Fred Dekker (Deu a Louca nos Monstros, A Noite dos Arrepios, RoboCop 3…), e a dupla usa e abusa do que eles mais sabem — clichês dos anos 80. Não faço aqui uma crítica, bem com a dupla também não parece fazer uso disso como sátira dentro do filme. A impressão é que os dois realmente entendem desse estilo e finalmente tem a liberdade para “refinar a sua arte”.

Os outros caras legais...

Você vai encontrar todas aqueles elementos clássicos de 30 anos atrás. A trupe de desajustados (carismáticos e com talentos peculiares), a criança que parece saber mais do que todos os adultos, rivais que devem unir forças para superar um inimigo comum… Estão todos aqui.

A dupla “Black & Dekker” revê esses elementos sem deixá-los datados. Mesmo com os deslizes da história no terceiro ato, os dois conseguem entregar um filme coerente, engraçado e que agrada em cheio aos fãs do gênero, independente da sua idade.

Ao bom caçador convém boa caça!

Manejando com muita habilidade as cenas de ação com os momentos mais calmos, Shane Black oferece a medida certa de conteúdo para os personagens se desenvolverem e não parecem meros alvos para o Predador. Entra aqui o grande trunfo do filme, o elenco. Sustentando todo o filme, o elenco principal, encabeçado por Boyd Holbrook, carrega a película com muito louvor.

Na velha tradição do “chocolate com baunilha”, Holbrook encontra em Trevante Rhodes um parceiro à altura. Na pele de Gaylord "Nebraska" Williams, Rhodes ajuda a definir a dinâmica que rege todo o filme, equilibrando brutalidade e humor.

Suas atualizações de porradaria foram atualizadas!

A química entre os personagens transparece de maneira natural, mesmo quando o ritmo do filme fica mais acelerado. Além de Quinn e Nebraska, que agem como parceiros de longa data, outra dupla também se destaca: Keegan-Michael Key (como Coyle) e Thomas Jane (na pele de Baxley). Familiarizados com comédias de ação, os dois são o “alívio cômico” propriamente dito.

Do outro lado temos o excelente Sterling K. Brown como o asqueroso Will Traeger. Em uma atuação bem distante do Randall Pearson (do seriado “This is Us”), Brown assume por completo o papel de “vilão” não-oficial da película.

“A caça pode ferir mortalmente o caçador”

Entre erros e acertos, Shane Black faz justiça a uma das franquias mais interessantes e mal aproveitadas de Hollywood. Com uma criatura imponente e uma mitologia que se expande muito além do cinema, os filmes da série nunca conseguiram alcançar o mesmo apelo que o original. Ciente disso, Black se conforma em “reescrever” o que deu certo no passado, entregando uma grande ode aos filmes de ação dos anos oitenta e reinterpretando alguns elementos para uma nova geração.

O Predador (2018) é uma releitura interessante do estilo oitentista de "chutar traseiros"

O diretor constrói cenas de ação elaboradas e empolgantes. Essa correria toda ajuda na maior parte do filme, desviando a atenção do espectador da trama, no entanto, tudo desmorona no terceiro ato. Quando colocada em foco, a história não possui fôlego suficiente para se sustentar sozinha. Felizmente o elenco ajuda a carregar esse peso e mesmo com os inúmeros deslizes narrativos o filme como um todo é muito agradável.

Fãs da franquia podem questionar as influencias para o futuro da franquias, ou o uso indevido da criatura dentro da sua mitologia expandida, mas considerando o histórico, “O Predador” (2018) merece muito louvor ao criar algo diferente dentro de um modelo já explorado a exaustão. O que não significa dizer que a memória de "O Predador" (2018) predurará com você muito além de alguns passos depois de sair da sala de cinema...

Fonte das imagens: Divulgação/20th Century Studios

O Predador (2018)

Um dia é da caça e outro do...

Diretor: Shane Black
Estreia: 13 / set / 2018