Crítica do filme Orgulho, Preconceito e Zumbis
Precisa dizer muito?
Cada vez que o cinema internacional lança uma adaptação de uma história clássica inventando moda, eu fico imaginando e admirando a audácia e a criatividade do sujeito que leu uma obra prima da literatura mundial e pensou: “hmmm, que história boa, imagina se tivesse zumbis? Ou vampiros?”
Foi assim que eu me senti quando saiu Abraham Lincoln – Caçador de Vampiros e a história se repetiu agora com Orgulho, Preconceito e Zumbis, que incorpora simpáticos comedores de cérebros à obra Orgulho e Preconceito, de Jane Austin.
O enredo original é focado nos conflitos de classe gerados quando o ricaço Mr. Bingley (Douglas Booth) chega à cidadezinha onde vive a família Bennet, que é de uma classe social inferior. O recém-chegado se apaixona por uma das filhas dos Bennet, Jane (Bella Heathcote), envolvendo na treta a família inteira – as irmãs Elizabeth, Lydia, Mary e Kitty.
Elizabeth (Lily James, a fofíssima Lady Rose, de Downton Abbey) é a protagonista, a mais desbocada das irmãs e a que não engole preconceito de classe, ainda mais quando ele vem de um dos amigos do Mr. Bingley, o orgulhoso Mr. Darcy (Sam Riley) – que, claro, é seu parzinho romântico da história.
O que muda para essa adaptação escrita e dirigida por Burr Steers? Quase nada, já que a parte romântica e dramática do roteiro é bem fiel ao original. Bem, tem o fato de que tudo isso acontece enquanto o mundo está sendo tomado por zumbis, claro. É até um pouco admirável que o cara tenha conseguido incorporar os ~walkers~ na história sem mexer quase nada na base do livro que a Jane Austen penou tanto pra escrever. Nesse ponto, ele bem que merece respeito!
No filme, as jovens filhas da família Bennet não se encaixam nos padrões mocinha comportada preparada pra casar, embora seja isso que a mãe das meninas espera delas. Ao contrário, são treinadas na China para combater os zumbis e sabem se defender muito bem sozinhas.
A história começa a se encaminhar quando entra em cena o amistoso oficial George Wickham (Jack Huston), que vai se mostrando não ser exatamente quem Elizabeth pensa que ele é.
É óbvio que Orgulho, Preconceito e Zumbis não foi feito pra ser aclamado pela crítica pelo primor nos quesitos mais técnicos. É um filme escuro na maior parte do tempo, mas não de um jeito misterioso, está mais pra bizarro. A trilha sonora é bem clichê e pouco surpreendente, assim como o figurino e a fotografia não são dos melhores.
E tem os zumbis, que até que são razoavelmente bem feitinhos – porém medíocres, se você compara com os da série The Walking Dead, por exemplo. Levando em conta que são duas produções com orçamentos e objetivos completamente diferentes, podemos dar um desconto, né!
O que me chamou a atenção, mais do que a caracterização, é que os zumbis falam e são conscientes. Salvo o fato de que eles perdem um pouco a noção quando se trata de cérebros, no restante do tempo são civilizados e fazem até piadinha.
Para quem gosta de histórias de zumbis e é fã das criaturas na sua forma mais lenta e menos esperta, isso pode incomodar um pouco. Eu acho que zumbis são divertidos sempre, então não me perturbou que eles falassem, pensassem e até fizessem emboscadas com suas presas.
Orgulho, Preconceito e Zumbis não é um título que você vai ver esperando um grande filme. Acho que isso ajudou pra que eu não saísse do cinema achando que perdi um tempo que podia ter usado revendo Zumbilândia em casa – embora essa seja sempre uma boa pedida.
Por uns 15 segundos, achei que Orgulho, Preconceito e Zumbis até ia conseguir me surpreender de verdade com o desenrolar da história, mas não foi o caso. No entanto, apesar de ser uma salada e atirar pra todos os lados, o longa consegue ser divertido e razoavelmente bem construído.
Vejam, é uma produção que traz moças bonitas vestidas de um jeito tão sexy quanto um figurino de uma história que se passa no século 18 permite (ou seja, decotes, basicamente), empunhando espadas e machados e cortando os pescoços dos zumbis. Como a história é legal (obrigada, Jane Austen), a fórmula acaba sendo até que bem acertada.
E, claro, tem a personagem mais largada de paraquedas da história, a Cersei Lady Catherine de Bourgh (Lena Headey), que honestamente faz pouquíssima diferença para o longa, mas está ali pra parecer bad ass.
Qual, afinal, o propósito daquele tapa-olho, que não para parecer bad ass?
Assim, se você é exigente e procura um roteiro amarrado e se importa com qualidade técnica, nem inventa de ver esse filme, jovem, que ele não é pra você. Mas, se você curte produções mais escrachadas e seu objetivo é ver algo pra não pensar muito e, de quebra, curtir uns sotaques britânicos delicinhas, vai fundo que quem sabe você consiga curtir!
Com zumbis, sempre fica melhor!