Crítica do filme Ouro

Meu Picareta Favorito

por
Fábio Jordan

06 de Julho de 2017
Fonte da imagem: Divulgação/Black Bear
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 6 min

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Sonho americano: um conjunto de costumes e hábitos, o qual dita que todos devem ter liberdade e oportunidade, através de trabalho duro, para o sucesso e a prosperidade numa sociedade sem barreiras.

Não são poucos os sonhadores retratados em filmes que falam do tão buscado sonho americano. Em muitos casos, os roteiros mostram eventos históricos, o que inclui ações surreais de malandros que fizeram de tudo para burlar toda e qualquer regra e, assim, se dar bem a qualquer custo.

Curiosamente, o tal “trabalho duro” nem sempre vem dos protagonistas das histórias. Em grande parte dos casos, algumas pessoas ficaram famosas ao ter ideias mirabolantes para engrupir tantas pessoas quanto eles pudessem, com um único objetivo: ficar rico.

Kenny Wells (Matthew McConaughey) é um desses homens que, após ver a Washoe Mining – a empresa de mineração de seu pai – quase ir para o brejo, resolveu apostar tudo num golpe de sorte. Para sair da pobreza e encontrar a mina de “Ouro” tão almejada, ele teve o brilhante plano de se juntar ao geólogo Michael Acosta (Edgar Ramirez) e explorar uma floresta na Indonésia.

Numa pegada descontraída, tal qual “O Lobo de Wall Street”, o filme roteirizado pela dupla John Zinman e Patrick Massett acaba sendo uma aventura divertida sobre as picaretagens de um cara que não desistiu dos sonhos. A história real talvez não foi bem assim, mas a versão cinematográfica tem seu charme. Pegue o seu café e vem comigo para falarmos mais do ouro por trás do roteiro.

Nem tudo que reluz é ouro

Existem ideias genuinamente geniais e existem outras malandramente geniais – e claro que a gente fala da segunda opção aqui. Sem aprofundar no desenrolar da coisa, é curioso reparar em pessoas corajosas como Kenny Wells, que planejam golpes ridiculamente absurdos, tanto que é até difícil acreditar que eles conseguem enganar sujeitos supostamente inteligentes e bem-sucedidos.

Basicamente, é tudo uma questão de lábia, de persuasão e de sair na frente. O protagonista dessa história é bom de papo e ligeiro na hora de preparar o engodo para atrair investidores para o seu plano. Acontece que toda essa astúcia invariavelmente gera situações engraçadas num filme que, apesar de ser uma aventura, tem muitos momentos cômicos.

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Nesses casos, os apostadores que investem pesado acabam vendo que o ouro nem sempre é palpável ou mesmo que tudo era bom de mais para ser verdade. E, no fundo, muita coisa apresentada aqui não é verdade, já que o filme se adapta apenas em alguns fatos sobre um cara chamado David Walsh, que investiu pesado no ramo, mas que teve uma história um tanto distinta em alguns aspectos.

Assim, apesar de ter alguma verdade, o roteiro vem cheio de invenções para apresentar novos personagens ao público. O roteiro tinha potencial para fazer uma dinheirama, mas acaba se afundando um pouco na lama ao apostar muito em seu protagonista e ao deixar de desenvolver bem outras partes, que até ficam cansativas e pouco construtivas para o filme. Não é por acaso que mesmo com nomes de peso, a repercussão não vem sendo das melhores.

Da Lama ao Luxo

A descontração passada pelo roteiro é o que dá o ritmo certo ao filme, mas o “vai e vem” da história, mesclada com um personagem irritante é perigoso para o desenvolvimento. Particularmente, achei tolerável e engraçada boa parte da história, mas é possível perceber quando a coisa está pendendo demais para o insuportável, mas infelizmente o script peca ao não optar por algumas fugas do protagonista.

No fim das contas, esse é o xis da questão. Se por um lado a gente tem aqui uma situação inusitada e um ótimo ator que consegue ludibriar todo mundo; por outro, temos um personagem um tanto patético. Wells é um cara que implora por atenção, o que deixa a situação meio bizarra, em vez de focar apenas no cômico ou no brilhantismo que o ator entrega em sua performance.

Agora, se tem uma coisa que não dá para reclamar, é do próprio Matthew, que passou por uma transformação incrível para fazer “Ouro”. Tanto na parte da maquiagem e do figurino, o cara está um verdadeiro figurão. O jeitinho dele está ali e agrega valor ao personagem, mas, novamente, a culpa definitivamente não é da astro, mas sim do cenário em que ele foi colocado.

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Felizmente, o ator Edgar Ramírez contracena muito bem e agrega valor ao camarote com sua beleza e talento ao interpretar um personagem que contrapõe o protagonista. Bryce Dallas Howard e Corey Stoll também ajudam bastante para desviar um pouco o foco do personagem principal, o que deixa a coisa mais crível e interessante de assistir.

Falando na produção, a fotografia de “Ouro” é focada, em boa parte, em cenários apertados de escritório, mas há destaque para as cenas nas florestas da Indonésia — que dão um ar saudável para o filme e mostram um pouco do trabalho duro dos caras na corrida pelo ouro. Curioso perceber que a edição do filme é bastante pautada nos tons dourado e verde, então pode esperar uma obra com uma cor mais sépia, o que colabora para dar um tom de ouro envelhecido.

A trilha sonora bastante comercial não representa muito no todo, mas embala legal os momentos mais divertidos. A direção não é excepcional, mas funciona bem para uma obra desse tipo. É claro que falta muito para chegar no nível de Scorsese, que arrasou com seu “Lobo de Wall Street”, porém tudo em ordem nessa parte funcional do longa-metragem.

Enfim, o filme “Ouro” é uma pedida legal para aquele cineminha divertido, mas não é a coisa mais brilhante do momento. Agora, resta saber quando o filme vai chegar às salas do Brasil para fazer mais uns trocados, já que estão adiando a estreia com medo de que ele não consiga tantas moedas de ouro — eu acabei vendo o filme no avião durante uma viagem internacional e “de grátis” até que valeu a pena.

Fonte das imagens: Divulgação/Black Bear

Ouro

Eles achavam que encontrar ouro seria difícil. Mas mantê-lo vai ser pior.

Diretor: Stephen Gaghan
Duração: 120 min
Estreia: 22 / jun / 2017