Crítica do filme Pequenos Delitos
O passado não perdoa
A chamada “sociedade” é uma instituição tomada de regras, que determinam a forma como as pessoas devem viver — e como elas devem pagar caso não sigam as leis.
Neste clube, há alguns tipos caricatos de cidadãos, muitos dos quais são usados com frequência para roteiros de filmes com alguma lição sobre a vida.
Este é mais ou menos o caso em “Pequenos Delitos”, novo título original do Netflix que mostra o retorno de um criminoso à sociedade. No centro da história temos o ex-policial Joe Denton (Nikolaj Coster-Waldau que você conhece de Game of Thrones), culpado de um crime, pelo qual teve de passar seis anos na cadeia.
O que ele fez de tão terrível? Bom, a questão aqui não é o que ele fez, mas como as pessoas que o cercam vão reagir à sua libertação. Basicamente, toda atitude tem consequências e o passado pode ser uma pedra no sapato para quem pretende reconstruir a vida. Seria a reintegração na sociedade um mito ou seria este policial um cara muito azarado?
É inegável que falar sobre crimes, bandidagem, policiais corruptos, máfia e outros temas correlacionados é muito válido em tempos que tudo isso dá base para inúmeros debates. Assim, tenho de ser honesto em admitir que a proposta de “Pequenos Delitos” é, em partes, necessária, porém o viés pode não ser o mais adequado.
Quase tudo neste filme é alinhado para um bom desenvolvimento: um crime, um policial corrupto, camaradas do pior tipo, problemas familiares e a reintegração. Acontece que só ter as cartas e não saber jogar não adianta nada. O problema é o desenrolar lento para as desventuras — ainda que tenham algumas sacadas que servem para surpresas.
Apesar de errar na dosagem de alguns trechos, o filme acerta em cheio sobre a corrupção e os grilhões impossíveis de quebrar com um passado nebuloso. Ainda que o protagonista tenha cometido algo que justificou uma penalidade, o sentimento que fica é de dó, ainda mais levando em conta que ele pagou pelo que fez e talvez o rancor esteja acima do necessário.
Só que o filme vem para mostrar um caso bem às avessas, onde o cidadão paga pelos seus pecados de forma redobrada. A lição é bem clara e os tipos de pessoas envolvidas na história mostram um lado sombrio do ser humano, em que não há perdão, mesmo para um homem que um dia já fez parte da justiça. Errar pode ser humano, mas não é admissível.
Recentemente, a gente gravou um podcast comentando sobre os filmes de baixa qualidade do Netflix — sejam pela execução precária ou pelo roteiro com argumento fraco. Muitos títulos, por sinal, nem são do serviço de streaming, já que são de autoria de estúdios independente e apenas são negociados para distribuição exclusiva na plataforma.
Todavia, no caso de “Pequenos Delitos”, temos uma obra com o selo “An Original Netflix”, a qual poderia entrar para nossa lista de produções meia-boca. Ok, não dá para desmerecer todo o filme, mas a verdade é que o andamento da coisa está longe de ser cativante. A premissa é boa, porém o filme demora para engatilhar e, nesse meio tempo, cansa o público.
Quanto à produção, temos apenas um filme intermediário, com cenas que seguem a cartilha de uma direção funcional, mas nada surpreendente. Fotografia ok, diálogos básicos e uma trilha até boa para o conjunto da obra. O filme tenta se apoiar sobre Nikolaj Coster-Waldau, porém o ator sozinho, em meio a um script bagunçado, acaba se perdendo junto com o andar da carruagem.
O ritmo lento e a bagunça no roteiro acabam cansando o público
Não há nada que o personagem possa fazer para se salvar em meio ao azar, de modo que só resta ver as cobranças do passado. Quem sabe, uma abordagem linear com menos enrolação funcionaria melhor. No fim, “Pequenos Delitos” acerta ao abordar alguns lados cruéis do ser humano, mas não se mostra um filme interessante para manter o espectador centrado.
Não cometa o crime, se não aguenta cumprir a pena...