Crítica do filme Rua Cloverfield, 10
Tensão ao enfrentar o desconhecido
Há alguns anos, a Paramount lançou um filme curioso chamado “Cloverfield: Monstro”, uma obra de ficção de baixo orçamento que pretendia inovar no gênero found-footage (aquelas filmagens amadoras em primeira pessoa com câmera tremida e ceninhas de susto).
Agora, a produtora aparece com um filme que supostamente se encaixa no mesmo universo, mas que não necessariamente é uma continuação ou um projeto que tem ligação direta com o primeiro longa-metragem.
Enquanto o primeiro deixava claro que teríamos ali um filme sobre um monstro, muitas cenas de ficção e alguns sustos, o segundo filme não se apresenta ao público como uma obra de ficção. Na trama de “Rua Cloverfield, 10”, acompanhamos a história de uma jovem (Mary Elizabeth Winstead) que, após um acidente de carro, acorda em um esconderijo subterrâneo.
Neste local assustador, sem ter muita recordação do que aconteceu, ela se depara com um homem (John Goodman) que alega ter salvo sua vida. Não bastasse o acidente e toda a desconfiança, este estranho ainda a informa que não será possível sair do local por um bom tempo, devido a um ataque químico que deixou o exterior em condições inapropriadas para vida.
“Rua Cloverfield, 10” é um filme asfixiante, que deixa a plateia apreensiva e cheia de dúvidas quanto a toda situação. A trama é repleta de tensão, num jogo em que o raciocínio do espectador é colocado em cheque conforme novas evidências são colocadas na mesa.
E se o que este homem estiver falando for verdade? Seria ele um homem perigoso? Por que não é possível entrar em contato com a polícia ou pedir ajuda? São tantas dúvidas, tantas possibilidades. O filme se apoia justamente nesses pequenos detalhes para dar continuidade aos primeiros fatos e aumentar o suspense.
Essa montanha-russa no roteiro com altos e baixos é justamente o ponto forte do filme. Num momento, você está confortável, sabendo que a protagonista está bem e tudo ali parece verdade. Nas próximas cenas, a coisa muda de figura quando algumas suposições dão uma virada na história.
Não convém entrar em detalhes sobre a história – afinal, é importante você mesmo conferir o filme na telona e descobrir o desenrolar deste caso curioso –, mas é válido constatar que temos aqui uma obra que acerta tanto na elaboração quanto na execução.
O cenário escolhido para esta trama acaba favorecendo na hora de causar uma sensação de pânico, já que estamos num local fechado, claustrofóbico e com dois estranhos que podem estar escondendo muita coisa por debaixo dos panos. A montagem das cenas acaba contribuindo também para o desenrolar dos fatos. Muitas cenas com zoom, foco nos detalhes e uma movimentação limitada são diferenciais importantes que funcionam legal.
“Rua Cloverfield, 10” abandona o estilo de abordagem em primeira pessoa (ainda bem), mas continua contando os fatos de perto para dar uma sensação de receio e pavor constante. Os personagens reservam muitos mistérios e o que está lá fora é algo que deixa o público ainda mais curioso. A trilha sonora e a mixagem de som são aspectos de destaque, pois contribuem na hora de dar alguns sustos.
As atuações de Winstead, Goodman e Gallagher também são importantes na hora de contar a história. Os atores se esforçam e se encaixam bem nos papéis, culminando em debates tensos que agregam muito para a proposta do longa-metragem.
Enfim, apesar de não ser uma continuação do filme do monstro, “Rua Cloverfield, 10” consegue chamar a atenção em vários aspectos. É uma obra simples, de baixo orçamento, com roteiro linear e personagens convencionais, mas as surpresas guardadas a sete chaves e o desenrolar da trama surpreendem. Uma boa pedida para o cineminha de fim de semana!
Monstros aparecem de várias formas