Crítica do filme Simone
Realidade simulada com um tom mais leve
“S1m0ne”, produção de 2002, codinome para “Simulation One”, é um título sugestivo em um mundo binário, dominado pelas fronteiras entre essências e aparências, verdades e mentiras, um mundo real contra o digital. O que essa produção tem a nos dizer sobre as Fake News e pequenas mentiras que vão aos poucos se tornando verdade?
“Simone”, com direção de Andrew Niccol, já em 2002 nos surpreenderia com uma temática tão atual para este ano de 2021: a projeção de efeitos de verdade na cultura, por meio da massificação da mentira.
Em suma, o filme nos conta como a insistência na divulgação de pequenas mentiras na sociedade pode causar um desastre quando a opinião pública passa a acreditar em signos forjados, mas que criam efeitos de verdade. São Al Pacino e Winona Ryder que nos brindam com boas atuações, em um universo simulado, como a temática de Matrix, mas dissimulado no âmbito da indústria cinematográfica.
No filme, esse tema cria a narrativa de um ícone pop (uma mulher perfeita, Simone), sem que o ídolo seja de carne e osso. Assim é “S1m0ne”, universo em que um famoso produtor de filmes, Viktor Taransky, cria uma simulação perfeita, interpretada por Rachel Roberts, para encantar multidões.
Ao acontecer um fato inusitado com a celebridade criada por Viktor Taransky, sua projeção, que somente existia no seu computador e na sua mente doentia, agora passa a ser objeto de investigação, o que obriga Taransky a explicar o suposto desaparecimento da garota. Por mais que ele se esforce para explicar que ela não existe, agora é tarde, a mentira se tornou verdade.
A melhor cena, sem dúvida, que remete ao mito da Caverna de Platão, refere-se a um momento no qual o criador da simulação, Taransky, é supostamente flagrado com a sua criatura, Simone, a simular uma cena de amantes. No contexto, as suas sombras reproduzem a imagem dos dois através das janelas de um hotel de luxo: hilário e perfeito momento em que somente vemos as sombras de um mundo simulado (parcial) por trás da verdade que o público fanático acredita que vê.
Com temática e expressão que nos lembram “The Matrix” (1999) (paletas de verde e azul), mas com um andamento mais lento (parecido com a direção anterior de Andrew Niccol, “Gattaca”) e um tom de comédia e drama, “Simone” é uma produção que vale a pena pela reflexão social atualizada, apesar dos seus quase vinte anos.
Bom filme para refletir a respeito das Fake News contemporâneas e a maneira pela qual as massas podem ser manipuladas através de um apelo vindo da indústria cultural.
Confira a crítica de Simone também em vídeo:
Se eu fosse 10% do Ryan Gosling, tava bom! Levi Henrique Merenciano é linguista e semioticista, aficionado por cinema e games. É dono do canal Cinessemiótica, página especializada em indicação de filmes cults, documentários e lançamentos.