Crítica do filme Slender Man: Pesadelo Sem Rosto
Se você vir já será tarde
Criado a quase uma década atrás, lá nos idos de 2009, como parte de uma batalha de edição de imagens do fórum de discussão Something Awful, o Slender Man “reciclou” mitos do passado e renovou a tradição oral dentro da internet. O desafio era simples, “criar imagens de teor paranormal”, mas o usuário Eric Knudsen (também conhecido como "Victor Surge") foi além. Ao apresentar duas imagens em preto-e-branco de grupos de crianças acompanhadas de uma figura espectral alta vestida de terno preto, o artista recriou um mito transformando-o em meme.
Desde então a criação de Knudsen já rendeu filmes, videogames, livros e outros projetos que expandem e moldam a mitologia da criatura da mesma forma que as antigas tradições orais adaptaram histórias conforme eram contadas. Agora é a vez da Sony entrar na brincadeira e tentar faturar um trocado contando a sua versão do “homem esguio”.
Com um elenco jovem e promissor, comandado por Joey King (A Barraca do Beijo), e roteiro de David Birk (do controverso Elle) o filme Slender Man - Pesadelo Sem Rosto fica mudo e não empolga em nenhum momento. A direção monótona de Sylvain White (do igualmente horrível Eu Sempre Vou Saber o que Vocês Fizeram no Verão Passado) aposta em clichês e tem dificuldades para acertar o tom de suspense. No final, se você não cochilar nenhuma vez, fica apenas a impressão de que trata-se de mais uma boa ideia mal aproveitada.
O impacto social do Slender Man se tornou evidente quando uma série de incidentes violentos foram relacionados ao mito, sendo o mais notável o caso do esfaqueamento em Waukeshasin, no qual Anissa Weier e Morgan Geyser, duas garotas de 12 anos, deram 19 facadas em uma colega como parte de um ritual para aplacar os desejos de Slender Man.
Mesmo que moralmente contestável, a terrível história real das garotas de Waukeshasin já seria uma base muito mais interessante e relevante do que a concebida por David Birk. Reaproveitando elementos típicos do terror sobrenatural e transformando o Slender Man em uma lenda urbana nos moldes de Candyman - que após conjugado passa a perseguir seus invocadores - o roteirista não se arrisca e por conta disso cai na vala comum dos filmes de terror pré-adolescente.
Rumores de intervenções do estúdio na edição final podem explicar algumas das falhas da história e, principalmente, da montagem do filme. Mesmo assim, o diretor Sylvain White faz escolhas erradas ao longo de boa parte da fita. Se o início é promissor, com um clima de suspense psicológico, tudo vai por água abaixo do segundo ato em diante.
Sustos previsíveis e uma narrativa monótona deixam o filme arrastado e, francamente, chato. O elenco principal até entrega momentos interessantes, mas a direção pouco inspirada e o roteiro derivativo não ajudam os atores a explorarem outros aspectos da cena, ficando atados a meras reações de medo e confusão. Uma pena haja vista o potencial do personagem e da própria equipe que, em trabalhos anteriores, já mostraram talento.
Se você procura um filme de terror sobrenatural melhor esperar por outra edição da série Invocação do Mal ou quem sabe A Entidade - que é uma mutação óbvia da historia do Slender Man. Ambas as produções usam os mesmos clichês visto em Slender Man: Pesadelo Sem Rosto, mas com roteiros e direção muito mais inspirados.
Agora, se o que você quer é algo especificamente sobre o Slender Man também existem opções muito melhores. Um ótimo exemplo é o documentário da HBO, Cuidado com o Slenderman, que aborda o esfaqueamento em Waukeshasin e a mitologia do personagem para criar um filme inteligente e muito mais aterrorizante do que a obra de Sylvain White.
Slender Man: Pesadelo Sem Rosto e um filme lento que não aproveita as deixas que ele mesmo lança. A ideia de explorar os limites entre alucinação e realidade é uma proposta interessante e que se encaixa muito bem no mito do Slender Man, mas que é muito mal aproveitada no filme. Com uma direção nada inspirada e um roteiro insípido, Slender Man: Pesadelo Sem Rosto é um desperdício de bons conceitos e de um elenco jovem muito promissor.
A lenda sem rosto ganha vida