Crítica do filme Sob o Mesmo Céu
História leve, como tudo que vem do Hawaii
Bradley Cooper e Emma Stone estão no caríssimo elenco que o diretor Cameron Crowe selecionou para o filme Sob o Mesmo Céu, um filme que pode ser caracterizado como drama misturado com comédia romântica. Desde 2013 que esse trabalho vinha sendo realizado, mas esse tempo todo não quer dizer que o resultado final tenha sido tão surpreendente.
Cooper interpreta o militar Brian Gilcrest, que viaja para a capital havaiana de Honolulu com objetivo de acompanhar o lançamento de um satélite financiado por um rico empresário chamado Carson Welch (Bill Murray). Para que o projeto se concretize é necessário persuadir a população local a conceder grande parte de seus territórios aos encarregados desse programa espacial, sem estarem cientes de que a missão é enviar armas para o espaço e acirrar as tensões com países rivais.
Nesse retorno à ilha, Brian reencontra Tracy (Rachel McAddams) seu antigo amor que já tem dois filhos e está casada com o silencioso John (John Krasinski). Esse reencontro deixa ambos esperançosos com a possibilidade de renascer o sentimento que tinham antes de se separarem, mas a presença da capitã Allison (Emma Stone) faz Brian repensar o destino de sua vida amorosa.
O enredo é muito previsível e marcado pela mistura entre a vida profissional e afetiva de Brian, colocando-o em contradições com seus próprios valores. Alisson aparece não só como uma oportunidade de se apaixonar novamente, mas também como uma conselheira que orienta sobre o equívoco de lucrar com o comprometimento da vida dos habitantes da ilha e promover ainda mais violência. Desde as primeiras cenas é fácil adivinhar o desenvolvimento da trama, bem leve e digna de sessão da tarde.
É boa a interpretação dos atores, embora as piadas não sejam tão engraçadas. O estranhamento que acontece entre Brian e o atual marido de Tracy é o que há de mais cômico e faz lembrar o estilo de humor dos filmes de Adam Sandler. Aliás, por acontecer no Havaí e contar com certa leveza de humor, é impossível não lembrar de “Como se fosse a primeira vez”. A trilha sonora composta pela dupla Jónsi & Alex também colabora muito com esse clima havaiano.
Há dois problemas que fazem com que Sob o Mesmo Céu deixe muito a desejar. O primeiro, diz respeito ao protagonista: trata-se de um soldado fracassado que busca algum sucesso por meio de um projeto mal intencionado, mas que se arrepende da escolha ambisiosa e vergonhosa graças ao companheirismo da capitã. Ruim é o desfecho que o transforma num herói de modo superficial e passando por cima de tudo que até então havia feito de errado, como se o amor romântico fosse o verdadeiro responsável por converter as pessoas em sujeitos mais compromissados com a ética.
O segundo problema é, novamente, a superficialidade. Dessa vez, no modo como são tratados os povos tradicionais da ilha. É visível que existem alguns movimentos de resistência na região, que solicitam respeito à natureza e aos costumes da população local. Mas, como tudo que ocorre na ficção estadunidense, o destino dos oprimidos é definido pelo homem branco imbuído de um heroísmo enjoativo e extremamente clichê.
A vida não é assim tão colorida como se propõe nos filmes desse gênero. Os grandes problemas não são facilmente resolvidos pressionando algumas teclas num poderoso computador. Entretanto, não precisamos de todo esse amargor digno de um crítico de cinema: se bater aquela vontade de colocar os neurônios para descansar assistindo algo bobinho e com final feliz, Sob o Mesmo Céu pode ser uma boa opção. Embora boa mesmo seja a música do Lenine com o mesmo nome...