Crítica do filme Steve Jobs
Desmistificando
O título desta crítica talvez seja a maneira mais simples de resumir a minha experiência ao assistir "Steve Jobs", dirigido pelo quase sempre incrível e brilhante Danny Boyle (“Trainspotting”).
Na telona, nós vemos Michael Fassbender (“Shame”) dando vida ao sujeito responsável pela fundação da Apple ao lado de Steve Wozniak, que obviamente também aparece na película, interpretado por Seth Rogen (“Superbad”).
Ao lado de Jobs está a sempre presente Joanna Hoffman, interpretada por Kate Winslet (“Titanic”), uma das poucas pessoas que, reconhecidamente, sempre bateu de frente com o guru da Apple. Completam o elenco ainda nomes como Jeff Daniels (“Looper”), no papel do executivo John Sculley, e Michael Stuhlbarg (“MIB - Homens de Preto 3”), como o desenvolvedor Andy Hertzfeld.
O grande trunfo do filme foi a forma como organziou os acontecimentos retratados, contando três momentos distintos e cruciais da biografia do protagonista: o frustrado lançamento do Macintosh, em 1984, e a consequente demissão de Steve Jobs de sua própria empresa; o lançamento da NExT, a companhia fundada por ele após a Apple, em 1989; e, por fim, o badalado lançamento do iMac, em 1999.
Em cada um desses momentos, tornou-se marcante a arrogância e a falta de trato social de Jobs, algo que parece ser a marca dos grandes gênios, mas que o próprio roteiro trata de desconstruir em uma fala de Steve Wozniak quando a obra chega à sua terceira parte. A montagem aqui tem um papel decisivo, afinal o principal tempero de “Steve Jobs” é a organização da história intercalando momentos diferentes, repletos de flashbacks e conversas do passado e do presente que se complementam.
A condução que o roteiro faz da história consegue destacar a personalidade difícil e a moralidade altamente duvidosa de Jobs, apesar de não ir a fundo em períodos mais sombrios, digamos assim, da história do cofundador da Apple. As intervenções de Steve Wozniak, muito bem interpretado por Seth Rogen, funcionam como um pêndulo moral para Jobs, um ponto alto do roteiro, pois é ele quem chama o guru da Maçã à realidade, quem convida o “todo-poderoso” à reflexão e à humildade — mesmo que os resultados não sejam os esperados.
Por falar em atuação, Fassbender provavelmente conseguiu exaltar a admiração e o desprezo que fãs e críticos possuem pela figura de Jobs com um trabalho impecável, apesar da pouca semelhança com o personagem. Kate Winslet também oferece uma atuação irrepreensível, algo que também não surpreende a quem já viu outras atuações suas.
O resultado final é uma obra capaz de capturar um tanto da complexidade e da genialidade, muitas vezes arrogante e desprezível, de Steve Jobs. Um recorte preciso, que não faz arrodeios e vai direto ao ponto. A linguagem escolhida para contar ao grande público um pouco dos bastidores de produtos marcantes da história da tecnologia é simples, sem pesar nos jargões técnicos, e foi capaz de ressaltar a megalomania e a aptidão de Jobs para se apresentar como um guru, cultivando uma febre que o transformou no líder de uma seita com seguidores dispostos a abri suas carteiras para garantir a sua entrada no futuro.
Steve Jobs - A verdadeira história sobre o gênio que levou a Apple ao sucesso