Crítica do filme Sully: O Herói do Rio Hudson

Preparar para impacto!

por
Fábio Jordan

12 de Dezembro de 2016
Fonte da imagem: Divulgação/Warner Bros. Pictures
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 5 min

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Fato: o avião é o meio de transporte mais seguro do mundo. Fato: nem por isso nos sentimos extremamente seguros ao entrar numa aeronave.

Também, não é para menos, com o estardalhaço que a mídia faz em torno dos acidentes, é normal que as pessoas fiquem receosas cada vez que embarcam rumo aos céus.

Por mais seguro que seja, um avião não é infalível e está sujeito a defeitos mecânicos, interceptações da natureza, erros humanos e outros tantos problemas. Foi por conta de um incidente desses que, no dia 15 de janeiro de 2009, a aeronave comandada pelo Capitão “Sully“ (Tom Hanks) sofreu uma queda inesperada e colocou 155 vidas em risco.

No entanto, este caso teve um final feliz, pelo menos para os passageiros e tripulantes. O evento conhecido como “O Milagre do Hudson” marcou a história quando Sully pousou o avião danificado sobre o Rio Hudson. Ele virou um herói, mas também teve sua carreira ameaçada quando a companhia iniciou uma investigação sobre sua manobra arriscada.

O fardo do heroísmo

Ok, dá pra saber toda a história de Sully e sua manobra insana antes mesmo de entrar nos cinemas. O roteiro embasado numa história verdadeira, complementado com notícias de jornais e incrementado com depoimentos de pessoas que viveram o drama no famoso caso é um tanto evidente, então talvez não seja uma grande surpresa para alguns da plateia.

Só que é justamente o desvio do óbvio que faz “Sully: O Herói do Rio Hudson” ganhar a atenção nos primeiros minutos. A montagem do roteiro não se dá de forma linear, por isso você não vai sentar na cadeira e apenas assistir uma reconstrução dos fatos. Negativo, o filme segue por um caminho em que as peças do quebra-cabeça são apresentadas aos poucos.

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Mas se o filme não vai direto ao ponto, qual é a sacada para cativar o público? Não vou entrar em detalhes, porém é válido comentar a abordagem de temas controversos que envolvem situações milagrosas como as deste caso. O ponto principal é justamente o pós-acidente, em que começam investigações sobre o avião, o capitão, as condições, os riscos.

Enquanto o mundo todo olha para o milagre, a indústria e a mídia focam nas hipóteses, nas dúvidas e nas possibilidades. Para a população americana, Sully foi um verdadeiro herói, porém a companhia aérea precisa verificar a culpa dele no caso, já que simulações apontam para situações que poderiam ser muito menos perigosos.

É com base nessas pautas que o script joga uma série de possibilidades para o espectador refletir sobre casos similares. O entrelaçamento dos fatos com delírios, pesadelos e dramas de Sully deixam a trama ainda mais emocionante, uma vez que acompanhamos a perspectiva do protagonista de perto e vemos um lado mais pungente.

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O drama vivido por Sully também só funciona graças ao excelente trabalho de Tom Hanks, que simplesmente dá o seu melhor na interpretação de um homem com inúmeras dúvidas e que talvez tenha colocado tudo a perder ao arriscar tanto. A face de alguém em estado de choque, a insegurança em alguns momentos, a certeza em determinadas situações.

Hanks foi a escolha perfeita e novamente nos surpreende do começo ao fim. E o complemento de Aaron Eckhart na cabine deixa tudo ainda mais intrigante, pois o ator também se mostra extremamente cauteloso ao complementar os diálogos e dividir a carga de drama com o protagonista. Uma ótima dupla, que leva a plateia por uma verdadeira montanha-russa de emoções.

Tensão nas alturas

Em muitos momentos, Clint Eastwood nos leva para um lado mais sensível do acidente, mas há outra abordagem, bem mais estressante, recheada de aflição, que faz o coração bater no ritmo do perigo. Quando somos levados para dentro da cabine do capitão e recebemos o choque de realidade, a experiência cinematográfica muda completamente de figura.

As cenas internas no avião são muito reais e deixam o espectador muito apreensivo. O filme não precisa sequer se apoiar em trilha sonora. A música aqui é o pânico que sai de poucas palavras pronunciadas no microfone do avião. Quando a plateia ouve os recados nos alto-falantes logo acima das poltronas, não há nada mais que garanta a tranquilidade.

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Em uma sequência de quase dez minutos, Eastwood nos leva a compreender um pouco do medo, da nossa insignificância diante de eventos incontroláveis, de como tudo pode perder o sentido com uma facilidade indescritível. Ainda que sejam imagens num filme, quando experimentado no IMAX, as cenas internas do acidente são chocantes e tensas ao extremo!

Sully: O Herói do Rio Hudson” é um filme ousado, pesado, complicado, impactante, inacreditável. Definitivamente, é uma amostra de como o cinema pode mexer com a gente, ainda mais com eventos recorrentes e toda a amplitude da tragédia. Não é um filme para muitos, porém é uma ótima pedida para quem busca um choque de realidade e tensão.

Fonte das imagens: Divulgação/Warner Bros. Pictures

Sully: O Herói do Rio Hudson

O drama e as dúvidas após um milagre

Diretor: Clint Eastwood
Duração: 96 min
Estreia: 15 / dez / 2016