Crítica do filme Tinnitus
Drama angustiante com zumbido irritante
Tinnitus: zumbido constante no ouvido. Esta é uma definição rasa de uma condição que afeta a audição de milhões de pessoas, mas que, até o momento, não tem uma cura. Se você nunca ouviu falar em Tinnitus, há grandes chances que você nunca tenha tido o desprazer de sofrer com este tipo de situação incomoda. Sorte a sua!
Contudo, este não é o caso de Marina Lenk, protagonista de “Tinnitus”. Ela é uma experiente atleta de saltos ornamentais e que, num certo dia, despencou da plataforma ao ter uma crise súbita de Tinnitus. Afastada do esporte, ela agora trabalha num aquário e tenta lidar com sua condição no dia a dia, mas será que há uma forma de se amenizar esse zumbido insuportável?
Com a ajuda de seu marido, que trabalha como médico na área, bem como ao participar de um grupo de pessoas com a mesma condição, Marina tenta achar um novo rumo em sua vida, ao mesmo tempo que ressente sua mudança súbita de carreira e amarga uma inimizade com a antiga colega de saltos ornamentais.
Apesar de tratar de um terror psicológico pessoal, “Tinnitus” não é guiado para este lado do horror. Temos aqui um filme bem dramático, com alguns trechos misteriosos e talvez uma conclusão mais ousada, porém grande parte do filme foca em nos manter na cabeça de Marina, numa experiência angustiante e, por vezes, em um rumo entediante.
Tinnitus vale a pena?
Apesar da proposta bem fundamentada e da qualidade técnica na execução, “Tinnitus” é um filme que tropeça em seu próprio roteiro ao tentar englobar os vários dramas da protagonista. Muitas cenas de reflexão pessoal da personagem impressionam pela mescla entre o abstrato com uma arte criativa e a experiência terrível do zumbido, mas a falta de um fio condutor mais coerente deixa o filme confuso e maçante.
A sétima arte dá palco para todo tipo de gênero, ideia e experiência, mas é inevitável que obras mais provocativas tenham um desafio: convencer a plateia de que a ideia proposta é relevante. Este é justamente o caso de “Tinnitus”, um filme com um tema pertinente e pouco explorado, abordado de uma perspectiva já comum: um drama psicológico atravessado por várias frentes.
Nesse sentido, o erro é tentar abraçar o mundo. É compreensível que a construção de uma personagem mais humana com várias questões para lidar em sua vida traga muitos desdobramentos, mas como se já não bastasse os problemas psicológicos, o roteiro forçar as situações de inimizade e com pouco contexto deixa a narrativa bagunçada.
Apesar da trama divagar, vale os elogios para o elenco extremamente competente que entrega atuações corajosas e coreografias muito realistas. Ouso dizer que o filme só se sustenta realmente por conta das boas interpretações. Curiosamente, o roteiro tenta usar diálogos um pouco artificiais, mas as atrizes conseguem compensar esse desentrosamento.
Todavia, tirando isso, ainda há questões delicadas: como abordar uma condição como Tinnitus? E qual a melhor forma de demonstrar a angústia vivenciada por Marina? Oras, se estamos falando de uma obra audiovisual, o recurso sonoro acaba sendo a via perfeita para sugestionar a experiência terrível de conviver com um zumbido no ouvido o dia todo.
Uma tática excelente para a construção narrativa, mas péssima para o espectador que passa mais de uma hora frente à tela sentindo nos ouvidos um incomodo sem fim. Certamente, é uma proposta ousada, já que os idealizadores do projeto sabiam da dificuldade em abusar desse tipo de recurso. Não deu outra, o filme é cansativo e irritante.
Assim, se por um lado, há grandes acertos nos delírios decorrentes do Tinnitus, com cenas artísticas realmente impactantes, temos um volume excessivo de cenas reflexivas e embaladas por essa sinfonia de zumbidos incessantes. Mesmo não sendo um filme extremamente longo, o resultado é exaustivo para o espectador.
O clímax nos 45 do segundo tempo é fruto dessa construção narrativa cumulativa, que culmina sim em medidas exacerbantes, mas a que custo? Aqui fica aquela velha dúvida: os fins justificam os meios? Eu realmente tenho minhas dúvidas, pois mesmo sendo um filme poderoso, ele acaba sendo um ponto muito fora da curva e é difícil apreciar algo tão diferente. Moral da história: se você gosta de um filme provocativo, “Tinnitus” pode ser uma experiência curiosa, mas esteja ciente que pode ser uma sessão longa e pouco conclusiva.