Crítica do filme Tomorrowland
O fim do mundo é uma questão de perspectiva
É inegável a genialidade de Walt Disney. Cineasta, animador, roteirista, dublador, inventor, idealista e sonhador. Um currículo gigantesco, assim como a vontade de criar um mundo perfeito, no qual todos se uniriam em prol do bem maior. Essa concepção foi traduzida na atração Tomorrowland, dentro de seu próprio parque, o Walt Disney World.
Muitos anos depois, a “terra do amanhã” se transforma em filme pelas mãos do diretor e roteirista Brad Bird, prata da casa que dirigiu desde longas de animação, como Os Incríveis e Ratatouille, até o mais frenético de ação, Missão Impossível: Protocolo Fantasma.
Assim como Piratas do Caribe, a atração Tomorrowland ultrapassou a barreira da realidade e se transformou em um longa-metragem. Assim como o sonho de Walt Disney, Tomorrowland ganhou vida por meio do cinema e trouxe a sua visão de futuro tecnológico utópico ideal para todos nós. Mas será que o progressismo técnico é a resposta?
A história de Tomorrowland gira em torno da personagem Casey Newton (Britt Robertson), uma adolescente otimista e cheia de ideias que curte ciência e adora burlar o sistema. Um dia, a garota é pega pela polícia em uma de suas artes e, quando é solta na delegacia, acaba recebendo junto com seus pertences um broche, chamado de pin, que tem o poder de transportá-la automaticamente para Tomorrowland, uma realidade paralela na qual o mundo avançou tecnologicamente de forma radical, onde todos são felizes como seus aparatos eletrônicos, jetpacks, foguetes e trens bala.
Porém, o poder do pin não tem prazo, e para Casey realmente chegar até a Terra do Amanhã e cumprir uma determinada missão, ela precisará da ajuda de Frank Walker (o gatão George Clooney) e a garotinha Athena (Raffey Cassidy). Juntos, o trio embarca em uma grande aventura, ao melhor estilo Disney, em busca de Tomorrowland.
Além de ser baseado em uma atração do Walt Disney World, o filme feito por Bird e coescrito por Damon Lindelof bebe em várias fontes de inspiração, sejam elas da cultura pop ou grandes momentos e personagens da história. É claramente notável a imensidão do universo Disney neste longa com vários easter-eggs colocados. Em uma loja de antiguidades, nós temos bonecos, cartazes, brinquedos e outros objetos da marca, como o bonequinho do Senhor Incrível, música de Star Wars de fundo, Stormtroopers e um Darth Vader de tamanho real.
Já em sua trama, que além de referenciar o próprio Walt Disney e seu parque em segundo plano, o longa também traz quatro grandes gênios do Século XX como progenitores da Terra do Amanhã. São eles: Nikola Tesla, Thomas Edison, Gustave Eiffel e Júlio Verne. Eles estão presentes na história da mesma forma que suas criações. De Verne, por exemplo, os escritores aproveitaram suas ideias de incríveis máquinas tecnológicas, transportando para o filme um pouco do estilo steampunk e de aventuras fantásticas – daquelas vistas em 20.000 Léguas Submarinas e Volta Ao Mundo em 80 Dias.
Todas essas referências e gêneros – detalhe também para a arquitetura e design Art Déco no começo do longa – enriquecem Tomorrowland, transformando-o em um dos melhores filmes de ficção científica dos últimos tempos. E ainda tem mais.
Nenhuma grande ficção é grande apenas usando grandes efeitos especiais. É por isso que Tomorrowland traz tantas referências e tantos questionamentos. Desde um simples “siga o coelho branco”, da saga de Alice até o país das maravilhas, até a terrível batalha entre os dois lobos que vivem dentro de nós. Tudo está ligado.
Porém, me reservo a dizer que a grande questão desse filme está ligada à percepção e o futuro que queremos para nós mesmos. Temos a percepção de que teremos um futuro nada bom. Guerras nucleares, derretimento das calotas polares, falta de água potável e de alimentos, a rebelião das máquinas, apocalipse zumbi e invasão alien. Pode parecer brincadeira, mais todos pensamos assim de uma forma ou outra, vide todos os filmes e séries que visam o amanhã; temos exemplos recentes como Mad Max, Interstellar, Walking Dead, ou até mesmo o mais cultuado que resume bem isso: Matrix. Sim, o futuro é uma merda e nós estamos, com o perdão da palavra, fodidos.
Torrowland é uma história que trabalha no cerne dessa questão. A criação de um amanhã melhor que vamos deixar para nossos netos nada se vale se não começarmos a revolução por nós mesmo. E para isso, a mudança de nossos conceitos e ideais é totalmente necessária.
Muito mais do que uma história sobre um futuro tecnológico distópico, Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada É Impossível é um filme que precisamos nessas épocas negras e um soco na cara de todos os pessimistas. Por meio da ficção ele te transporta para uma grande aventura com muitos questionamentos e intenções. Porque já temos muitas obras que nos mostram o que está reservado para nós lá na frente, mas até então nenhum tinha mexido com o começo dessa caminhada. Talvez a resposta não esteja no sonho de Walt Disney nem Tomorroland, mas um passeio por essas terras (de jetpack), pode começar a mudar nossas perspectivas do amanhã.
Lembre-se do futuro!