Crítica do filme Amor Fora da Lei
Bonito, mas um pouco vazio
O cinema já retratou inúmeras histórias de amor e, tirando aquelas apresentadas em refilmagens, cada uma tem suas próprias características, detalhes mínimos ou gritantes que as tornam únicas e interessantes. Há romances dos mais variados tipos, o que nos leva a conhecer títulos engraçados, dramáticos e até mesmo com pitadas de suspense e terror.
Em “Amor Fora da Lei”, o espectador acompanha a história de Ruth (Rooney Mara) e Bob (Casey Affleck), um casal criminoso que tenta manter uma relação a distância após uma situação que acaba levando Bob para a cadeia.
Com direção e roteiro de David Lowery (que tem muitos curtas e poucas obras de longa duração em seu currículo), o filme aborda de forma minuciosa o contato dramático entre os protagonistas, exibindo a difícil realidade de um homem ainda apaixonado que quer cumprir sua promessa de voltar para a esposa e conhecer sua filha.
As ideias aqui são boas, principalmente no que diz respeito à parte técnica, mas a prolongação do longa-metragem (talvez um sinal claro da falta de experiência do roteirista) e a falta de assunto leva o espectador ao cansaço. Vamos falar com detalhes sobre alguns pontos e ver ao que o filme nos leva.
Ambientado no Texas dos anos 1970, o filme nos leva a conhecer muitos locais descampados e cenários de uma cidade muito pequena. Os ambientes projetados para a filmagem foram muito bem selecionados e nos levam a mergulhar de cabeça na proposta do longa-metragem.
As casas, a delegacia, os mercados e outros lugares são bem representativos e ideais para o desenvolvimento da história. A sensação é de que estamos realmente no Texas, aquele estado que projetamos em nossas cabeças após ver inúmeros filmes retratando paisagens de épocas passadas.
As imagens da natureza são de tirar o fôlego e apropriadas para mostrar o romance entre os protagonistas. Elas também servem muito bem para as cenas de tiroteio, já que além de dar espaço para a filmagem, evitam a locação de cenários caros.
Particularmente, eu nunca vi nada de David Lowery e não tenho a mínima noção do estilo do cineasta. Todavia, é de se duvidar que ele tenha uma pegada tão parecida com a de Terrence Malick. Algo notável em “Amor Fora da Lei” é justamente o detalhamento nas cenas de afetividade entre Bob e Ruth, algo que acontece de um jeito parecido com o que vemos no filme “Amor Pleno”.
Não só isso. Pelo que pude perceber, a homenagem à Malick é muito clara quando as câmeras encaram diretamente a luminosidade do Sol. Tudo isso fica especialmente bonito quando aliado a trilha sonora que dá o tom de romance, drama e de representação do local em questão (muitas músicas remetem ao clássico ambiente rural, mas a repetição de sons pode cansar o público).
A história de Bob e Ruth tem seu lado cativante e pode prender a atenção, principalmente quando temos uma série de outros personagens agregados ao contexto. O roteiro é bem construído e deixa alguns segredos para o final, o que é excelente. Entretanto, as cenas dos protagonistas não revelam nada de extraordinário. São personagens um pouco vazios, que vivem de amor.
A grande verdade é que a história de “Amor Fora da Lei” poderia ser contada até mesmo em menos de uma hora de projeção. Muitos detalhes introduzidos são desnecessários. Diversas cenas retratam mais do mesmo, cansando o espectador que está querendo descobrir mais detalhes da história. E há algumas divagações que não são cabíveis.
Quanto às atuações, não espere nada grandioso. Casey Affleck é perfeito para um bandido, mas ele não se sai muito bem quando tenta ser muito dramático ou apaixonado. O sotaque do rapaz (a voz parece um pouco de criança, mas isso não importa muito) é bem interessante para um texano, ainda mais que ele fala de forma enrolada.
O policial Patrick Wheeler é parte um tanto fundamental da história e o ator Ben Foster até consegue dar mais vida ao seu personagem do que Affleck, fazendo com que o público tenha mais apego ao rapaz da justiça do que ao bandido (tá, isso é normal, mas talvez seria bom que o mocinho do romance ganhasse a simpatia do público).
Rooney Mara é bonita, e só. Acredito que boa parte da sonolência causada pelo filme seja por causa da superficialidade com que tudo é abordado. Talvez, detalhes mais específicos na história e personagens mais cativantes ajudassem a deixar a obra mais rica. Infelizmente, o filme só é bonito.
“Amor Fora da Lei” estreia nesta quinta-feira, 10 de julho.