Crítica do filme Livrai-nos do Mal
Mais susto do que medo
Já é um clichê “reclamar” de filmes de terror que abusam dos cortes, da trilha sonora e dos aparecimentos repentinos de seres na tela para arrancar suspiros de seus espectadores. Provavelmente, a maioria dos filmes de terror que você tem visto ultimamente carregam essa características, abusando de recursos específicos e pontuais em vez de criar um verdadeiro clima de suspense e terror no qual você se sente imerso.
Como era de se esperar, “Livrai-nos do Mal” não é uma exceção a essa regra e, apesar de apresentar bons recursos técnicos, não chega a ser empolgante, sem dúvida não é um daqueles filmes de terror que vale a pena ter na sua prateleira para ver de vez em quando.
Na história, o diretor Scott Derrickson ("O Exorcismo de Emily Rose") volta a tratar do tema de expulsão de demônios de corpos que não lhes pertencem. “Livrai-nos do Mal” é baseado em fatos reais e mostra a cruzada de Ralph Sarchie (Eric Bana), um sargento da polícia de Nova York, para solucionar crimes misteriosos envolvendo violência doméstica e que, a princípio, parecem desconexos um do outro.
Conforme a trama se desenrola, Sarchie e seu parceiro Butler (Joel McHale) conhecem o padre pouco convencional Mendoza (Edgar Ramírez) e descobrem que o problema vai ainda mais longe, mais especificamente à região da Mesopotâmia, atualmente conhecida como Iraque, onde o domínio dos romanos sobre os persas gerou bem mais do que uma mescla forçada de culturas.
Enfim, quando tudo fica claro, o filme se transforma numa espécie de libelo contra a falta de fé, no caso do sargento Sarchie, que deve buscar uma “minirredenção” diante de Deus para poder enfrentar de coração leve o demônio que tenta se manter na Terra. Nesse ponto, a história de “Livrai-nos do Mal” também esbarra em um ponto bastante convencional nesse tipo de filme, de como a fé seria capaz de exaltar o lado bom de alguém, especialmente em lutas contra entidades malígnas.
Um fato curioso em “Livrai-nos do Mal” é que o demônio em questão não inutiliza o corpo de seu possuído, muito pelo contrário. O primeiro dos possuídos é uma espécie de “pastor” na trama, trazendo novos sujeitos de mente fraca para o lado do Mal, mas, quando precisa, ele sabe se virar na troca de socos, briga com armas brancas ou o que for. Isso dá um toque de originalidade à trama (isso, é claro, no caso de você nunca ter lido ou visto algo sobre John Constatine).
Nesse sentido — de colocar um pouco de ação em gênero no qual isso é pouco convencional — a obra de Derrickson também frustra um pouco. O padre Mendoza aparece dando toda a pinta de ser bom de briga, e algumas cenas até criam a expectativa de que ele vá tentar resolver alguma treta com a entidade malígna no braço, mas isso nunca acontece. Assim sendo, a sequência de cenas que apresentam o religioso ao público acabam ficando um tanto quanto sem nexo em relação ao restante da trama.
O filme pareceu um pouco extenso (são quase 2h de exibição), arrastando cenas assustadores de forma previsível, como brinquedos se mexendo, luzes se apagando e crianças apavoradas. Essa combinação dá a “Livrai-nos do Mal” um ar de exagero, como se a trama ficasse um pouco em segundo plano apenas para carregar nas cenas de susto e reafirmar que aquilo é, sim, uma obra de terror.
Confesso que me empolguei mais com “O Exorcismo de Emily Rose”, o primeiro filme de Scott Derrickson, e que esperava um pouco mais de “Livrai-nos do Mal”. O filme é bem feito, tem boas atuações e até mesmo uma trama interessante, mas não consegue passar perto do impacto causado pela estreia do diretor.