Crítica do filme O Homem Mais Procurado
Para tornar o mundo um lugar melhor
"O Homem Mais Procurado" (A Most Wanted Man, 2014), do diretor Anton Corbijn traz o último trabalho para o cinema finalizado do ator Philip Seymour Hoffman, vencedor do Oscar por "Capote".
Esse thriller foi adaptado do romance homônimo de John Le Carré, e acompanha a trajetória de Issa Karpov (Grigoriy Dobrygin), meio russo, meio checheno, um devotado muçulmano que entra clandestinamente em Hamburgo, a cidade que após o 11 de setembro de 2001 supostamente abrigou alguns dos responsáveis pelo atentado.
Sua chegada, no entanto, atrai a atenção de agências internacionais e serviços de segurança da Alemanha e dos Estados Unidos.
Através de uma família muçulmana local, Karpov contrata uma advogada de imigração, Annabel Richter (Rachel McAdams), e ela o coloca em contato com Tommy Brue (Willem Dafoe), um banqueiro, cujo pai lavava dinheiro para o pai de Karpov.
Karpov se identifica com sua herança chechena materna e não quer o dinheiro de seu pai, pois considera esse dinheiro impuro. A equipe de Bachmann convence Brue e Richter a fazer Karpov doar os fundos para a organização de Abdullah, acreditando que irá redirecionar alguns fundos para uma empresa de transporte que é uma fachada para a Al-Qaeda.
A história é desenvolvida de uma forma muito intrigante, obrigando o expectador notar os detalhes do caso para poder acompanhá-lo e tentar prever os próximos passos na cadeia de eventos. Acontece que os detalhes são colocados aos poucos, com calma e muito tempo de espera. O filme é longo e enrolado, colocando o expectador na pele de um verdadeiro espião. Paciência, negociações, planejamento são as chaves para chegar até o objetivo final.
Günther Bachmann (Philip Seymour Hoffman) não é o personagem do título, mas sem dúvida é quem mais aparece e faz a trama se desenvolver, e por mais que pareça contraditório, o torna um dos homens mais requisitados.
Apesar de se parecer com um panda de ressaca, ele é um agente de espionagem alemão solitário, extremamente inteligente e paciente, trabalhando apenas pra fazer o mundo um lugar melhor, segundo suas próprias palavras.
Falando nisso, Hoffman desenvolveu um sotaque inglês-alemão para o papel, tornando o personagem ainda mais convincente e superando algumas manias do ator. E cigarros, muitos cigarros! Em 95% das cenas Günther está fumando, chega a ser sufocante! Esse papel foi uma ótima despedida do ator, fazendo jus a sua carreira de uma forma memorável.
Vale notar também a excelente atuação de Grigoriy Dobrygin, que mantêm suas reais convicções totalmente escondidas até o final, e Rachel McAdams, que além de ser linda, surpreende pela variedade de emoções demonstradas, sabendo dosar exatamente o que mostrar na hora certa. Já o sempre excelente Willem Dafoe não se destaca em nenhum momento, sendo apenas uma figura ilustre que aparece ocasionalmente.
O filme é absurdamente angustiante, não deixando de lado as questões morais sobre quem são os responsáveis pelos atentados, além de diversas questões que vão abraçar sua consciência. Todas as cenas são muito bem pensadas, direcionando seu olhar para o personagem e passando aquela sensação de "o que ele vai fazer?". A trilha sonora acompanha esse ritmo, mas de forma sutil e poética. Para os fãs do estilo, é uma excelente obra!